Monday, February 06, 2006

No Stress – No Preconceito...

Além do Pica, meu cunhado, tenho um outro amigo dono de pastelaria, o Tio Ale. O tio é só apelido, é um gurizão. Mas as gurias do Falcatruas têm essa mania de apelidar os guris inserindo um “tio” na abreviação dos seus nomes: Tio Rô, Tio Vini, Tio Ale... sem que eles tenham que ser, necessariamente, tios.

O nome da pastelaria era Tri Pastel, só que o Tio Ale achava que o nome de pastel afugentava quem quisesse apenas tomar uma cerveja, sem ter que comer. Além do que, pastel lembra fritura, e ninguém gosta de ficar com cheiro de fritura. Então o nome da pastelaria foi mudado pra Tri Bar. Como a gente já tinha apelidado o estabelecimento de Tripa, assim ficou, pra nós. Tripa.

Agora quem andasse perdido ali pela Goethe, em busca de um bar com uma gelada, sem que isso sugerisse comer um pastel de tomates secos ou strogonoff e sem ficar com cheiro de fritura, ali estava o Tri Bar, ou, pra nós, o Tripa.

Numa dessas noites de calor intenso eu tava no Tripa saboreando uma Boehmia com uns amigos e analisando os tipos que perambulavam pela movimentada Goethe. Nada perto da Lima e Silva, mas bem que ali na Goethe perambulam uns tipos muito estranhos. É o tio que vende rosas que tem a cara que parece aquelas máscaras de um dos presidentes americanos no filme Caçadores de Emoção, outro tiozinho todo torto que vende bilhetes de loteria com um casaco de lã, não importa a temperatura que faça, um casal de doidos que corre todas as noites de madrugada. Correr na volta do Parcão tudo bem, mas todas as noites, às 2h da manhã é bem estranho.

E tem também o anti-Cristo, um desses mendigos maltrapilhos com cabelos e barba grandes e aspecto de bastante sujo. Vestia uma camiseta No Stress preta já bem desbotada. Por vezes fico imaginando pegar uma criatura dessas, dar um banho e colocar uma roupa limpa. Garanto que algum poderia andar no nosso meio tranqüilamente.

E não foi que alguém teve essa idéia, só que sem a parte do banho... um magrão que tava ali no Tripa numa roda de amigos chamou o mendigo, que logo depois seria apelidado por eles de anti-Cristo. Foi só ele se aproximar da entrada do bar que o segurança já o barrou. Deve ter pensado que o mendigo ia entrar no bar pra pedir dinheiro pros clientes. Aí o tal magrão se levantou e foi falar com o segurança, disse que o mendigo era seu amigo e que estava o convidando pra tomar uma cerveja.

Meio que a contra gosto, o segurança permitiu que ele entrasse. O mendigo sentou-se à mesa com aquela galera, trouxeram-lhe um copo e serviram cerveja bem gelada. Brindaram e ele bebeu com gosto. Tava bem à vontade, até batia com a mão na perna no ritmo da música que tava tocando.

Não tardou muito, até que ocorreu a indisposição. O Tio Ale foi pessoalmente até a mesa e pediu que, se quisessem a companhia do mendigo, que colocassem a mesa no lado de fora do bar, quase na calçada. Sem cerimônia o grupo todo levantou-se e se instalaram na parte de fora, na grama. E o mendigo junto. Brindaram novamente e e beberam todos, não deixando que nada atrapalhasse a animação do grupo, que era grande.

- Que afudê! – foi só o que comentei.

Ficamos mais um tempo ali e fomos embora. Quando fui pagar pro Tio Ale, no caixa, ele já saiu se defendendo...

- Legal a atitude do cara, ali, só que ele podia ter levado o mendigo pra casa dele e ter dado uma cerveja. Tu não acha?
- Éeea... – concordei meio que desconcordando, com a cabeça inclinada.
- Pô, ninguém é obrigado a aturar o cara fedendo ali do seu lado.
- Pois é.. – na verdade eu não queria discutir aquilo.

Paguei a conta e saí. Achei a atitude dele meio preconceituosa, apesar de o argumento dele ser razoável. Se bem que eu não tinha sentido o tal fedor que ele se referia. Mas o preconceito é assim, uma breve leitura visual nos faz criar argumentos que, na maioria das vezes, são falhos.

2 comments:

Anonymous said...

É... tem que dar uma esfriada no coração para agüentar determinadas cenas.

Fiquei muito triste com aquele episódio do mendigo.

Os olhos encheram de lágrimas (normal, choro até com o desenho do ursos que dá na TVE. O desenho mostra algumas discrimações...), mas eu acho que ele estava faceirinho. Ele estava fumando, bebendo e batendo as mãos (no ritmo da música) nas pernas, acho que isso dever ser sinal de felicidade...

Beijinhos

Anonymous said...

discriminações

Minhas fotos no