Thursday, May 04, 2006

Vamu dominá...

Comecei o mês com os ouvidos lapidados: America no Teatro do Sesi. Como era feriado do Dia do Trabalho, também era dia de Passe Livre. É incontestável que é uma ótima iniciativa essa de um dia de passagem grátis no mês. Pode parecer muito pouco o 1,85, mas tem gente que simplesmente não tem. E então as pessoas usam esse dia pra ir da Vila Elizabete, na zona leste até o Belém Novo, nos confins da zona sul, onde mora a irmã mais velha com sua penca de filhos.

Nos dias normais, uma pessoa gastaria, pra ir e voltar, sete reais e quarenta. Duas, quatorze e oitenta: quinze pila! Não é tão irrisório assim. O lance é que não são cinco famílias que passam por esse drama, de não ter o somatório dos múltiplos de 1,85, são trocentas mil famílias, cada uma com o bando de ranhentinhos a tira colo, sacolas mil e pacotes diversos. Resultado: todos os ônibus são lotados nesse dia. Sim, porque toda família desprovida dos 15 pilas tem parentes longe e precisa usar o dia de passe livre pra fazer a visita.

Até aí não teria problema, senão passar um pouquinho de aperto pra chegar à porta de trás. É que não são só as famílias que não têm os 7 ou 15 pilas, a gurizada que cresceu também não tem. E eles formam hordas. Medo! Eles se juntam em grupos de uns quinze, de uns 16 a 20 anos e saem pela cidade. Vão aos shoppings, praças de skate, todos juntos e barulhentos. Sinceramente, dá medo! Pode até ser que minha idade esteja contribuindo, mas tenho certo receio de bandos travestidos em bonés que tapam os rostos, óculos espelhados, bermudões até as canelas e correntes de cachorro penduradas em tudo que é parte do corpo.

Mas vamos lá, o show me esperava. Peguei um ônibus que passasse pela Assis Brasil e depois pegaria outro até a Fiergs. Passei a carteira pro bolso da frente e fiquei ali no corredor do meio. Uma mão no corrimão do teto e a outra verificando, vez que outra, os bolsos. Uma vez tirei a mão inteirinha de um guri de dentro do meu bolso, num jogo do Inter. Baita cara de pau! Não demorou muito e a horda dos acorrentados entrou. Por sorte consegui um lugar pra sentar. Aos gritos foram se acomodando no fundo do ônibus. Era notável o desconforto das pessoas, inclusive das mães daquelas famílias sem quinze pila.

Tudo fluía tranqüilo, apesar da bagunça. Até que, nas imediações do Carrefour, um deles grita: “AGORA VAMU DOMINÁ O T1”, seguido de um: “VAMOOOOOOOOO!!!!”

Como assim, “dominá o T1”? Seria o que eles estavam fazendo ali? Apenas entrar todos e fazerem prevalecer suas vozes sobre as demais? Ou não... ou algo como fazer o motorista mudar o itinerário? Ou pior.. um deles assumir o volante!!! Mais: um outro pular no banco do cobrador e resolver cobrar passagem em dia de Passe livre. Fiquei imaginando todas essas coisas enquanto desciam ali na parada do Itau. Tomara que os próximos passageiros tivessem a mesma sorte.

Cheguei são e salvo ao show. Apreciei aquela maravilhosa apresentação de folk-rock e voltei pra casa. Menos mal que na volta os ônibus estavam vazios e pude chegar tranqüilamente em casa. Mas foi bom encarar uma outra realidade, e nada melhor do que fazer isso num Dia de Passe Livre.

2 comments:

Anonymous said...

Viu, parabéns atrasado, não consegui comentar no outro tópico...
Sempre q posso dou uma passadinh aqui p/ ler os textos(muito bem escritos por sinal). Rio bastante...heheheh..
É só isso msmo...
Bjão

Anonymous said...

Hordas tu te puxou, hein?
Me lembrei da She-Ra, onde existia as hordas do Rodak (acho q era isso)...hahahahahaahhahaha
América = show de bola!!!
Abraços do amigo...

Minhas fotos no