Tuesday, January 18, 2011

Histórias que quase se perdem: a saga de um Joselito no Planeta Atlântida...

Há 14 anos acontecia a primeira edição do Planeta Atlântida. Há 14 anos eu tinha 19 anos e pouco. Eu consertava televisores na Eletrônica Owada, usava cabelo comprido, tinha espinhas no rosto e acreditava no Sistema. Assim, economizei parte do meu salário de 215 reais e comprei os ingressos para os dois dias de shows. Poderia ver pela primeira vez uma apresentação ao vivo de Titãs, Rita Lee, e do argentino Charly García.

Ainda em casa, em Porto Alegre, fiz minha mochila. Eram dois dias de shows numa espécie de sítio. Na época não havia internet, e nenhum dos meus poucos amigos iriam. Imaginei, ingenuamente, que haveria um lugar para tomar banho e dormir. Algo como umas barraquinhas, com colchões macios e lençóis branquinhos, tudo incluído no valor do ingresso. Afinal, o público passaria dois dias lá dentro.

Então, voltando à mochila: roupas para os dois dias, toalha, shampoo, sabonete, desodorante. O suficiente para deixá-la quase no ponto de não ser possível fechar. Me despedi dos meus pais e fui pra Rodoviária. Peguei o ônibus pra Atlântida e cheguei por volta das 13h. Os shows iniciariam às 17h. Caminhei da Paraguassú até a Sede Campestre da SABA e retirei os ingressos. Depois voltei até a Paraguassú pra comer alguma coisa. Por volta das 15h tomei o rumo definitivo. O calor era infernal, e a mochila muito pesada. De repente comecei a sentir um molhado estranho nas costas, um pouco mais frio que o suor. Parei, abri a mochila e vi que o tubo do shampoo tinha estourado. As roupas que ficaram mais embaixo estavam completamente melecadas. Enquanto tentava salvar alguma coisa via a multidão se dirigindo e eu ficando pra trás.

Alguns minutos ali e dois guris me perguntaram se tava tudo bem, se eu queria uma ajuda. Falei que estava tudo bem, que era só o shampoo. Eles se solidarizaram e disseram que iriam me esperar. Achei muito gentil da parte deles. Ajeitei o que deu e nos dirigimos à entrada. A fila era enorme. Nos amontoamos no bolo e entramos. A maioria passava sem ser revistado, mas os dois ficaram. Eles também tinham mochila, e tiveram que esvaziá-las diante dos seguranças. A minha ninguém quis ver. Assim que passamos a revista fomos até o quisque de um amigo deles na praça de alimentação e deixamos as mochilas com ele. Inclusive a minha. Então os dois começaram a fungar e dizer: tá pra cá, tá pra cá. Buscavam o cheiro de machonha. Fiquei um pouco assustado, mas segui com eles. Em pouco tempo acharam um cara que tava vendendo, e num próximo momento já estavam fumando. Me ofereceram e não parecem ter se ofendido por eu não aceitar. Tampouco insistiram. Passado um tempo, me vi literalmente numa roda de maconheiros. Algo como umas vinte e poucas pessoas. Definitivamente aquele não era o meu lugar nem a ideia que eu fizera do evento. Disse a um deles que eu iria pegar minha mochila. Não contestaram.

De posse da minha mochila, me senti bem mais aliviado. Bebi umas caipirinhas e curti os shows. Desde o momento que eu entrei, não vi nada que se assemelhasse com uma área para dormir ou tomar banho. Nem um guarda-volumes. Naquele momento me caiu a ficha de que eu não teria onde dormir. Azar. Segui curtindo os shows. Muito rock em volume alto e caipirinha. Liberdade!

Por volta das seis da manha começaram a "orientar" a saída. E eu sem ter pra onde ir. Fui saindo, cabisbaixo. Até que vi um amigo dos tempos da igreja. Era uma luz. Estava num grupo de dez, doze. Me perguntaram onde eu iria ficar e quando disse que não estava em lugar algum, me convidaram a seguir com eles. Mas eles estavam em uma casa em Capão, a uma breve caminhada de meia hora, depois de tantas horas em pé ou pulando. Lá fui eu. Eu e a minha mochila com toalha e shampoo... Antes de irmos pra tal casa, acompanhamos dois que iriam pegar um ônibus na Rodoviária. Eu quase não aguentava de sono. Então veio o pior: assim que embarcaram, meu amigo disse que falou com o dono da casa e que só teria lugar pra 9. Enquanto ele falava contei com os olhos e vi que eu seria o décimo. Tentei argumentar que qualquer cantinho servia, mas "infelizmente não seria possível".

