Monday, January 30, 2006

Momento impagável...

Tava tomando uma Bohemia no Paradouro Nacional, em Atlântida, quando cheguei à conclusão de que não posso viver sem óculos de sol. O meu Ray-Ban quebrou e o Mormaii de 10 pila que eu comprei em Atlântida Sul, esqueci em Porto. Vi passando uma tiazinha com aquele monte de óculos cravados num isopor.

Levantei o braço e chamei a tia.

- Oi, é tudo o mesmo preço ou varia?
- Varia, moço.. esses aqui são 10, esses aqui 15 e esse daqui 25.. ele é especial.
- Hum.. sei. Esse daqui é 10?
- É, esse daí é 10.
- Legal esse daqui.
- É, é muito bonito.. tem saído bastante desse – sempre o mesmo papo..
- A senhora tem um espelho?
- Ah, desculpa.. tá aqui ó.
- Gostei, vou ficar com ele. Quer um gole? – ofereci o copo da cerveja enquanto eu pegava o dinheiro.
- Ah eu quero um golinho. – tomou com gosto aquele gole.
- Tá bem geladinha né?
- Tá, bem gelada..
- É Bohemia.
- Hum.. não conhecia. Muito boa.
- Pode tomar mais.. – servi mais no copo.
- Ah, obrigado seu moço, vou aceitar.
- Não precisa me chamar de “seu”, meu nome é Raul.
- Ah tá, o meu é Sandra. Tu és de Porto Alegre?
- Sou sim, e a senhora?
- Eu moro lá também, mas sou dE Bagé.
- Ah legal.. terra de gaudério mesmo.

E assim fomos passando o tempo. Ela falando das vendas, da filha, do patrão, do calor, enfim.. um monte de assuntos que deve ter acumulado por passar o dia inteiro perambulando na orla com aqueles óculos. Fui um bom ouvinte, creio eu. Até que ela se soltou mais e disse que gostava de ir a bailões no centro. Conversamos mais um pouquinho e ela enfim se foi. Saiu dizendo:

- Brigado, moço! Muito boa essa Booo.. Bohemia né?
- É. Tchau.. sucesso nas vendas!
- Brigado, moço!

A cerveja desceu até melhor depois daquela prosa e dos óculos. Uma semana sozinho nos faz ficar mais receptivos a essas pessoas que geralmente não conversamos.

Volto a Porto um pouco corado do sol, renovado pela paisagem da sacada do hotel e pelo incessante barulho do mar, convicto de que seria interessante passar umas duas semanas a fio numa praia – não a trabalho – eu ia ficar tri perdido se fosse morar em outra cidade, com muita saudade, e um pouco mais calejado...

Thursday, January 26, 2006

Quem precisa de férias???

Estava eu lá, bem quieto no meu canto quando o Seu Velasco, o nosso chefe, entrou na sala. Passei a vista legeiramente sobre os aplicativos pra ver se não tinha nada “não profissional” aberto. Ainda bem que a maioria dos contatos ativos do msn estavam “em horário de almoço”.

Depois pensei.. “bah, ele vai reclamar do celular, ou do horário..” Eu sempre acho que chefe só vem falar com a gente pra detonar. Isso que nunca tive problemas com chefes, sempre foram muito profissionais.

Pois bem..

- Raul, tudo bem, cara? – Ele sempre fala o nome e pergunta se está tudo bem. Pode falar 15 vezes contigo que vai sempre perguntar.
- Tudo bem..
- Cara, como é que tu tá pra semana que vem?
- Como assim? Tô aí..
- É que o pessoal tá de férias, outro tá de curso.. e eu queria ver se tu podia ficar no litoral semana que vem.

Nisso brotou uma nuvem de idéia na minha cabeça: hotel legal, café da manhã, cama arrumada todos os dias, praia, trampo até às 17h, sol até às 20h, biquínis...

- Bah, sem problema!
- É mesmo, posso avisar ao pessoal que tu vai ficar lá então?
- Pode sim, claro!

Tratei de fazer a reserva no hotel que o meu colega tinha dito que era legal. E é!

