Thursday, February 17, 2011

Foi num email, talvez despretensioso, me chamando de mano, que ele me fez chorar

O anterior, em sete linhas parecendo versos, me fizera rir. Sete linhas sem rima, de duas ou três palavras cada, sem maiúsculas nem pontuação alguma.

oi mano
tudo bem
como estao todos
qualquer coisa me liga
ou me manda email
uma hora eu ligo la pra praia
abraço

Respondi dizendo que achava que era um poema, mas que não combinaria muito com ele. O convidei para um futebol em qualquer terça-feira dessas que eu jogo, perguntei como vão todos na família e disse que, assim como ele, iria entrar no mundo das pedras. Não para fazer uma casa, mas uma escultura. Respondi e ainda fiquei rindo das suas frases.

Desde que saiu de casa, faz alguns 25 anos, nunca mais tivemos um contato próximo. Minha família, sobretudo meu pai (que hoje completa 83 anos), nunca teve uma boa relação com a esposa dele. No início era complicado pra mim, estar morando com meus pais e ter sempre a versão deles da história toda. E muitos anos s passaram sem que nenhuma das partes se esforçasse em uma possível reaproximação.

E hoje, depois desses 25 anos nos encontrando em rápidas visitas coincidentes na casa dos meus pais e uma relação completamente esfriada por tantos anos, eu vejo o quanto perdemos. Ele ainda vive com a esposa, mãe dos seus 5 filhos. Os filhos todos adoram a nossa família, e representam aquela parte da família na casa dos meus pais. E nós vivemos assim, com uma parte da família se resumindo a visitas raras e breves. Como se todos vivessem uma história de amor exemplar e sem reparos.

Então, esse email que recebi hoje, em resposta ao que enviei, me acertou como – imagino – não tivesse a pretensão. Não teve nenhuma revelação forte. Foram as mesmas palavras simples, ainda sem nenhuma maiúscula, mas agora com vírgulas! Nenhum ponto final também. Talvez um erro gramatical que represente uma história que ainda esteja sendo contada, que ainda não tenha um fim. O mesmo “oi mano”; o agradecimento pelo convite para o futebol; o mea culpa de que sabe estar devendo visitas, abraços e presentes e dizendo que tem vontade. Mas assumindo que é pior que pai, de viver escondido em casa, que gostaria mais é de receber visitas, em vez de fazê-las. E me pediu, que pelo menos eu, aparecesse lá. E acho que foi o que li como se ouvisse um grito longe. Como se ele soubesse que mais muito mais tempo vai passar e pouca coisa vai mudar. “vamos tentar reaproximar toda família aos poucos”.

Depois ele continua qualquer coisa, e diz que adoraria e tem certeza que todos os de lá adorariam ver toda a sua família juntos.

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