Friday, December 16, 2005

Roubaram o carro do meu pai. E eu fui cúmplice...

Todo ano a gente vai pra Quintão. Eu não, apesar de já ter ido muito. Mas minha família todinha vai. E passa o verão todo lá na. Na Almirante Barroso, quadra E, esquina com a Tebas. Esse é o endereço que todos lá de casa sabem de cor de tanto ouvir minha mãe indicar a algum familiar por telefone. E eles vão! Pior que vão! Temos uma tia que chega a vir de Uruguaiana. A família da minha mãe é de Alegrete, mas uma boa parte se mudou desde cedo pra cidade da fronteira. Então essa minha tia, a Tia Lígia, pega o ônibus lá em Uruguaiana e enfrenta boas sete horas de BR290 pra veranear em... Quintão!

Não é de se admirar. A Tia Lígia traz a tira-colo o Tio Beto. Só vendo pra entender essa figura. Ele teve um derrame e tem os movimentos limitados, inclusive – e principalmente – os da fala. É gago em último grau, o Tio Beto. E ai de quem não de atenção a ele. Aí já dá pra imaginar um cenário.. verãozinho em Quintão, a mil metros da praia (cada quadra tem 200m, portanto.. A, B, C..) e com o Tio Beto de interlocutor. Santa Tia Lígia! Santa! Ela é uma graça de se ouvir e ver. Um metro e meio de puro sotaque portunhol. “Que tal” é o que ela usa pra dizer “como vai?”. Uma graça!

Foi num desses veraneios que roubamos o carro do meu pai. Um Opala! Eu digo roubamos porque tive que participar do ato ilícito. Estávamos lá, na maravilhosa praia de Quintão. Eu e a família buscapé toda. Pai, mãe, nós os filhos, meus sobrinhos e os dois cachorros. Meu pai teria que vir a Porto Alegre fazer uns exames de rotina, pra evitar outro infarto. Meu pai tinha um Opala. Um Opala que eu amava! Azul turqueza. Duas portas, quatro cilindros, 1974. Quando se fala de Opala pode esperar.. tu vai ouvir as informações de número de cilindros.. 4 ou 6, número de portas, ano e cor. Não tem como fugir.

Naquela época, já com a gasolina em preço elevado, meu pai decidiu vir à Capital de ônibus. Para caso de algum imprevisto nos deixou as chaves do Opala. Não que fosse pra sairmos com ele, muito pelo contrário.. ele não largava aquele carro pra ninguém! Eu era um guri.. devia ter lá meus doze anos. As gurias, minhas irmãs, recém tinham tirado a carteira e eram temerosas ao volante.

Não deu outra.. foi o pai sumir entre os cômoros* de areia da quadra D que já começou a função na garagem pra pegar o carro do pai e dar uma banda pela badalada Quintão. Pra fazer pegar já foi um parto. O azulão teimoso não pegava por nada. De certo sabia que não era por boa coisa que fariam a ignição do possante motor. Tãnanananananananãnã.. e nada!

- Raul, tu sabe como fazer pegar! – afirmava minha irmã mais velha.

Eu só balançava a cabeça negativamente. Não queria ser cúmplice do roubo do Opala do meu pai. Não adiantou muito. Tivemos que empurrar o bicho pela rua de areia em frente à nossa casa até ouvir o brluuuuuuuummmmmmmm... Quem conhece Opala sabe como é o barulho. Fechamos rapidinho a casa e entramos, os seis (minha mãe, as três irmãs e meu sobrinho) no Opalão. Fomos até o centro, as gurias abanaram pra vários surfistas e (quase) voltamos incólumes.

O maldito inventou de atolar! Pior que o Opala sempre atolava, mesmo com o pai. Mas quando estava lotado de bagagens. Só com pessoas, ainda que com seis era muito difícil. Mas enfim, atolou. As horas foram passando e o azulão lá, atolado! Em breve o pai chegaria, e se o carro não tivesse lá quietinho na garagem cabeças iam rolar. Bateu o pavor geral. Quatro mulheres, um guri de doze anos e um de cinco tirando areia da volta do pneu em vão...

Sempre digo que o meu santo é forte, imagina junto com o das minhas irmãs e da minha mãe.. um tiozinho saiu de uma casa com uma pá e nos socorreu. Voltamos pra casa com o Opala cheio de areia, mas voltamos. No fim da tarde meu pai chegou, e o recepcionamos com aquelas caras de quem fez arte. Naquela noite o preservamos e não falamos nada, apesar de ele suspeitar de que tínhamos aprontado alguma. Dias depois, talvez meses.. resolvemos contar. E ele ficou uma fúria.

Aí aprendi o que já sabia.. nunca mexer, muito menos roubar, um Opala!

* Dunas.

2 comments:

Anonymous said...

essa de roubar carro aconteceu comigo, só que eu ainda não sabia dirigir e tive de descobrir o lugar do freio despencando por uma das grandes ladeiras de São Luiz Gonzaga...pior que eu nunca aprendo as coisas no primeiro erro...rsss...

Anonymous said...

o que eu estava procurando, obrigado

Minhas fotos no