Wednesday, June 16, 2010

O primeiro fio branco nunca vem sozinho...

Assim como os erros de português quase nunca aparecem desacompanhados, sobretudo os mais grotescos, o primeiro fio branco não prova da solidão quando é descoberto. Se ainda não tens idade de experimentar essa espantosa descoberta no espelho, ou no comentário daquela pessoa que acompanha todas as mutações do teu corpo, tente observar com atenção qualquer texto onde tenhas identificado um erro. Se o erro for simples, que caracterize um descuido, é menos provável. Mas os mais frequentes, apesar de toda defesa de que foram mero erro de digitação, são erros convictos. E se houver tentativa de correção ou apenas advertência, com certeza cairão na defesa do erro de digitação, pressa, etc. Como se tivesséssemos que perder sempre o dobro do tempo para tudo o que escrevemos: um para escrever e outro para ler. Os mais legais são os das publicações, porque – esses sim – foram (teoricamente) revisados, e depois mandados à impressão. Mas como são mais raros, e bem menos grotescos, é bom recorrer logo aos emails, de preferência os mais sérios e longos.

Eu acabo me perdendo mais nesse assunto porque me incomoda verdadeiramente. Embora eu também erre. Mas pode ter certeza que não darei desculpa de que escrevi rápido. Meus erros, quando houver, provavelmente serão convictos. Esta semana, e justamente no seu primeiro dia, ele apareceu. O fio, digo, não o erro de português. Primeiro no espelho, e em seguida logo após um doce “meu amor!!!”. Ele estava ali, um pouco acima da orelha direita e mais compridinho que os demais normais pretinhos. Ou castanho-escuros, como quiser. Mas estava. Então completei várias lacunas de pensamentos sobre coisas úteis com aquele que seria o meu primeiro fio branco. Considerei aquele momento, num domingo à noite, de certa forma, poético. Pensei em nomes para títulos de um livro, de como contaria isso aos sobrinhos e aos seus filhos, essas coisas. Até que hoje de manhã, depois de dois dias sem fazer a barba, eles apareceram todos. Resolveram se concentrar no queixo, os malditos. E pior que são de um branco com brilho, que poderia até parecer bonito para que gosta deles. Eu não gosto, mas vou, no máximo cortar os da barba. Aliás, foi assim, fazendo a barba todos os dias que eles chegaram sem que eu os percebesse. Não apelarei a nenhum tipo de tintura.

Vou apreciá-los como parte do curso natural, assim como não se podem banir os mais grossos e belos erros de português.

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