Monday, October 30, 2006

Duas famílias, algumas etnias...

Esse negócio de família é engraçado. Entre o aniversário da avó da Alice e o da minha mãe no sábado, e o almoço lá em casa domingo, teve tudo daquilo de família. Coisas que eu não vivia há muito tempo, e que vieram num momento bom. Desde bolo, salgadinho, torta fria e refri até álbum de foto do tempo do Epa. Mãe, vó, tio, tia e cachorro completavam o ambiente familiar com todo seu requinte daqueles que se conhecem há algumas décadas. Nas mãos, cada foto do álbum amarelado fazia reviver na memória um momento distante que foi eternizado enquadrado num pedaço de papel. Tantos rostos e tão diferentes com o passar dos anos.. Rostos que ontem completavam a mesa do churrasco serão os mesmos que motivarão boas risada daqui alguns anos.

Uma nova família começa assim, a partir de duas que se formaram a partir de várias. Uma mistura de cores, de lugares, e da história de um passado bem marcado por rugas. De sonhos..

Monday, October 23, 2006

Aquela que espera...

Quando li Yves Simon, gravei este trecho. Inevitavelmente, a identifiquei nele. E assim pude ver e provar, não apenas da espera, mas da companhia, da cumplicidade, da entrega..

Tirou do bolso um objeto do tamanho de uma caixinha de fósforos. “É para você.” Rasguei o papel e descobri um minúsculo cofre de madeira fechado com um ganchinho. Abri. Sobre um papel de seda havia três minúsculas estatuetas, três mulheres nuas, de cores diferentes. Surpresa.
“Trouxe-as do México, sem ter a menor idéia do que se passava com você. Esse país conhece a arte de encontrar as portas secretas que levam ao interior dos pensamentos. Por que três mulheres? Porque uma história nunca vale por si mesma e no amor a armadilha consiste em estar obcecado por uma só. Observe a primeira. Tem os olhos abertos, os dedos apertados. É a mulher que dá. A segunda tem os dedos abertos. É a mulher que toma. Agora olhe com atenção a terceira. Tem os olhos fechados, as mãos cruzadas sobre o ventre. Que pensa dela?”
Não sabia o que responder.
Ela espera.


Ela me espera sem brincos. Ela não usa brincos. Ela se enfeita de beleza e de um perfume que tira meus pés do chão. Sigo atrás do rastro até a fonte do cheiro natural ainda não marcado pela boa química perfumada que escorre suavemente por sua pele. Besteira minha falar em fonte daquela que em fonte, toda se apresentou. Mas a concepção dos sentidos exige uma materialização daquilo que em conjunto torna pobre qualquer que fosse minha descrição. Do sentido da visão, a macroimagem segmentada dos olhos, uma fração do nariz, a textura do rosto e as pequeninas ranhuras da fina pele dos lábios.. Mas volto ao todo, pois falar da fina pele dos lábios já é lembrar do quão macio, do hálito quente, do gosto..

Meu presente é embriagar-me em toda tua fonte,e nela saciar os meus sentidos. Meu presente é ser tua fonte todos os dias. A ti meu carinho; dos meus olhos o reflexo do brilho dos teus; da minha boca o beijo que escapa da tua boca e por ti percorre.. és toda fonte e eu todo sentido.. de todo meu corpo, o calor, do meu coração, o amor..

Feliz aniversário, Alice..!

Tuesday, October 17, 2006

A vida de um atrapalhado é triste, mas pelo menos tem emoção!

O dia começava meio apreensivo: uma audiência me aguardava no início da tarde, e como nunca participei de uma audiência, isso era aceitável, ainda mais nas circunstâncias em que se apresentava.

Há umas três semanas chegou uma intimação. Já fiquei todo assustado. As poucas informações eram de que eu seria testemunha de acusação de um processo aberto pelo MP contra um figura sobre um delito de trânsito. Aí sim que fiquei mais perdido. Nunca processei ninguém, e não me lembro de ter sido testemunha de nenhum acidente.

Mas intimação é intimação. Fui até o Foro Central e retirei o mandado de notificação para a audiência – crime (medo!), a realizar-se dia 16/10. Como não tinha detalhes, perguntei ao oficial de justiça do que se tratava. Ele me encaminhou à vara de delitos de trânsito e lá pude ver o processo: era sobre o fatídico roubo das baterias do Seu Vivo. Só que com um detalhe importante: no processo consta como se eu fosse testemunha de um roubo ocorrido lá em Santa Maria.

