E esse foi o responsável pela minha grande decepção política. Eu não votei em 89, tinha 12 anos. Então, depois de correr atrás do caminhão do Collor pra ganhar camisetas com os guris da rua e sentir a desaprovação do meu pai, minha parte rebelde da adolescência me fez tomar rumo de uma terceira tendência. Assim tornei-me um petista. Nada radical, nem muito explícito. Simpatizava, apenas. Tanto que não votei na eleição em que me era facultado.
Acho que meu pai não gostou muito quando me viu com o bigode do Olívio durante a campanha para o governo do Estado, e isso o enraizou fortemente na sua nova convicção tucana. Por um lado até entendo, pois ele associava o PT à anarquia. E me chamava de descamisado – brincando – quando eu ficava sem camisa em casa.
Achei engraçado isso quando vi o sentimento de desaprovação refletido no meu pai. Ele não aceita o Lula de jeito nenhum, algo semelhante ao que acontece com alguns amigos. Esses dias eu falava com meus pais a respeito de provas de concursos e minha mãe levantou a questão do hífen. Meu pai não podia perder:
- É coisa desse bobalhão que tá lá. – ele nem cogita chamá-lo de Presidente.
- Pai, era só o que faltava, colocar a culpa da reforma ortográfica no Lula, que nem sabe escrever direito...
- Pois é, mas ele assinou!
É por isso que uma mudança política é tão difícil!