Um hotelzão, na beira da praia. A sacada do meu quarto fica de frente pro mar. Quase dentro do mar, dá pra dizer. A piscina é pouca coisa maior que a minha casa. E assim eu tô instalado. Ruim né?

Pois é, mas nem tudo é tão bom assim. O café é bem sortido, mas não é o bicho. Tem aqueles presuntos falsificados sabem? Apresuntado, acho que é o nome. Mas e quem quer saber de presunto?

O mais legal de tudo é ficar torpedeando a galera que tá trampando na cidade. Hahahahaha ontem de manhã mandei uma assim: “Que saco.. esqueci a porta da sacada aberta. Às 7h a claridade do sol nascendo e o barulho do mar não me deixaram mais dormir..” Mas que baita sacanagem!!!

Já falei que eu leio tudo? Sim, desde bula de remédio até rótulo de pepino em conserva. Adoro mesmo são os cartazes e placas escritos à mão. Sempre tem uns erros engraçados. Aí entrei no elevador e me deparei com um assim:

“Garagem coberta.
Monitorizada 24hrs.
Informações na lojinha.
Com cimone ou bigode.”

Monitorizada? Fala sério! Monitorada seria tão mais simples. O “hrs” passa.. embora apenas um “h” resolvesse. Mas o cimone com “c” e “bigode!” hahahhahahahahhahahahahahahahha

Tem um outro porém que nada me tira da cabeça que é uma conspiração contra a minha pessoa. Pra entrar no salão do café tem que apresentar um tiquetezinho que a gente ganha quando dá entrada no hotel. Um tiquetezinho azul. “Vale 1 café”, tá escrito. Aí eu desço todos os dias até o salão e me dou conta que não peguei o tal ticket. Todos os dias!

Assim vou me divertindo, como presunto falsificado, o cartaz da cimone e do bogode e o ticket azul do café.

Abração a todos e até semana que vem, devidamente bronzeado.

Monday, January 23, 2006

Curva da Morte...

Gostamos muito de classificar as coisas. Só que às vezes faltam palavras pra definir certas coisas. Participar do Curva da Morte é uma delas. Podemos classificar os bons momentos da nossa vida como simplesmente bons, ótimos, maravilhosos, mágicos e os melhores momentos. O Curva é, certamente, um desses melhores momentos.

O Curva é um evento que acontece duas vezes por ano em Teutônia, uma cidade que fica a uns 100km daqui. Quem organiza são uns amigos do Décio, inclusive um ex-chefe dele, o Metz, figura impagável.

O lugar também merece um destaque especial: um barzinho desses de beira de estrada, com mesas e bancos compridos de madeira, tudo muito rústico e simples. Simples, uma boa palavra pra definir o lugar e as pessoas que participam. A família que cuida do bar é uma alemoada.. os cabelos parecem barba de milho, e falam em alemão entre eles.

O propósito do Curva é uma reunião de amigos para uma noite de rock n’ roll. Assim, com sobrenome mesmo. Embora a afinidade entre o pessoal seja muito grande, é cada um de uma cidade. Uns de Teutônia mesmo, outros de Lajeado, Estrela, e outras cidades da volta.

Enquanto o pessoal do bar prepara a janta os guris montam a banda num palco improvisado. Legal ver o olhar atento da gringaiada pros instrumentos.. guitarra, amplificadores, bateria.. depois de tudo montado, a janta...

A janta é outra coisa bem difícil de definir. Tudo é muito bom.. massa caseira bem amarelinha, galinha caipira, maionese feita com os ovos dessa galinha, as saladas bem novinhas, uma costelinha de porco sem explicação, troço de louco.

Enquanto nos deliciávamos com aquelas maravilhas um tiozinho dava uma canja num acordeon. Foi o único momento que se fugiu o rock. Mas muito bom. Depois rolou só rock mesmo. Só clássico, um melhor que o outro, até quase de manhã.

E nesse evento espetacular cada um que está ali foi escolhido a dedo. Talvez muita gente não tenha entendido quando eu falei que em vez de ir pra praia. Tinha o aniversário da Ro no Cozumel e o aniversário da minha maninha em Torres. Mas o Curva é o Curva, e eu espero sempre poder participar daquilo.

Impagável!

Valeu, grande amigo Décio!