No ano passado presenciei uma tentativa de furto numa das estações do Seu Vivo. Houve uma febre de furtos desse tipo no Estado. Na ocasião tive de registrar ocorrência e, um tempo depois, ir a Santa Maria reconhecer umas fotos de uns vagabundos que pegaram por lá. Até aí tudo bem. Reconheci a gurizada pelas fotos e prestei novo depoimento, ainda sobre o fato ocorrido aqui em porto.

Essas três semanas se passaram assim, meio intrigado. Não queria testemunhar algo que não vi. Acredito que como tenham pego esses vagabundos lá em Santa Maria, querem que eu testemunhe esse fato para que possam prendê-los. Também não quero que minha imagem seja exposta a eles. Fiquei pensando em tudo isso.

Na manhã do dia 16 conversei com um advogado da empresa e expliquei o caso. Ele pediu que eu encaminhasse a notificação por fax. Aproveitei e escrevi tudo, e que me respondesse o quanto antes, pois a audiência seria naquela tarde, às 14h. Menos de cinco minutos depois ele me ligou: disse pra que na próxima audiência eu fique calmo, e só fale sobre aquilo que eu realmente vi, e que foi aqui em Porto, mas que eu cuidasse muito da data e da hora, pois aquela já tinha acontecido às 9:05h da manhã, como estava escrito bem grande na notificação!

Wednesday, October 11, 2006

O que dizer da saudade..?

Tão rica e tão suave, palavra doce que faz mexer toda a boca iniciando em sorriso e ecoando carinho quando proferida. Assim fui lapidando e assimilando tão sublime sentimento que um dia fora entendido como, simplesmente, sentir falta de alguém longe.

Talvez seja ela – a saudade – uma das bases onde se alimentam as mais fortes relações. Uma sensação que começa no calor que se sente aumentar ante cada milímetro em que um lábio se aproxima do outro no ínfimo instante anterior ao beijo, quando as pálpebras descem em cortinas de veludo vermelhas de um espetáculo prestes a ocorrer, onde os atores são sua própria platéia. Um show que se faz sentir falta por cada segundo que nosso relógio consome. A saudade que se manifesta no instante em que os lábios, ainda em contato, úmidos, tomam movimento em sentidos opostos. O mesmo dos braços em leve toque superficial até que apenas as pontas dos dedos se fazem unir deixando pra trás pêlos eriçados como se suplicassem um retorno. Saudade do presente..

Thursday, October 05, 2006

Sorria, tu estás sendo observado!

Quem tu observa? Quem te observa? Andamos na rua, analisamos as pessoas: roupas, modos, comportamento, cabelos, alguma extravagância, peso excessivo, tudo. Alguns olham mais do que outros, que não querem nem saber se o cara do lado tem metade do cabelo vermelho, se usa uma meia de cada cor, se é muito feio, etc.

Eu perco boa parte do tempo que passo na rua analisando esses tipos. Me divirto muito. Foi assim que conhecemos – eu e Alice - o Magua (personagem de O Último dos Moicanos), um varredor de rua que passa o dia em frente a um estacionamento da Mauá. O apelidei assim pelo seu pitoresco cabelo (ou a falta de boa parte dele). Todos os dias ali, empunhando uma vassoura e uma pá com cabinho. Nunca o vi descansando no estreito espaço para passeio da movimentada Mauá.

Começamos a especular sobre a sua vida, se tinha mulher, se ela gostava dele mesmo com aquele cabelo, se tinham momentos íntimos.. é só ingressar na Mauá que meu olho já começa a procurá-lo. Cheguei ao ponto de perguntar à Alice se ela o tinha visto nessas duas semanas que não fui ao centro! Disse-me que só o viu na segunda. Eu estava com saudades da imagem do Magua, como pode?

Então ontem entrei nesse assunto: será que ele sabe que é observado todos os dias? Será que imagina todas essas especulações que fazemos? E nós!? Quem nos observa? Todos devemos ter algum detalhe que vai se apresentar como pitoresco a alguém. E se for alguém que nos tenha no campo de visão seguidamente, sempre vai atentar para tal detalhe. Assim, somos tantos e tantos Maguas varredores por aí. Quem vai saber?

Minhas fotos no