Dei meia volta e caminhei mais lentamente e cabisbaixo de volta à Paraguassú, agora em Capão. Pensava por que me fizeram acompanhá-los até lá. Assim que cheguei na avenida, o tempo fechou e desabou a chuva. Corri pro pátio de uma casa, e já sem forças de permanecer acordado, dormi sentado na área. Algum tempo depois vi que tinham acendido uma luz, e como a chuva dera uma trégua, saí. Em seguida voltou a chover e entrei no pátio de outra casa. Assim fui, dormindo, andando e fugindo da chuva até voltar a Atlântida. Por fim dormi em frente a uma padaria, onde eu tomaria café.

Às dez da manhã começou a chegar o pessoal pro segundo dia de shows. Agora era a fome, e a padaria só abriria ao meio-dia. Nisso fiz amizade com três caras que vinham de Lajeado. Ficamos ali batendo papo até a padaria abrir e rachamos um frango assado. Depois esperamos o tempo passar até a hora de abrir a Sede Campestre e nos dirigimos até lá. Durante a conversa percebi que nenhum dos três era compatível com a parceria que eu esperava, e muito chatos. Então, assim que passamos a revista, os abandonei.

Curti novamente umas caipirinhas e os shows, sozinho. Quebrava-se um pouco a casca da ingenuidade percebendo que era melhor permanecer fechado e tranquilo do que rodeado de propósitos incompatíveis.

Thursday, January 13, 2011

Tá acabando...

Assim que vi essas fotos de Chernobyl fui atingido novamente por um duro golpe de realidade sobre a fragilidade a que estamos submetidos por conta de nós mesmos.


As notícias que tratam de grandes comunidades, desde as que parecem menos relevantes como a falta de coleta de lixo em Porto Alegre como as de maior repercussão nacional, como as enchentes do Sudeste apontam todas para uma mesma causa: a ação inconsequente do homem. A Prefeitura de Porto Alegre diz recolher cerca de dez caminhões de lixo por dia do Arroio Dilúvio. Nesse montante são contabilizados 50 pneus diariamente.

Nas enchentes podemos entender o alto volume de chuva concentrado em um pequeno período como uma causa natural. Ou seria uma consequência do aquecimento global? Mas o mais óbvio, que divide a culpa do Governo é sempre o mesmo: ocupação indevida de áreas próximas a rios, canalização de arroios, etc.

Mas existe um serviço de coleta de lixo em Porto Alegre. E existe também um órgão que fiscaliza a urbanização das cidades. Nunca vi lixo hospitalar sendo jogado no dilúvio. Tampouco alguém se aventurar a construir um lindíssimo hotel de luxo com todos os apartamentos com vista para a Praia do Rosa. Não pode! Alguém vai lá impedir, multar. Então faltam pessoas nesses órgãos para fiscalizar mais. Faltam postos de coleta seletiva de pneus, por exemplo. Faltam lixeiras. Falta dinheiro pra tudo isso? Falta dinheiro pra empregar mais gente ou pagar melhor as pessoas que trabalham nessas áreas? Os lixeiros agora estão em greve. Deve faltar.

Só não falta para o aumento dos deputados federais, dos estaduais, dos vereadores e, agora, dos cargos em comissão. R$5 mil virou salário de fome na carreira política.

Não tenho como não ver o cenário como uma grande corrida sem rumo e uma bomba prestes a explodir. Enquanto isso não acontece tenta-se fazer o maior estoque possível de tudo: o maior salário, de preferência em cargo público, quando se pode sugerir e aprovar os próprios aumentos, a lei da vantagem onde puder sr aplicada, e o descarte de tudo o que não tiver mais uso, tão longe quanto não atrapalhe, tão perto quanto menor for o gasto e o tempo de deslocamento.

Monday, January 03, 2011

Começou!

O ano começa com boas perspectivas. Passamos a virada em Imara, novamente, com a família da Alice: acepipes de primeira regados a bebidas borbulhantes sustentaram risadas e resoluções para o ano que se inicia. Desejos de muita saúde, que precisamos todos, e estratégias para cumprir os tantos quilômetros que o mundo nos reserva.


A Galinha da Bela Vista

No domingo, 2, fomos ver se a galinha ainda estava lá na praça. Num primeiro momento chegamos a pensar que a tivessem levado. Resolvemos então dar uma boa circulada pela praça e a encontramos na parte alta. Uma espécie de espaço de convivência para sabiás e pombinhas rolas, onde os vizinhos depositam meias bananas e mamões que fazem a alegria do passaredo. Ali a galinha survivor se achou, ora bebericando uma água dos potes de barro, ora catando uma minhoca fresca da terra.

Acho que está na hora de darmos um nome a ela.

Minhas fotos no