Thursday, January 19, 2006

As malditas cangas...

Não bastasse aquela mania ridícula de amarrar moleton na cintura no inverno, agora as gurias inventam essa de andar com canga pra cima e pra baixo. Inventam não, isso só pode ser criação de algum estilista sem idéia e puxa-saco de alguma gordinha que não queria mostrar o excesso quando levantasse da areia. No mínimo um dia a moça levantou da areia com a bunda parecendo um croquete gigante e percebeu os olhares malévolos e caçoantes dos homens barrigudos à volta. Porque de barriga de homem ninguém tira sarro. Se tira é algum amigo, ao que o barrigudo recebe com o devido carinho de amigo e até ri.

As mulheres não. Elas têm esse negócio da disputa pelas melhores formas. Ou menos piores, em alguns casos. Elas sabem que o homem sempre vai olhar quando elas levantam, não importa que sejam gordinhas ou magras demais. O homem sempre vai olhar. Uma mulher em vias de se levantar da areia é motivo de atenção geral na praia. Podem ver, até os gurizinhos que estão brincando de pazinha param pra ver aquela tia se levantando pra entrar no mar ou buscar um milho.

Só que essas tais de cangas estragaram tudo. A mulher já levanta se enroscando naquele pano colorido e sacudindo areia em todo mundo na volta. Enrolam uma parte na bunda e outra na barriga. Algumas chegam a puxar até o ombro, aí sim não sobra nada pra ver. E na mesma habilidade e desrtreza com que se levantam, chegam até a cadeira ou ao espaço que estavam e tiram o trapo maldito. Ninguém viu! Aliás.. se alguém viu foram os fotógrafos do Correio ou do Diário Gaúcho. Só eles conseguem ver! Sem contar a posição que elas ficavam pra enrolar a esteira.. seguravam da pontinha, num exercício maravilhoso de alongamento e iam enrolando. Nada daquela sacudida de areia sem graça da canga.

Bom era quando eu era criança. As mulheres carregavam esteira. De palha, compradas nos Artesanatos da avenida. Praia geralmente só tem uma via chamada de avenida. A maioria dos veranistas não sabe nem o nome, só sabe que é avenida. E só quem tinha esteira era a mãe, as filhas geralmente ficavam em cadeiras de praia ou num cantinho da esteira da mãe enquanto esta se ausentava. Esteira e guarda-sol, a alegria dos marmanjos barrigudos. O problema é que nessa época eu não era um marmanjo barrigudo. Era apenas um desses gurizinhos que bricava de pazinha. Até olhava pra alguma tia que se levantava, mas sem saber o motivo, era só porque todo mundo tava olhando mesmo.

Dia desses vi uma saudosista da esteira. Também, deve ter feito um rancho no Artesanato da avenida. Em tempo: lá em Quintão chama-se Artesanato São João. Chegou na praia com um guarda-sol de pano, verde com estampa de peixinhos, desses que só se compram em artesanato mesmo. Hoje em dia a maioria é promocional de empresas de telefonia. Bom.. guarda-sol de pano, chapéu de palha, bolsa de saco de trigo com alça de bambu, mateira de couro e.. a esteira, óbvio! Soltou o nozinho e.. flap, a esteira rolou e se estendeu sobre a areia.

Outro grande problema da canga é quando a mulher se deita sobre ela. Como geralmente é confeccionada em tecido fino, o ar embolsa embaixo, ficando uns gomos altos que fazem a gente confndir com as curvas da moça. Um saco! A esteira não, a esteira fica bem retinha!

Mas nem por isso as curvas da moça estavam à mostra. Uma camiseta e um shortinho de brim escondiam o biquíni. Mas logo logo ela teria de tirar.. Nem dei ouvido aos convites de jogar frescobol com os guris. Fiquei bem sentado, abri uma latinha bem gelada de Polar e esperei... Ela armou o guarda-sol perto da esteira, largou a bolsa e a mateira ali do lado, olhou pro mar e começou.
Tirou o chapéu de palha e sacudiu os cabelos. Não me pergunte o porquê.. o cabelo ficou igualzinho. Mas sei lá.. mulher tem essa mania também de sempre sacudir os cabelos quando tira o chapéu ou boné. Cruzou os baços na cintura e tirou a camiseta. Um piercing! Sacudiu mais uma vez os cabelos.. Era uma bela mulher. Não tinha mesmo por que se esconder em uma maldita canga. Só faltava o shortinho de brim.

