Friday, June 15, 2007

Ainda sobre as pizzas...

Acabaram de me ligar.

Não reconheci o número, mas como no meu trabalho quase nunca se sabe quem está ligando, atendi:

- Alô!
- Alô, Raul?
- Sim?
- Aqui é a esposa do Onir, da fixa, tudo bom?
- Tudo bem!

Fixa refere-se à Telefonia Fixa. Nós trabalhamos com Telefonia Celular e temos muitos contatos com eles. Mas nesse curto tempo não consegui lembrar de nenhum assunto que tivesse ficado pendente. Muito menos com a esposa do Onir, da fixa. Eu sempre retribuo o "tudo bom" com "tudo bem", acho que tem mais a ver. E ela prosseguiu:

- Por acaso ficaram algumas pizzas contigo?
- Só um pouquinho, só um pouquinho. Eu acho que tu ligaste pro número errado. Não sei de nenhuma pizza!
- Ah..! Então é o outro Raul. Desculpa!
- Tudo bem.

Era pizza!

Wednesday, June 13, 2007

Dia de Santo Antônio...

Amelinha entrou na sala esbaforida. Chegou atrasada, atirou a sombrinha sobre a mesa, o casaco na cadeira e a bolsa no chão. Os cabelos molhados grudados ao rosto revelavam que a chuva estava realmente forte. Mas ela não parecia chateada pelo banho. Alguma coisa incomodava – havia alguns dias – a Amelinha.

Todos notavam que o humor dela piorava, mas ninguém sabia o porquê. Amelinha sempre foi muito reservada. Não contava sobre sua vida particular a ninguém, nem mesmo à Rita Borges, com quem sempre tomava um café depois do almoço.

Rita sabia tudo sobre todos. Prestes a se aposentar, a enfermeira-chefe da ala infantil da Santa Casa era ouvidos para todas as histórias ocorridas durante os 36 anos de trabalho. Há quem diga que sabia mais até do que os azulejos azul-claros trazidos pelos portugueses. Todos confiavam suas histórias à Rita Borges, desde os médicos mais tradicionais ao servente recém contratado.

Menos a Amelinha.

E olha que a Rita se esforçava. Todos os dias depois do almoço encontrava Amelinha no corredor da ala B e tomavam o cafezinho da Dona Mariana, do terceiro andar. Rita sabia que a bagagem de vida de Amelinha era pesada. Mas não adiantava, Amelinha só falava dos seus pacientes. Aliás, só deles ela falava sobre a vida particular. Dos pacientes e dos familiares. A serenidade de Amelinha confortava as tias mais desesperadas.

Só que naquela manhã a serenidade de Amelinha não tinha aparecido. Nem naquela nem nas anteriores. Os pacientes já começavam a manifestar a falta do carinho de Amelinha.

Ela precisava falar. E foi justamente com Rita Borges que Amelinha se abriu.

- Preciso de um namorado!

Rita quase caiu da cadeira. Em todos aqueles anos Amelinha jamais falara sobre sua vida íntima. Ninguém sabia sequer seu estado civil. Para garantir a exclusividade do depoimento Rita tratou de fechar a porta da sala das enfermeiras. E Amelinha continuou seu desabafo.

Começou a namorar cedo, aos 15 anos. Depois de dois anos se casou. Não teve nenhum filho, e aos 32 ficou viúva. Nem disso Rita sabia, que Adamastor, o marido de Amelinha, havia falecido. Eis que às vésperas do 12 de junho Amelinha resolvera dar um basta na solidão que a assolava há oito anos. O luto por Adamastor já tinha escurecido o bastante a vida amorosa daquela mulher.

Na verdade, Amelinha tinha tomado essa decisão há dois meses. Os anos fizeram com que se tornasse uma mulher desinteressante, ninguém olhava pra ela. E isso passou a atormentá-la. Foi aí que decidiu, num final de tarde, ao passar em frente à capela do hospital, recorrer a Santo Antônio.

Chegou em casa, enrolou o santo numa calcinha vermelha e o acomodou na gaveta do roupeiro: a gaveta das calcinhas.

Rita alternava estados de palidez e rubor.

- E então? – quis saber mais, Rita.
- E então que a partir desse dia minha vida é um inferno.
- Não funcionou?
- Funcionar, acho que funcionou, mas eu não deixei acontecer nada.
- Como assim?
- É que só aparece desgraça, Rita!
- É mesmo?
- É.. no mesmo dia que o coloquei lá, fui tomar banho e tocou a campainha. Dificilmente alguém toca lá em casa. Era o zelador. E eu o atendi enrolada na toalha.
- E aí?
- Aí nada. O velho, além de feio é casado e não tirava os olhos de mim.
- Imagino.
- Não, tu não imagina. Ele só tinha ido entregar uma correspondência. Mas quando me viu quis entrar. Tive que pedir pra ele ir embora. E ainda tive que ouvir uma piadinha!
- Risos. E apareceu mais alguém?
- Apareceu, mas tudo assim.
- Assim como, de toalha?
- Não. Tudo ou velho, ou desdentado, e todos tarados!
- Mas não foi o que tu pediu?
- Até foi, mas eu queria um homem bonito.
- E tu pediu que fosse bonito?
- Acho que não. Só disse que queria um homem.
- Então, amiga. O santo não tem como adivinhar.
- É, né?
- Claro. Faz o seguinte: tira o santo de lá, deixa ele dormir uma noite sozinho, e na próxima tu faz a simpatia, dessa vez pedindo que o homem seja bonito e com todas as qualidades que tu quiser.

Boa sorte, Amelinha!


Dia dos Namorados..


Amelinhas e Ritas Borges à parte, ontem foi o nosso dia. Dia de quem a gente gosta de ficar, dia dos Namorados e namoradores da vida. Dia dos Apaixonados! Dia das apaixonantes. Dia dos casais lindos. Dos feios também. Afinal, os feios também amam.

Mas o dia de ontem foi especial por ser o nosso segundo ano juntos em comemoração à data. Aliás, no ano passado, só fomos assumir o namoro mesmo às vésperas do Dia dos Namorados.

O que já era bom foi sendo lapidado. A poesia foi tomando o lugar das rebarbas e o que parecia sonho é hoje uma realidade maravilhosa.

Neste Dia de Santo Antônio te desejo, Alice, um maravilhoso Dia dos Namorados, todos os dias!

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