Tuesday, January 03, 2006

Lucas e o balão...



Aos oito anos, Lucas via aflorar em si o bicho carpinteiro que acomete toda criança. Olhava para a garagem sortida do pai, Seu Bernardo, e imaginava os mais fabulosos e engenhosos brinquedos. O pai tinha tudo o que era ferramenta e matéria-prima, guardava todas as sobras de obra da casa: pedaços de madeira, canos de água, arames de cerca, restos de tijolos,... Com um pouco de investimento dava até pra construir outra casa.

Mas Lucas gostava mesmo era do formão. Pegava pedaços maciços de cedro e fazia canoas. Com todo o cuidado e atenção escavava um único sulco no pedaço de madeira. Depois que tomava forma, lixava bem e, por fim, envernizava. Pronto: ali estava uma canoa prestes a explorar as águas turvas do tanque da mãe, Dona Ivone. Lucas enchia o tanque, mas a água cristalina não tinha graça. Então ele apanhava um punhado de terra do quintal e turvava a água, dando assim um tom mais selvagem às histórias que produzia sua imaginação de oito anos.

Vez ou outra Seu Bernardo até que ralhava com o pequeno Lucas, por ele ter usado pedaços de madeira bons para outros fins, sabe-se lá qual, mas Dona Ivone pedia que relevasse. Afinal, não havia brincadeira mais sadia e que dispensasse tanto tempo como uma criança brincando de inventar e produzir coisas.

Até o dia que Lucas quis fazer um balão. Vira na televisão, durante as comemorações de São João, um lindo balão sendo entregue ao céu sustentado pelo ar quente de uma chama que vidrava seus olhos brilhantes. Lá na mesma garagem, entre as ferramentas, havia uma prateleira cheia de livros velhos. Desde os didáticos até Lucíola, do Machado de Assis. Subiu num engradado de cerveja que estava por ali e tirou lá de cima uma enciclopédia vermelha de capa dura. Folheou até a letra B e, como supunha, achou o Balão.

Olhava a ilustração e já imaginava, entre os cacarecos guardados pelo Seu Bernardo, o que seria necessário para confeccionar um lindo balão de ar quente. Lembrou até de umas folhas de papel de seda que a irmã mais velha tinha guardado, provavelmente das aulas de artes.

Sem pensar em mais nada Lucas desceu faiscando da caixa de cerveja e tratou de arrecadar tudo o que precisava: arame, cola, uma latinha que serviria de cesto, preguinhos, cordão, etc. Só faltava o papel. Fez os moldes dos gomos, dobrou os arames com alicate e eis que o balão começou a tomar forma. Conseguiu o papel e decorou todo o balão: uma linda obra feita por um guri de apenas oito anos.

Ainda restava o detalhe mais importante. Combustível, tocha e coragem para incendiar a chama que faria o lindo balão tomar os ares do pátio da casa. Como era de se esperar, foi veementemente vetado por Seu Bernardo. Nem pensar em brincar com fogo, ainda mais soltando um balão. Lucas ouviu um discurso que punha por terra quem sabe o maior sonho que tivera até os seus oito anos. Dessa vez nem Dona Ivone podia acatar aos olhos pedintes de Lucas.

Guardou aquele sonho até a idade adulta. Talvez seja por isso que dizem que o homem guarda dentro de si uma eterna criança. Um dia ouviu de uma moça o relato de um lindo balão que fora solto na praia de Capão. Um lindo balão de ar quente que foi tomando altura no escuro céu de Capão. Subiu muito alto e foi-se em direção ao mar. Ao relato da moça, Lucas via içado novamente um sonho que dormira por anos.

Ano novo...

Depois de uns 8 anos, pelo menos, passei a meia-noite do reveillon em casa. Sem tumulto, sem fogos e com uma - e tão somente uma - garrafa de champagne. Aos primeiros 15 minutos do ano corrente migrei minha euforia contida para a festa dos familiares do Fulano, no salão da SUR em Guaíba. Tinha pouca gente, quase que só os familiares mesmo, mas a decoração e a animação valeram. A decoração por conta do Telmo, que leva jeito pra coisa e a animação da sobrinhada do Fulano e por ele próprio, que brincava e dançava feito criança com a gurizada.

Uma virada de ano bem diferente das anteriores, mas que reforça a minha convicção de passar numa praia, com bastante agito, fogos e molhando os pés no mar.

2 comments:

Anonymous said...

O Lucas levava anões de jardim para passear pelo mundo? Ele escondia brinquedos nos buracos da parede da casa dele?

hihihi

Beijosssss, Amélie Poulain

Anonymous said...

Ora, ora... Raul!!!
Quem escreveu isso!!?? Você me faz rir muuuuito e isso é bom... Até a tua falta de percepção é um motivo para muitas risadas.

HahahaHahaha Hahaha

Beijo

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