Enfim, depois de adulto eu veria uma beldade expor suas maravilhosas curvas ali, bem pertinho, numa esteira! Uma esteira retinha, sem nenhum gominho de vento embolsado, sem que voasse areia em mim quando ela se levantasse. Comecei a imaginar, no pequeno intervalo entre tirar a camiseta e o shortinho, como seria a parte de baixo do biquíni. Se seria grande ou bem pequenininho.. se seria da mesma cor da parte de cima. Mil coisas, imaginei.. minha latinha de Polar já devia estar quente a huma hora dessas. Botei os olhos na latinha, bebi um gole já meio quente e voltei a admirar a moç...a, PQP!!!

Mais que depressa, enquanto dobrava os joelhinhos pra se deitar, sacou da bolsa de pano uma...

Maldita canga, colocou sobre a esteira e se deitou. Só depois foi tirar o shortinho, só depois que o vento já tinha embolsado.

Malditas cangas!

Tuesday, January 17, 2006

Volcano...

Ouvi de dois amigos pelos quais sou apaixonado dizerem um ao outro que o problema de ambos é que precisam se apaixonar por alguém. Perplexo, meu amigo perguntou se ela não estava apaixonada, já que vinha aparecendo nos encontros da turma com um affair.

- Não! – disse ela convicta.

Aí me lembrei da história do vulcão. Uma vez me disseram que amantes incondicionais são como vulcões: podem passar um bom tempo na calmaria, totalmente pacíficos. Porém, por baixo de um espessa crosta, extremamente dura de rocha que é, esconde uma paixão que, quando em erupção, nada mede sua temperatura. Derrete as mais sólidas camadas magmáticas que o encrostam.

Assim era essa minha amiga. Beatriz. A Bia tinha paixões vulcânicas. Parecia que tinha atração por fogo. Inocentes nós. Depois de um tempão vim a saber que o fogo é que atrai homens e mulheres. Enfim, o fogo é comum e fundamental aos amantes. E por isso nenhum dos guris se atrevia a se engraçar com a Bia. Nossas caras repletas de espinhas ainda não ardiam a brasa que cativava o corpo ardente de Beatriz.

E não adiantava, se o tipo não despertasse a paixão de Beatriz a ponto de eruptir, ela o reduzia a mais uma rocha que futuramente seria avassalada pela lava quente que brotaria das profundezas do coração de Bia. Ela não precisava de mais pedras. Bia queria abalos sísmicos. Só aí que foi me cair a ficha da convicção dela ao dizer que não estava apaixonada.

E com o delay que é reservado a nós homens, descobri mais tarde que aquelas paixões vulcânicas não eram uma particularidade da Beatriz. Ela apenas descobrira mais cedo que se suas paixões podiam arder em fogo não tinham por que estagnar em pedra. Felizes aqueles que descobrem sua parte vulcão e sua parte tremor e dividem entre si abalos e erupções, expelindo magmas incandecentes ejetando para longe as pedras que os atravancam e só o que se solidifica são suas lavas que se fazem fundir.

Friday, January 13, 2006

Velhos.. riamos enquanto podemos..

- Raul, eu vou usar o telefone ali embaixo tá? – adentrou a guria da limpeza aqui na sala. Afoita. Esbaforida.
- Claro, Judite! Nem precisa perguntar! – deixei-a bem à vontade.
- Tu acredita que uma velha bateu boca comigo ali embaixo agora? – desabafou. Senti que ela queria falar alguma coisa.
- É mesmo? Por quê?
- Eu tava ali lavando o pátio e a calçada e ela já chegou me metendo a boca: “tu não vê televisão? Tu não sabe que a água tá escassa? Como é que tu tá aí lavando a calçada com essa mangueira?” tentei falar que é ordem da empresa que a gente lave a calçada todos os dias, aí foi pior..
- Hum..
- Ela disse que eu vou morrer como empregada, que eu sou ignorante, que eu devia me impor.. olha, Raul, ela me colocou abaixo do cocô do cachorro.
- Olha, Judite.. eu até não tiro a razão dela. Eu acho totalmente desnecessário lavar a calçada, mas ela bem que podia ter falado com jeito.
- Que nada, ela mal me viu e já veio me meter a boca.. pegou meu número de matrícula e disse que vai me denunciar.
- Mas que bah!
- Aí eu vou ligar lá pra empresa pra eles já ficarem cientes.
- Tá, vai lá.. não te preocupa que não vai acontecer nada. Talvez só mudem a prática de lavar a calçada.

