Wednesday, December 21, 2005

Só as mães são felizes...

Sempre a matemática! Sem dúvida é a bruxa das matérias escolares. Ainda ontem uma amiga contou que ficou completamente atônita pelo fato de o filho de 11 anos ter rodado em matemática. Diz ela ter ficado mais abalada que o guri. Imagina só... depois de ter sua cabecinha invadida por relações numéricas totalmente novas, como as frações, os ângulos, números decimais... ainda ter que agüentar o desespero da mãe.

Disse a ela que não podia ser assim. Ela era a primeira pessoa que devia demonstrar firmeza, equilíbrio e força de vontade. A bravura da mãe serviria de espelho pro guri, senão naquela ocasião, na próxima, pra devorar a matéria do próximo ano e ser motivo de orgulho para ela no colégio. Encararia aqueles exercícios de 2/3, 45º , e os vigésimos terceiros com a naturalidade que tinha pra dar o nó nos cadarços. E olha que antes de aprender a dar nó em cadarço parece tarefa das mais impossíveis.

Exercitando. Assim como tantas outras coisas da vida, entre elas a de amarrar os tênis, é a matemática, a bruxa. Minha mãe assim o fez comigo. No primeiro bimestre da quarta série tirei um 35. Em vermelho. Saiu no boletim. O boletim era de cartolina azul-claro. Notas acima de 50, azul, abaixo, vermelho. Nem aquele meus dois 100, obtidos com esmero em geografia e português eram suficientes pra desviar a atenção daquele sonoro e vermelho 35.

Dona Anair ficou uma fera. Mas não me xingou, não me bateu e nem chorou. A fúria dela era vista apenas nos olhos alicerçados naquele 35 e nos lábios, que pressionavam um ao outro com muita força.

Colocou ainda a culpa na professora, a Tia Leda.

- O quê que ela tá pensando! – disse em tom áspero ainda com os olhos fixos no boletim.

Negou-se a assinar o boletim e foi ter com a Tia Leda no dia seguinte. Com o mesmo ar sério, que não era natural dela – minha mãe é por natureza sorridente – enfrentou a professora e fez ela explicar o porquê daquela nota.

- Olha mãe (as professoras chamam a nossa mãe de mãe), o seu filho anda muito desatento. Ele esquece os sinais, andou comendo alguns números e tá fraco nas frações. É um guri inteligente, mas precisa se esforçar mais, fazer mais exercícios.

Acompanhei tudo ali do lado, com cara de guri cagado. A cada item que a Tia Leda falava me lançava um olhar de confirmação. Eu esboçava um sim com a cabeça. E assim foi. Era o primeiro bimestre, recém.

Minha mãe me puxou pra casa pela mão e quis revisar todas as minhas folhas mimeografadas de exercícios. Fez eu sentar à mesa da cozinha e refazer todos enquanto ela lavava a louça e fazia a comida. Todos os dias a cena se repetia: minha mãe preparando o almoço e eu ali estudando. Só podia parar quando o almoço ficasse pronto.

No dia da prova minha mãe ficou esperando lá na porta do coégio. Queria saber como eu tinha ido, a matéria que tinha caído e se eu sabia fazer tudo. Não tive como não agradecer. Na semana seguinte a Tia Leda veio com as notas. 98. Ainda errei um sinalzinho que não me deixou tirar 100. Minha mãe, séria, reconheceu o esforço, mas não deixou de me chamar atenção pelo erro. Ainda disse que os próximos bimestres seriam trabalhados de igual maneira, pra recuperar aquela nota vermelha e garantir uma boa média no final do ano.

Por isso que eu digo: quando alguém confidencia uma derrota ou mesmo um desafio que está por vir, não espera que nos desesperemos. Espera um plano pra dar a volta, pra se reerguer, pra vencer. Guardei aquela lição pela vida. Embora achasse que tinha perdido impagáveis horas de diversão com os guris lá da rua, vi a recompensa no final do ano. E meu grande amigo e vizinho de muro, o Clayton, nunca deixou de me chamar lá no muro dos fundos do pátio pra conversar e brincar um pouco ao final do dia.

Traje da Balonê...

Tinha esquecido de dizer que fui com uma camisa "especial" nessa última Balonê. Comprei-a na tarde de sexta na Loja Bella, no centro. Umas 60 pessoas dentro da loja e só eu de homem. Disse pra tia vendedora não fazer mal juízo de mim, mas que era pra mim mesmo a camisa. Ela disse "não, nem pensei nada..!" Sei, sei.. Ainda me recomendou tirar as ombreiras e os frisos que tinham atrás. Tá aí ó...



Eu e o Pitoko no Tempero Rosa

3 comments:

Anonymous said...

Raul, eu vi a matéria sobre repetir de ano no Fantástico, domingo a noite enquanto me deliciava com a comida do Mc que veio fria e disse na mesa para minha mãe, pai e irmã:
O fato da criança repetir de ano já é tão desconcertante, ela se sente tão impotente, tão ruim com ela mesma e isso é triplicado pelo medo do que os pais podem ou vão fazer, que basta um castigo ou uma severidade dos pais e não um xingo de "muleque, você é burro?"... Alguns pais devem lembrar que educação aprendemos em casa. Não passei por essa situação. Sò peguei uma DP na facul e isso não me fez menos nerd, mas lembro bem do sufoco e das lágrimas derramadas, por achar que não merecia aquilo e por medo do que meu pai ia dizer e/ou fazer...
Bjitos!

Anne said...

Puuuuuuutz...não acreditei qdo vi tua foto! Show de bola tua camisa...eu tinha uma blusinha com a mesma estampa e me levaram da corda, na praia,no carnaval deste ano. Linda que era a minha blusa...tanto que eu lutei pra que a minha tia me presenteasse com ela...hahaha...teu bom gosto me impressiona...hahahaha..."Bom tudo" pra ti gurizinho...e mais, te desejo tudo aqui que desejares pra mim...bjinhos...
Anne

Anonymous said...

É... a vida é feita de ESCOLHAS... muitas vezes para alcançar um objetivo é preciso um esforço pessoal, como "abandonar" algumas atividades que gostamos...

Beijo, Larissa

Minhas fotos no