Dizem os noticiários que o frio de ontem foi o pior dos últimos 20 anos. Eu digo que é o pior dos meus 30 anos. Mas por mais que esteja frio, sei que vou chegar em casa me aquecer. Banho, beijo, edredom, carinho, aquecedor, beijo, vinho, beijo,... Decidimos então, numa dessas noites de fome e frio intensos, pedir uma pizza.
Mas só de pensar em levantar pra pegar o telefone o frio já aumentava. Era preciso mentalizar a ação, agir e voltar pra cama. O pior seria descer pra buscar.
Liguei e efetuei o pedido. Levaria cerca de 30 minutos. Separei o dinheiro e voltei pra cama. Ali do segundo andar dá pra ouvir o barulho da moto se aproximando. No que passou uns 20 minutos coloquei uma roupa decente – leia-se: calça jeans, chinelo e blusão sem camisa – e ficamos esperando pelo barulho da moto, que não demorou.
Peguei os tickets, as moedas, a chave e desci correndo. Cheguei lá embaixo e olhei pelo vidro, mas não vi nada de motoboy. Fiquei ali por mais um minuto, morrendo de frio e espiando pelo vidro ao lado da porta (de calça jeans e chinelo). Ciente de que havia me confundido com o barulho da moto subi. Antes de entrar no apartamento passei pelo vizinho de porta em vestes contrastantes à minha: terno e gravata.
Nos cumprimentamos, entrei no apartamento e ele desceu. Voltei pra cama gelado e fiquei esperando por novo barulho de moto, que já estava passando dos 30 minutos prometidos. Mais um tempinho e novamente a moto.
- Agora é! – afirmamos convictos.
Saí da cama, novamente, correndo, peguei o dinheiro e as chaves e desci. Já podia imaginar o cheirinho quente do queijo esticando,... Olhei pelo vidro e lá estava ele, o motoboy. Abri a porta, mas achei estranha a embalagem. Tudo bem – pensei – deve ter faltado a caixa original e colocaram nessa, da Só Pizzas.
Segurei a pizza e fui entregar o dinheiro, quando o cara puxou um refri de dentro da bolsa. Achei mais estranho ainda, nunca pedimos refri.
- É da Pizza Hut?
- É do 202?
- Não!
- Não!
Olhei pra trás e tava chegando o vizinho, ainda de terno. A pizza ainda estava nos meus braços. Entreguei como se eu fosse o entregador.
- Bah, me enganei! Já é a segunda vez que desço e não é a minha pizza.
- Pois é! Antes eu também achei que fosse o barulho e desci.
Subimos rindo e eu, mais uma vez, sem a pizza e louco de frio. No terceiro barulho de moto, que chegou antes do outro motoboy sair era, finalmente, a nossa pizza.
Ainda bem que é o segundo andar.
1 comment:
Não sei se tu vai ler, mas imagina se fosse o Jurânio...
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