Wednesday, June 21, 2006

Brincando na chuva..

Meu pai fica louco se saio de casa sem guarda-chuva quando está chovendo. “Olha o guarda-chuva!” – alerta ele enquanto tomo café. Sempre foi assim. E eu sempre tento dar um jeito de sair de fininho quando ele se distrai. Parece coisa de criança até.

Aliás, devo ter um que de criança que não me abandona. Por um lado dá um medo de, de repente, ter crescido e a mente não ter acompanhado. Mas por outro uma imensa alegria de ver graça em tudo. Mesmo quando me mantenho sério muitas vezes estou gargalhando por dentro. Digo isso por uma frase que ouvi dia desses: “Às vezes te vejo como uma criança.”

Na hora aquilo me soou estranho, quis saber o que, em mim, fazia passar essa imagem. Depois de um pouco de conversa, e de ver que não era uma crítica de uma imagem ruim, eu mesmo percebi muitos momentos dessa parcela criança.

Um deles, que me foi lembrado, foi o de apertar o botãozinho da sinaleira pra atravessar a rua. Um dia me disseram que dava choque, aquele botãozinho. E até hoje dá um friozinho cada vez que me aproximo da caixinha preta que o envolve. E talvez isso tudo se manifeste em trejeitos que fazem eu ter essa imagem.

E o que é ser criança? Não mais é que a faixa de idade em que temos um pouco mais de liberdade de expressão. Podemos brincar ajoelhados ou mesmo debruçados com carrinhos réplicas de Ferraris; encher o tanque de água simulando uma lagoa, podemos criar diálogos falando sozinhos, enfim, uma série de coisas que, se fizéssemos hoje, seríamos chamados de loucos.

À criança se dá essa liberdade, e até se criam escudos que defendem esses atos. Aquelas rodelas de couro costuradas nos joelhos das calças de abrigo pra poder se ajoelhar à vontade sem rasgar a roupa. Lembram? Parece ridículo hoje, não? Mais ridículo é imaginar um adulto brincando ajoelhado e criando diálogos imaginários com bonequinhos no meio da sala.

Então, já que minhas calças não podem ter as rodelas de couro nos joelhos, tampouco posso brincar ajoelhado ou criar diálogos com meus bonequinhos, recheio minha vida e, conseqüentemente, a de quem está ao meu redor com elementos que remetem à infância. Algum gesto, palavras, uma pronúncia errada propositalmente, lembrança dos brinquedos e das brincadeiras da época.. tudo para buscar e provocar o riso na sua forma mais pura e limpa.

Um riso puro e limpo. Feliz de quem não tem vergonha de mostrar sua parcela criança e assim o conserva. Muito melhor do que ter saudade de bons momentos é ter a consciência desses momentos e vivê-los intensamente, ainda que com jeito de criança. É o que torna cada instante eterno. Um durante sem gosto de acabar. Um agora com perfume de ontem e desejo de amanhã.. um enquanto um tanto quanto sem fim.

2 comments:

Anonymous said...

Não tô dizendo??? Reforço meu mail de hoje: tudo começa com uma inocência de criança e acaba com "que p_ _ _ _ _ é essa??" hahahahaha... Texto com final "maravilhoso" hein??
Beijooos da Pi.

Anonymous said...

Q mimo...

Adoro qdo tu fala desses assuntos...meu coração vai junto contigo até as lembranças do passado...e como era lindo e perfeito.

Bjos queri !

Minhas fotos no