Aí eu chego em casa e vou ter com meu pai. Meu pai é bem diferente da minha mãe. O que ela tem de falante ele tem de fechado. Só estamos eu e ele em casa, minha mãe tá na praia. Commo eu não sou muito de puxar assunto, e ele menos ainda, quase não nos falamos. Os diálogos se repetem todos os dias..

- Calor né?
- Bah..

E assim vai.. “calor né?”.. “Bah!” Só que dessa vez, munido da história do bate-boca da Judite com a velha, resolvi dividir com ele.

- Pai, tu acredita que uma senhora vizinha lá do serviço bateu boca com a guria da limpeza porque ela tava lavando a calçada?

Ao que ele responde com toda a convicção de um aposentado que passa boas horas do dia em frente à TV, assiste a todos os noticiários e lê o jornal de cabo a rabo:

- Mas isso é tudo conversa fiaaaaada. O Guaíba aí tem água aos monte. Isso é tudo conversa fiada desses cara aí.

Juntei o queixo do chão e me recolhi ao meu quarto, me conformando que a falta de assunto ainda era a melhor opção.

Tuesday, January 10, 2006

Desenhar sem borracha...

Uma vez li uma frase que guardo comigo. É simples e diz muito: Viver é a arte de desenhar sem borracha. E vai dizer que não é..? Numa análise simplista como fiz a primeira vez, imaginei uma folha em branco e um lápis. Hoje sei que o papel é um formulário contínuo e não dispomos apenas de lápis, mas de canetas de todos os tipos, giz de cêra, cola colorida, canetinha hidrocor, lápis de cor,...

Assim comecei a desenhar minha vida, 5 anos, num Criança na Avenida, ali na Cristóvão Colombo. A rua era fechada e liberavam pra criançada folhas, tinta têmpera, lápis de cor e afins. Fiz uma bandeira do Brasil. Minha dúvida sempre era a cor do Ordem e Progresso, se verde ou preto. Como nunca dizem preto nas cores da bandeira, fazia em verde.

Hoje vejo meus amigos como fontes inesgotáveis de tintas coloridas a pintar os dias da minha vida. Se revelo um sonho, logo se estende a mão com um pincel e vejo-o se colorir, se anseio diversão aparecem todos de uma vez pois é o desejo geral. Todos eles são inspiração para os desenhos que vivemos. Uns inspiram uma praia com muito sol e água limpa, com sombras de grandes árvores e cantos de pássaros o dia inteiro.

Um outro faz uma pintura de arteiro, outro mais gaudério, um churrasco e um churrasqueiro. Há também quem pinte brindes e presentes, alegrando até os doentes, pinta até mesmo uma banda que toca nossas músicas de criança. Ao que um outro dança e o outro ri. Mas tenho certeza de que ninguém cansa de ver sua vida colorir.

E o melhor de tudo é saber que os pintores somos nós. Somos os mais criativos, os mais audazes, os mais insaciáveis amantes de suas obras, pois sabem que a beleza simples de cada toque pode estar oculta atrás de uma porta, estampada nas estrelas brilhantes da noite ou mesmo na lágrima triste que escorre no rosto de um de seus pintores.

Thursday, January 05, 2006

Tchau meu velho amigo!

Amigo de tantas horas. Te abandonei. Me persegues como jamais imaginei. Para todos os lados onde olho, tu estás. Agora decidi ser forte. Me cobiças, me traz lembranças boas, ótimas, maravilhosas... mas preciso ser forte. Já passaste em minhas mãos de novo.. te olho como se não tivéssemos tanta intimidade.. e podes ter certeza: assim me sinto mais feliz. Meus amigos me olham sorridentes. Eles não te querem comigo! E a cada dia que fico longe de ti, me consagram uma vitória. Se para sempre te abandonar.. campeão serei! Tchau..

