Depois que dei os parabéns, em vez de pêsames, à minha professora da quarta série primária no velório do seu marido acabei criando um bloqueio com esses cerimoniais de morte. Tudo bem, eu tinha apenas dez anos, mas até hoje acho que não superei isso. Sempre acho que vou cometer outra gafe, não sei o que falar para os amigos e familiares que ficam. Desde então tenho resistido a ir a velórios e enterros.
Muito tempo depois, talvez 15 anos, faleceu uma amiga do Zé Gota. Não cheguei a conhecê-la, mas sabia que ele a tinha como irmã. Pensei que devia superar aquela resistência a cemitérios e velórios e oferecer meu abraço ao amigo; sabia que era um momento muito difícil pra ele. Se não me engano o velório estava marcado para as 17h30min. Saí do trabalho às 17h e fui o mais rápido que pude até o Cemitário Parque Jardim da Paz, lá... na Lomba do Pinheiro.
Vi que por mais rápido que fosse chegaria um pouco atrasado. Estacionei o carro ali na frente, por volta das seis da tarde, talvez um pouquinho mais. Tinha idéia daqueles jardins gramados, com todos de freto frente a um padre e ao caixão. Não era bem assim... O funcionário do cemitério me conduziu a um corredor com umas capelas e voltou à portaria. Me senti num filme, num corredor vazio com luz fraca, puxando para o verde e as portas das capelas, todas vazias. Até que numa das capelas encontrei um caixão. Não havia ninguém acompanhando. Procurei por algum nome, mas como o Zé tratava sua amiga por Nina, ou algo parecido, não imaginava qual seria seu nome.
Fiquei ali e depositei todos meus sentimentos àquela pessoa que partira. Estava um pouco intrigado por não haver mais ninguém, nem o próprio Zé. Tínhamos combinado entre pelo menos umas seis pessoas de estar ali. Não quis telefonar pois o silêncio era absoluto, e não queria ser eu, justamente, a quebrá-lo. Passados uns 20 minutos resolvi sair e ligar pra alguém. No outro lado muitas vozes e risos. “Onde vocês estão?”, perguntei baixinho. Estavam todos no bar no qual tínhamos combinado de ir após o velório. Velório que começara pontualmente e cujo corpo já fora enterrado.
1 comment:
It´s the Raul style!
HAHAHAHAAHAHA
Bah...muito boa essa história.
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