Júlio Caribe adorava dar uma volta de barco pelas águas da praia do Coqueirinho. Ele passava o dia todo na praia e, volta e meia, aceitava uma carona pra aventurar-se nas águas de Coqueirinho. Ia de uma ponta a outra, ria, passava por trás da Ilha do Padre e voltava. Geralmente dava mais umas voltas no mesmo barco nos dias seguintes e depois ficava um bom tempo na praia. Mesmo que os barcos que andasse ainda estivessem por ali. Mesmo que o passeio tivesse sido ótimo. Até que surgia um outro barquinho. Um novo barco enchia os olhos de Júlio e trazia as lembranças da face oculta da Ilha do Padre. E lá ia ele. Mais uns dias de aventuras e lá estava Júlio de volta à praia.
Não faltavam conselhos ao Júlio Caribe largar de vez aqueles barquinhos e se empenhar num projeto maior. Já que ele gostava tanto das maravilhas do mar, que desse jeito de navegar numa embarcação de maior porte. Aí sim sairia dos limites da quase que totalmente conhecida praia do Coqueirinho. Outros mares o esperavam. Quem sabe uma volta ao mundo.
Mas o Julio Caribe sabia que esses barcos grandes davam muito trabalho. Depois de estar em alto mar, teria que enfrentar a tempestade que surgisse. Isso o assustava muito. Mas a expectativa das maravilhas que viria a descobrir o faziam pensar com mais carinho no assunto.
Na verdade Júlio já havia navegado numa embarcação dessas. Ficou por um bom tempo no mar. Só que quando viu-se no limite entre perder-se no Atlântico e continuar sua vidinha na prainha, não quis arriscar. Passou um bom tempo até assimilar o arrependimento. E por um bom tempo nem quis mais saber das aventuras nos barquinhos, por mais charmosos e insinuantes que fossem.
Anos depois Júlio do Caribe voltou a se embrenhar nas curvas que costeavam a Ilha do Padre e andou em alguns barcos bem interessantes. Alguns deles até guardavam um projeto de se tornar barcos maiores, mas Júlio não queria mais passar por aquele momento de escolha novamente. Só iria se entregar ao oceano quando estivesse convicto desde o primeiro dia.
Então o Júlio Caribe observou um fato que o intrigou. Ele podia muito bem perambular pela orla de Coqueirinho, dar umas voltas nos barquinhos que havia por ali, até aí tudo bem. Mas caso ele avistasse um desses barcos maiores, empolgantes, que poderiam levá-lo a águas distantes, tudo complicava. Os pequenos barcos se colocavam à frente do Júlio Caribe e não o deixavam chegar perto da embarcação que lhe empolgara.
Numa bela noite na Praia do Coqueirinho teve uma festa entre os locais. Júlio foi molhar os pés na água e avistou, ante a luz que vinha da lua cheia no horizonte, a silhueta de um belo veleiro. Ficou encantado, deslumbrado, leve... Cada parte do barco que a luz revelava fazia os olhos de Júlio brilharem mais.
É esse, pensou!
Por dias Júlio do Caribe passou a admirar e se encantar mais e mais no belo veleiro e imaginar a longa, maravilhosa e empolgante viagem que faria nele.
Sem saber dos seus planos, Júlio pode chegar sem problemas ao veleiro. Chegou a dar umas voltas pela praia, porém, ainda não era hora de o barco partir. E ele teve que voltar à praia. Nos dias seguintes as manobras do veleiro produziam ondas que não deixavam Júlio se aproximar. E nos dias em que ele chegava, não partiam.
Foi aí que ficou evidente que Júlio Caribe queria algo mais que uma volta na praia ou pela Ilha do Padre. Ele queria ganhar o Oceano.
Foi aí que Júlio Caribe descobriu quão turbulentas podiam ficar as águas da Praia do Coqueirinho pela fúria de alguns pequenos barcos. Tentaram afogá-lo, tentaram puxá-lo pra cima de outros barcos, tentaram fazê-lo voltar à praia. E ele voltava. Assim foram os dias seguintes, as semanas seguintes...
No comments:
Post a Comment