Escrevi isso num guardanapo, com uma caneta emprestada, ao perceber que um amigo segue sem fumar depois da promessa feita na virada do ano. Tomara que assim seja. Que fique claro: eu nunca fumei!

Aniversário do Pitoko...

De novo!!! Como é bom saber que depois de um pouco mais de um ano continuo amigo desse cara que conheci aqui pelo blog e se tornou, além de meu amigão, amigo dos meus amigos. Hoje podemos dizer que somos uma família, com certeza. Viagens, tragos, festas, futebol, namoros e separações, formaturas e quermeces, ano novo e natal.

Meu amigo: parabéns!

Saúde e sorte, meu velho! O resto tu te vira.. hahahahhhahaaha

Eu tenho um Kichute novinho em folha...

Estávamos almoçando ali no Casarão do Bom Fim e a pauta caiu sobre o futebol. Bom o rango ali. A gurizada tá reclamando das condições da quadra que a gente joga nas terças, lá no Beira-Rio. Que tá muito esburacada, que não sei o quê, que a rede tá furada... frescuras!

A gente sempre brinca que as pessoas ficam frescas quando têm dinheiro, mas não olhamos atitudes nossas para algumas pequenas coisas. Futebol, por exemplo. Quando a gente era criança jogava bola todos os dias. Colocava os guids, terminava de tomar o Nescau e saía correndo com a bola embaixo do braço. Onde se ia jogar não importava.. podia ser ali na pracinha Ucraniana, no campinho do valão, ou até numa porta de garagem, ali na rua mesmo. Minha irmã, depois que casou foi morar em Cachoeirinha. Eu tinha uns 11.. 12 anos. Fiz amizade com os guris lá do bairro dela e podia jogar com eles, aos domingos depois do almoço. O campinho lá sim, era brabo.. não era nem areião aquilo, era argila seca. Tanto que quando chuvia era impraticável jogar. Tinham uns pedaços de pedra espalhados pelo campinho, várias moitas de capim, bosta de vaca, ora seca ora não.. o negócio mais eracorrer mesmo e tentar tocar na bola, pelo menos.

Aí agora me vêm com essa, de que não querem mais jogar se não mudarem a quadra. Vê se pode!

Mas foi aí que me deu um estalo de ter um Kichute! Pensei na hora: “vou lá no centro e vou conseguir um Kichute pra mim!” Eu sabia que ali na Voluntários e na Júlio de Castilhos tinham algumas lojinhas bem chinelas de calçados. Dessas que vendem de tudo.. tudo o que não presta. Ali certamente tu encontras tênis das marcas MIKE, Reedok, Adibas, e por aí vai..

- Tem Kichute?
- Não
- Oi, tu tem Kichute?
- Não.
- Kichute, tem aí?
- Não, moço!
- ...
- ...

Até que na penúltima, achei! Só que só tinha um par. Só um número. Só o 44! Cheguei a experimentar, mas ficou um lanchão no meu pé 40. Pensei em pedir pra encomendar, mas o atendente me disse que não fabricam mais, que aquele estava ali fazia uns 3 anos. Desolado, saí cabisbaixo e entrei novamente na Voluntários pra ir embora. Ainda tinha mais uma lojinha. Sabia que não ia ter..

- Oi.. não tem Kichute né?
- Tem sim, que número te quer?
- Capaaaaaz??? Tem mesmo?
- Tem sim..

Olhei pra aquele balcão repleto de Kichutes, todos eles pretinhos com as garras de borracha embaixo. Legítimo! Da marca Kichute, com a bandeirinha do Brasil e tudo! Experimentei (tudo com um sorrisão), paguei (23 real) e saí, feliz da vida! Agora eu posso dizer... Eu tenho um Kichute novinho em folha!

Tuesday, January 03, 2006

Lucas e o balão...



