Wednesday, December 28, 2005

Tereza...

Dagoberto tinha uma sina: não se dava com poodles. E nem era por medo de mordida, como tinha dos dobermans. Esses sim, metiam medo. Os poodles, apesar de parecerem frágeis, não eram bem-vindos ao Dagoberto. E olha que ele gostava de cachorro. Tinha lá seus guaipecas que apareciam perdidos no pátio da sua casa pedindo comida. Dava comida, banho e os adotava. Compartilhava com seus amigos da idéia que só os vira-latas que eram, realmente, fiéis ao dono. Faziam festa debaixo de qualquer tempo e acompanhavam o dono onde quer que ele fosse. Não se importavam se eram amarrados com corda de estender roupa ou ganhassem comida num pote velho de sorvete.

Essas coisas Dagoberto não via possíveis nos pomposos poodles que as madames desfilavam nas redondezas dos shoppings. Como podiam aqueles bichos ser mais perfumados e receberem mais atenção que muitos bebês? – se indagava. Mal sabia o Dagoberto que eles, os poodles, quando não iam com a cara de um estranho, não fechavam a matraca um minuto sequer.

Achava que a maior aproximação que teria com uma daquelas bolinhas de pêlo branco seria os do vizinho Meneguzzi. Talvez tenha sido por causa deles que Dagoberto desenvolveu essa antipatia. Todos os dias quando passava na frente do portão do Seu Meneguzzi, indo pro trabalho, era euforicamente ladrado pelos quatro cachorros neuróticos. Assim Dagoberto adjetivava um poodle: neurótico!

A culpa foi da Tereza. Tereza era a cadela da Mariana, uma velha amiga que morava ali no bairro. Só veio a saber da existência da Tereza no dia que a turma programou uma viagem pra um sítio em Viamão. Dagoberto e o amigo e grande companheiro Lucas Dias subiram no Ap da Mariana pra ajudá-la a descer com as bagagens. Antes de entrarem a Tereza já demonstrava a inimizade com Dagoberto. Ele sabia que ela estava latindo pra ele. O Lucas Dias sempre dizia que ia na casa da Mariana e nunca reclamou da tal cadela.

- Vem com a mamãe – dizia a Mariana, pegando a cadela neurótica no colo.

O bicho não queria nem saber. Driblava o pescoço da Mariana e, mesmo no colo, não parava de latir na direção do Dagoberto. Mal ela a largou no chão e a Tereza já se grudou na canela direita dele. Sorte que estava de calça. Mesmo assim ficaram os furinhos dos finos caninos no brim da calça do moço. E a Mariana era muito sua amiga, não poderia nem dar um chutão no bicho, numa provável segunda investida.

- Que estranho.. ela é tão mansinha! – se convencia a Mariana.
- Sei.. sei.. não é melhor prendê-la?
- Não precisa, ela não vai fazer nada, só te estranhou no início.

Não era o que significava aquele rosnado contínuo e baixinho que a Tereza produzia. Aquele rosnado que precede uma mordida. Pra pânico do Dagoberto, Lucas foi ao banheiro no instante em que a Mariana foi no quarto buscar a mochila de roupas. Ficaram na sala só os dois: Tereza e Dagoberto. Ele bem que tentou não aparentar medo, mas não conseguiu. Tereza veio devagar na direção dele. Rosnava.

- Mariaaaaana!! – chamava ele baixinho, pra que Tereza não percebessse que estava em apuros.
Mariana cantarolava do quarto, decerto colocando as últimas peças de roupa na mochila. Mulheres.. ainda devia ter um monte de cremes e loções que ela podia querer levar. O ataque de Tereza era iminente. Dagoberto suava frio. Chegou a pegar uma almofada do sofá de veludo marrom pra se proteger.

- Rrrrrrrrrrrrrrrrrr – Tereza não sossegava.

E nada do Lucas Dias sair do banheiro. Dagoberto estava perdido. Já podia sentir os dentes de Tereza ultrapassando o tecido da calça e cravando nas suas canelas. Cadela desgraçada!

Finalmente o alívio: Mariana apareceu no corredor com a enorme mochila. Como se tivessem combinado Lucas saiu do banheiro. Dagoberto poderia sair ileso, enfim. Mariana conferiu a água e a ração da Tereza. Água mineral e ração especial com proteínas e vitaminas. Só podia. Pegou a mochila de Mariana e foi em direção à porta. Lucas Dias saiu na frente. Ainda deu tchau afagando a cabeça da cadela – traidor! Mariana segurou a porta pro Dagoberto sair. Ele já podia avistar o corredor do prédio ensaiando um sorriso. Num passo com a perna esquerda passou a porta. Foi quando setiu, na direita que ficara pra trás um crã! Tereza abocanhou todinho o tendÃo de aquiles do Dagoberto. Não gritou, apenas parou. Mariana percebeu e deu um safanão de leve na cadela, que logo soltou.

- Bobinha ela, não sei o que houve!!!

Ninguém entendia por que Dagoberto não se dava com poodles..

3 comments:

Anonymous said...

Eu acho que homem tem ciúmes de poodle. Minha poodle é fresca (passa mal ao comer qualquer coisa) e avançava nas pessoas.

Hoje, ela é muuuuito velha, NÃO
tem dente (graças a isso NÃO tem mais mal hálito urghhh e NÃO morde mais os briquedos dela e as pessoas), NÃO tem mais pulgas (abandonaram a velha) e É surda, uma santa.

A cadela é quase gente, ensino qualquer coisa em uma semana para ela.

Poodle é o cão mais inteligente (comprovado cientificamente) que existe.

Ahh o único problema dessa raça é o forte mal hálito urghhhh, só amor de mãe para agüentar.

Pronto !!! Fiz meu papel de defensora. hahaha

Beijo

Anonymous said...

Ahh mais um detalhe. Como a cadela é surda ela aprende com a linguagem dos sinais. Não uso mais a fala para ensinar, eu faço gestos do que eu quero comunicar... e ela entende.

E agora Raullll !!!?? Baba baby, baba... hahahaha

Beijo

Anonymous said...

Raul

Olha que amor. Resolvi colocar aqui também.


A cachorrinha

Mas que amor de cachorrinha!
Mas que amor de cachorrinha!

Pode haver coisa no mundo
Mais branca, mais bonitinha
Do que a tua barriguinha
Crivada de mamiquinha?

Pode haver coisa no mundo
Mais travessa, mais tontinha
Que esse amor de cachorrinha
Quando vem fazer festinha
Remexendo a traseirinha?

Vinícius de Moraes

Minhas fotos no