Antes de eu contar sobre o episódio do pedágio preciso chegar até lá. Tínhamos passado pelo mais difícil em termos de comunicação, o grego moderno da Grécia. Se fosse o grego antigo.. ih! Já tinha até recebido instruções de como funcionava a nossa motoneta, em grego.
Depois de quase uma semana na Grécia, mudamos radicalmente para a França num roteiro que assusta qualquer um que - como nós - só fala português. Estrategicamente simples, vejamos: Fomos de Paris a Rennes via trem. Lá pegamos um carro, visitamos o Mont Saint Michel e depois fomos para uma mini-piccola-cidadezinha, mas que todos já devem ter ouvido falar: Savigné-sur-Lathan. Mil e trinta e três habitantes.
Todo nosso itinerário foi pensado, repensado e muito detalhado. Tudo para evitarmos imprevistos, principalmente nos perdermos ou pagar uma conta indevida de pedágio. E realmente rodamos uns 200km sem maiores contratempos. Fomos aos castelos. A dona da Closerie La Fontaine, onde nos hospedamos, falava exclusivamente francês. E não era por opção. Nada, nada, nada de inglês. E aí!? Não sei como, mas conseguimos que ela nos emprestasse alguns mapas e nos desse algumas dicas de como chegar ao primeiro chateau, o Chenonceau.
Havia uma diferença na dica que ela nos deu. Dizia para pegarmos a autoestrada, enquanto tínhamos traçado um trajeto por uma via secundária. Nas autoestradas haveria o pedágio, e não tínhamos ideia de quanto pagar, nem como, uma vez que não há atendentes, como aqui. Pedágios, sem chance! Era o nosso lema. Sem contar que o site da Michelin oferece três opções de rota entre as cidades: mais rápido, mais econômico e mais bonito. Os mais baratos são os mais bonitos, pois cruzam as cidades por belos campos verdes.
Como já eram cerca de 14h, queríamos chegar logo ao castelo, almoçar e retornar por volta das seis da tarde. Sabíamos também que há trechos em que a estrada não cobra pedágio, e imaginamos que ela não iria nos oferecer justamente uma rota que precisássemos pagar. Talvez ela tenha dito que teria o pedágio, mas essa parte eu não entendi... só essa... Nos despedimos e tomamos o rumo do chateau. Logo encontramos o acesso à A10, a estrada maldita! Andamos por ela um pouco, e veio a cena que não queríamos: uma praça de pedágio. Gelei! E o pé abandonou o acelerador. Buzinas! 140 era o limite, e eu devia estar a uns 30km/h. Maaaas... vi que os carros chegavam na cancela, apertavam um botão e passavam. Não pareciam estar pagando. Nos aproximamos, apertei o tal botão e a máquina imprimiu um tíquete. Juro que pensei que fosse algo como um registro apenas para fins estatísticos. Depois de meia hora de completo frio na barriga avistamos a nossa saída. E outra cena nada agradável: outra praça. Agora tudo fazia sentido, tu entra na estrada e recebe o registro do km, e o valor é cobrado de acordo com o trecho percorrido. Separei o cartão de crédito e umas moedas. Havia somente máquinas, nada de pessoas. Me aproximei, inseri o tíquete e ele pediu o cartão. 3 euros. Normal! Mensagem: Cartão refusé, algo assim. E nada do tíquete. Eu já tava meio que suando frio, o carro em completo silêncio. Quando olhei para a Alice a máquina fez um barulho e só vi nosso tíquetezinho ser cuspido e sair voando pela estrada. “Olha lá ele!” E ele indo, voando longe já. Tinha bastante vento. A Alice saiu correndo atrás do papelzinho e eu fiquei ali tentando entender. Quando ela voltou tentamos de novo. Os carros todos iam para as outras cancelas. Inseri novamente o papel, depois o cartão, mas a mensagem foi a mesma. E não achamos nenhuma máquina que aceitasse dinheiro ou moedas. Pânico e colapso absoluto. Pior, a máquina não devolveu o papel. Eu sabia que estávamos sendo filmados, mas chutei o balde. Fizemos a volta e retornamos. Foi a única saída que conseguimos raciocinar. Iríamos perder mais 30 minutos pra voltar onde entramos, depois retornar pela estrada que tínhamos planejado e o combustível. Na volta avistei outra saída. Mas a praça de pedágio estava lá. Usamos o limite de velocidade da pista e voltamos ao lugar de origem. E havia uma cabine com uma mulher. Salve! Nada de inglês também. Expliquei a ela por mímica que o papel tinha voado pela janela. Ela então apontou para o preço máximo da estrada; 36 euros. Se eu não tinha o tíquete ela poderia supor que eu tivesse andado todo o trecho. Aí sim! O nível de engasgo, frio na barriga, era absurdo. Até que ela perguntou onde tínhamos entrado. E eu disse que tinha sido ali mesmo, naquela cancela. Só tínhamos entrado e feito a volta. Então ela me passou um termo em que eu me responsabilizava que tinha entrado ali. Nos cobrou o trecho mínimo: 2 euros. Finalmente conseguimos sorrir, rir, gargalhar e, também, sentir fome. Eram 4 da tarde. Depois disso, nada mais de dicas!
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