Aos oito anos, Lucas via aflorar em si o bicho carpinteiro que acomete toda criança. Olhava para a garagem sortida do pai, Seu Bernardo, e imaginava os mais fabulosos e engenhosos brinquedos. O pai tinha tudo o que era ferramenta e matéria-prima, guardava todas as sobras de obra da casa: pedaços de madeira, canos de água, arames de cerca, restos de tijolos,... Com um pouco de investimento dava até pra construir outra casa.

Mas Lucas gostava mesmo era do formão. Pegava pedaços maciços de cedro e fazia canoas. Com todo o cuidado e atenção escavava um único sulco no pedaço de madeira. Depois que tomava forma, lixava bem e, por fim, envernizava. Pronto: ali estava uma canoa prestes a explorar as águas turvas do tanque da mãe, Dona Ivone. Lucas enchia o tanque, mas a água cristalina não tinha graça. Então ele apanhava um punhado de terra do quintal e turvava a água, dando assim um tom mais selvagem às histórias que produzia sua imaginação de oito anos.

Vez ou outra Seu Bernardo até que ralhava com o pequeno Lucas, por ele ter usado pedaços de madeira bons para outros fins, sabe-se lá qual, mas Dona Ivone pedia que relevasse. Afinal, não havia brincadeira mais sadia e que dispensasse tanto tempo como uma criança brincando de inventar e produzir coisas.

Até o dia que Lucas quis fazer um balão. Vira na televisão, durante as comemorações de São João, um lindo balão sendo entregue ao céu sustentado pelo ar quente de uma chama que vidrava seus olhos brilhantes. Lá na mesma garagem, entre as ferramentas, havia uma prateleira cheia de livros velhos. Desde os didáticos até Lucíola, do Machado de Assis. Subiu num engradado de cerveja que estava por ali e tirou lá de cima uma enciclopédia vermelha de capa dura. Folheou até a letra B e, como supunha, achou o Balão.

Olhava a ilustração e já imaginava, entre os cacarecos guardados pelo Seu Bernardo, o que seria necessário para confeccionar um lindo balão de ar quente. Lembrou até de umas folhas de papel de seda que a irmã mais velha tinha guardado, provavelmente das aulas de artes.

Sem pensar em mais nada Lucas desceu faiscando da caixa de cerveja e tratou de arrecadar tudo o que precisava: arame, cola, uma latinha que serviria de cesto, preguinhos, cordão, etc. Só faltava o papel. Fez os moldes dos gomos, dobrou os arames com alicate e eis que o balão começou a tomar forma. Conseguiu o papel e decorou todo o balão: uma linda obra feita por um guri de apenas oito anos.

Ainda restava o detalhe mais importante. Combustível, tocha e coragem para incendiar a chama que faria o lindo balão tomar os ares do pátio da casa. Como era de se esperar, foi veementemente vetado por Seu Bernardo. Nem pensar em brincar com fogo, ainda mais soltando um balão. Lucas ouviu um discurso que punha por terra quem sabe o maior sonho que tivera até os seus oito anos. Dessa vez nem Dona Ivone podia acatar aos olhos pedintes de Lucas.

Guardou aquele sonho até a idade adulta. Talvez seja por isso que dizem que o homem guarda dentro de si uma eterna criança. Um dia ouviu de uma moça o relato de um lindo balão que fora solto na praia de Capão. Um lindo balão de ar quente que foi tomando altura no escuro céu de Capão. Subiu muito alto e foi-se em direção ao mar. Ao relato da moça, Lucas via içado novamente um sonho que dormira por anos.

Ano novo...

Depois de uns 8 anos, pelo menos, passei a meia-noite do reveillon em casa. Sem tumulto, sem fogos e com uma - e tão somente uma - garrafa de champagne. Aos primeiros 15 minutos do ano corrente migrei minha euforia contida para a festa dos familiares do Fulano, no salão da SUR em Guaíba. Tinha pouca gente, quase que só os familiares mesmo, mas a decoração e a animação valeram. A decoração por conta do Telmo, que leva jeito pra coisa e a animação da sobrinhada do Fulano e por ele próprio, que brincava e dançava feito criança com a gurizada.

Uma virada de ano bem diferente das anteriores, mas que reforça a minha convicção de passar numa praia, com bastante agito, fogos e molhando os pés no mar.

Minhas fotos no