Posso dizer que minha primeira Copa do Mundo, emancipado, foi a de 94. Eu achava que podia decidir por mim, ir onde eu quisesse e chegar em casa tarde da noite. Eu tinha 17 anos, e esboçava algumas saídas noturnas. Mas a cada tentativa era uma sessão de sermões, onde tinha ido, com quem, etc.
1994 foi justamente o ano em que o Senna morreu. E acho que isso contribuiu para aquele estado de catarse no qual eu via o mundo às vésperas da final do mundial. O brasileiro estava acostumado às vitórias do Senna, embora aquela temporada não fosse exatamente boa. Mas ele já era recordista de pole positions, de vitórias, e era tricampeão mundial. Todas as suas conquistas, aliadas ao seu carisma, levaram o Brasil a um luto muito singular, tenham gostado dele ou não.
Então aquele tetracampeonato de 1994 foi como um grito de desafogo para o clima de funeral no qual vivíamos. Na época a mãe do Luiz trabalhava na Antarctica, e nos conseguiu umas credenciais que davam direito a assistir aos jogos do Brasil na cervejaia Berlim com cerveja liberada. Assim eu era apresentado ao mundo dora da severidade dos meus pais em casa: vitórias da Seleção Brasileira no telão, amigos, muita gente e cerveja. No jogo da final não nos deixaram entrar na Berlim, e assistimos na casa do Luiz. Mas depois fomos para a Nilo e fizemos festa até tarde...
Tarde, na época, era um pouco depois da meia-noite. E não existia telefone celular. Cheguei em casa à 1h da manhã e fui recebido por uma mãe irreconhecível desde os tempos de criança. Quase apanhei. Ouvi um sermão violentíssimo e a notícia de que meu pai passara mal. Não lembro exatamente, mas acho que foi um pouco depois dele infartar, algo como uns dois ou três meses. E minha mãe disse que se acontecesse algo eu seria o culpado. Foi foda! Mas o Brasil era campeão e eu tinha comemorado na rua como gente grande.
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