Restando menos de duas semanas, o inglês, até então indecifrável, parece soar tão bem, e com tantas palavras e expressões de assimilação aceitáveis. Com certeza vai ser difícil, mas nada que caneta e papel, gestos e uma boa dose de paciência não resolvam. O que importa é que depois de todos esses meses em função, emails, orçamentos, telefonemas, visitas, escolhas, decisões, teremos selado um dos dias mais felizes para nós dois, e vamos ter muito do que rir na Cidade Luz.
“Ela é doente, né?”
Gosto de analisar diálogos alheios, de saber o ponto de vista de outras pessoas a respeito de assuntos comuns. Na quinta passada saí da Puc por volta das seis da tarde desesperado para chegar ao centro, encontrar a Alice e ir para o jogo do Inter. Todos sabiam que seria tarefa das mais ingratas vencer o Nacional por 3 a 0, mas nós estaríamos lá fazendo a nossa parte.
- Táxi!
- Vai pro campo?
- Não. Pro centro.
- Achei que fosse pro campo. Tá brabo de chegar lá.
- Não. Ainda vou encontrar minha noiva. Depois vamos pra lá.
- O quê!? Vocês ainda vão pra lá? Mas que horas são?
- Seis e dez.
- Ah não vai dar tempo!
- Vai sim. E se não der não tem problema.
- E tu vai levá ela no jogo?
- Vou. Ela vai a todos os jogos comigo.
- Meu Deus!
- Ela é doente também?
- É.
- Barbaridade! E essa tua camisa hein? Bonita né?
- É, é bonita sim. Ela me deu de Natal.
- É mesmo é? Eu quero dar uma pro meu guri. Bonita essa tua!
- Obrigado!
- Eu já fui doente pelo Inter, sabe?
- Hum..
- É. Doente mesmo. Já era homem grande, casado, dois filhos e lá: encolhido num cantinho ouvindo o jogo no radinho. Aí se o Inter perdia corria aquela lágrima aqui ó.– e apontava com o dedo -. Mas não vai pensar que eu sou chorão. Eu chorava sim, mas não deixava ninguém ver, viu!?
- Entendo.
- E assim ó: o cara cresce e começa a dar valor pra outras coisas, família, casa, filho,... um dia tu vai pensar que nem eu, tu vai ver, aí quer saber? O Inter que vá tomar no piiiiiiii!!!! Que Inter o quê! Vou dar o meu dinheiro praqueles mercenários? Nem pensar! Pego 50 pila e faço uma churrascada, bebedeira, sabe?
- Sei...
- Por que tu não faz assim: liga pra ela e fala: “Meu amor, vamos pra casa hoje. A gente vê o jogo na televisão comendo alguma coisinha...”
- Não cara. A gente não vê problema em ir no jogo. Ela se associou justamente pra poder ir.
- Mas vocês não vão chegar a tempo.
- Não tem problema.
- É.. ela é doente né? Então não adianta.
- ...
- Eu fiz uma casinha pra mim.
- Hum.
- É. Um sobrado que nem esse aí ó. E o cara gasta, sabe?
- Ah gasta!
- Quer dizer... gasta, mas é a tua casa né?
- Claro, vale a pena. O que incomoda às vezes é o pedreiro né?
- É isso mesmo! Eu consegui um cara que fez um preço bom: 25 pila por dia.
- Hum.
- Só que o desgraçado era um bêbado!
- Bah!
- É. Aí na segunda não ia porque tava bêbado. Na terça só ia de tarde. E tava meio mal ainda. Aí na quarta engrenava. Trabalhava quarta, quinta e sexta. Aí sábado e domingo não trabalhava, ia beber!
- É.. um dia ele tinha que descansar.
- Bêbado desgraçado! Aí pra parte de cima eu contratei outro cara. Ele, um parceiro e dois guri de ajudante.
- Aí rendeu?
- Bah, fizeram em duas semanas! Que trabalho bom!
- Tu vê.
- E eu lá.. entregando dinheiro pro bêbado desgraçado!
- Tá tudo trancado mesmo né?
- Tu viu só?
- Mas não tem problema, vamos lá. E o teu guri?
- Que que tem?
- Ele não vê o jogo?
- Não vê? Que nada.. vai a tudo que é jogo! Eu associei ele.
Tuesday, April 24, 2007
Monday, April 09, 2007
Tudo é uma oportunidade...
Um dia eu queria aprender a lidar com as oportunidades diárias. Vejo cada fato como uma oportunidade, não apenas aquilo que se apresenta como favorável. Muitas vezes temos a grande chance de fazer o que se considera como nada mais que o dever, e que se não feito, é capaz de arruinar um bem estar. Vivemos cercados dessas oportunidades ocultas, e o cumprimento de boa parte delas – ainda que seja um ato automático – nos diferencia do sujeito comum.
A justiça se dá por tornar possível o “nada mais que o dever” em sucesso, mas este cabe ao detentor da arte do tratamento. Uma pessoa visivelmente com sede pode ser tratada com indiferença. Talvez peça água. Pode-se, também, oferecer-lhe algo para beber. Ou ainda, sem perguntar, trazer-lhe a água gelada num copo bonito. A arte está em saber lidar com as variáveis em questão. Uma pessoa com muita sede não quer saber de copo bonito, apenas que se traga a água o mais breve possível. O simples e objetivo costuma ser mais eficaz do que a demora do ornamento.
A sentença de cada ato é categórica e, às vezes, um tanto quanto dura, por mais que não seja proferida. E o somatório dessas sentenças constitui a forma com que lidamos com as oportunidades, ocultas ou não, e que promove e mantém o bem estar. Temos uma tendência de não olhar pelo ponto de vista alheio e esquecemos que – dependendo da importância que tem para nós, não só o olhar, mas todos os sentidos – o bem estar é o bem maior, e pode sim, ser sempre maravilhoso.
A justiça se dá por tornar possível o “nada mais que o dever” em sucesso, mas este cabe ao detentor da arte do tratamento. Uma pessoa visivelmente com sede pode ser tratada com indiferença. Talvez peça água. Pode-se, também, oferecer-lhe algo para beber. Ou ainda, sem perguntar, trazer-lhe a água gelada num copo bonito. A arte está em saber lidar com as variáveis em questão. Uma pessoa com muita sede não quer saber de copo bonito, apenas que se traga a água o mais breve possível. O simples e objetivo costuma ser mais eficaz do que a demora do ornamento.
A sentença de cada ato é categórica e, às vezes, um tanto quanto dura, por mais que não seja proferida. E o somatório dessas sentenças constitui a forma com que lidamos com as oportunidades, ocultas ou não, e que promove e mantém o bem estar. Temos uma tendência de não olhar pelo ponto de vista alheio e esquecemos que – dependendo da importância que tem para nós, não só o olhar, mas todos os sentidos – o bem estar é o bem maior, e pode sim, ser sempre maravilhoso.
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