Monday, March 27, 2006

Ele sabia das coisas...

Certo que ele tinha engolido uma enciclopédia, o Maurício Kroef. Certo! Eu era estagiário numa empresa de relógios-ponto eletrônicos pra concluir o segundo grau. O Maurício fazia estágio de engenharia, pela UFRGS. Engenharia Elétrica na UFRGS, o curso mais temido entre os espinhentos estudantes de eletrônica e afins do segundo grau. E o Maurício já estava lá, com conhecomento profundo sobre todas as coisas que conversávamos, em meio aos testes nas plaquinhas dos relógios-ponto.

Tinha horas que eu parava tudo e pensava: o cara só pode estar de sacanagem! Ele deslanchava a falar sobre a invasão russa à Auschwitz, em 45, travando batalha com os alemães. E falava aquilo com uma riqueza de detalhes que impressionava. Em seguida passava a falar de algum esporte, lembrando o medalha de ouro no lançamento de dardos nas olimpíadas de 68. Eu tentava passar para algum esporte mais popular, como futebol, mas aí ele vinha com a escalação completa da seleção olímpica do mesmo ano.

E olha que ele não era nerd, ao menos não parecia. Vivia falando das boemias com os colegas da engenharia nos bares da Cidade Baixa e das aventuras amorosas que passava. Mulheres das mais interessantes que conhecia na noite e acabavam enroscadas nos lençóis do seu apartamento. Eu ouvia aquilo admirado, com as mãos no queixo. As histórias que ouvia dos guris do colégio não passavam de uns amassos nos corredores do Parobé.

Um dia Maurício chegou com uma questão intrigante: que quando o cara tá muito apertado, muito apertado mesmo, a sensação de alívio ao urinar chega a ser melhor que a do gozo. Não pode! - Eu pensava. Não lembro muito bem, mas se não me engano, na época eu ainda não tinha experimentado tal prazer, o de atingir o clímax do orgasmo com uma mulher. Quem me dera! Mas era, sem dúvida, o que eu mais anseava. Agora ficar apertado eu já tinha ficado um monte de vezes, e até sabia que a sensação era maravilhosamente boa. As últimas gotas até vinham acompanhadas de um “Ahhhhhhhh....” Mas aquilo não podia ser melhor do que gozar, não podia.

Anos depois, já tendo passado por algumas aventuras carnais, lembrei da questão do Maurício. Esperei até a primeira festa, onde seria mais provável eu ficar apertado. O problema era que eu nunca conseguia reunir as duas sensações na mesma noite. Uma porque eu não era louco de ficar apertado e não ir ao banheiro, caso tivesse um por perto. Outra porque não era toda hora que se conseguia ir pra cama com uma mulher. A dúvida foi tomando conta de tudo o que eu queria saber.

Finalmente chegou o dia. Estava numa festa ali na Cristóvão. Elektra, acho que era. Os espelhos dos banheiros eram vazados e podia se ver quem estava no espelho do outro lado, no feminino. Ali o pessoal trocava olhares e, se fosse de interesse mútuo, encontravam-se depois na pista. O problema é que o banheiro era sempre muito cheio. Na última vez que fui ao banheiro, já bem apertado por conta da cerveja que tomávamos no balcão, pintou um desses olhares com uma menina do outro lado.

Já de volta ao balcão, eu ficava tentando achá-la na pista. Ela estava perto da parede oposta, me olhando. Fui até lá. Mal nos cumprimentamos e logo nos beijamos. Foi um beijo longo, bom, daqueles de esquecer até a música que tá tocando. Quase não conversamos. A sintonia dos beijos e das carícias apontavam pra que buscássemos um lugar mais apropriado pra continuar a noite. Não precisei perguntar.. e ela também não respondeu, apenas sorriu...

Mas eu tava muito apertado de novo. Precisava ir pela última vez ao banheiro. Ela ia me esperar perto do caixa. Enquanto cruzava a pista a situação foi se tornando crítica ao ponto de eu achar que não seguraria até chegar ao banheiro. E se tivesse fila? Ah, eu faria no corredor mesmo. Engraçado é que quando o cérebro sabe que tu tá te dirigindo pra um banheiro, fica praticamente impossível segurar, como se o tempo limite fosse dado por uma ampulheta.

Consegui chegar ao banheiro, só um magrão na fila. Apura que eu tô apertado – falei. Ele foi rapidinho e saiu. Escorei a cabeça na parede, abri as calças e aaahhhhhhhhhh.... Quando a gente bebe, é mais legal fazer xixi assim, com a cabeça escorada na parede.

Só que não fez o barulhinho tradicional na água do vaso..

PQP!!! PQP!!! PQP!!! PQP!!!

Na hora senti um quentinho escorrendo pela perna esquerda. Olhei pra baixo e constatei que minha noite acabara de ir por água abaixo, ou melhor, perna abaixo. Uma imensa mancha escura contrastou com o claro do jeans. O que eu ia fazer? Como ia me apresentar à moça todo mijado? Não tinha como.. E pior.. se eu contasse o que tinha acontecido e ela não se importasse?

Não, não, não.. eu é que não ia passar por tamanho mico. Além de ter que sair do banheiro todo mijado e, inevitavelmente, ouvir piadinhas. Já abri a porta com cara de brabo. Ai que alguém se atrevesse a falar alguma coisa. Passei pela pista sério, firme, sentindo agora, que a calça estava gelada. Poucas situações são piores que essa. Na hora não conseguia lembrar de nenhuma outra.

A moça estava lá, perto do caixa. Me avistou de longe e percebeu que não estava indo ao encontro dela. Não sei o que pode ter pensado, mas fui direto pra saída. Não dei nem tchau, nem olhei. Saí e fui embora, adiando mais uma vez a comparação sugerida pelo sábio Maurício. Ele que nunca deve ter se mijado nas calças.

1 comment:

Anonymous said...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAAHHAAHHAHAHAAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHAHAHA
Cara, simplesmente SENSACIONAL!!!
Manda pro David!! Tenho certeza q ele vai ler e pensar: bah, eu devia ter escrito isso!!!
Abraços amigo!!!

Minhas fotos no