Wednesday, August 23, 2006

Gelo...

Era pra ser um simples alô de boa tarde. A semana terminava, e sempre é bom demarcar que "hoje é sexta-feira!". Parece que as horas seguintes passam mais depressa depois de ouvir um "Hoje é sexta-feira!". Pois eu iria fazer meu anúncio de que era sexta e tentar tornar as horas seguintes mais doces na vida de alguém.

Mas ela não atendeu. E antes que pensasse qualquer besteira de que não quisesse falar comigo, me cortei: é muito atarefada! Em seguida o telefone tocou. Era ela. A mesma voz doce de sempre. Anunciei a sexta e deixei a palavra com ela. Falou, falou, falou. Disse que tudo corria bem. Até que hesitou..

- ...aqui vai tudo bem, daqui a pouco vou embora e... tsc, depois eu falo contigo.
- O que foi?
- Não, nada. Quero falar contigo, mas é melhor deixar pra depois.
- Pode falar..
- Não, depois eu converso contigo. Se bem te conheço tu não vai gostar.
- Tudo bem..

Se ela soubesse o frio na espinha que dá um "quero falar contigo", não o faria assim, como quem diz que vai ao supermercado comprar pão e leite. E era uma sexta, ainda teria a aula de Telejornal pra produzir. Certamente eu não agüentaria até às 23h para saber do que se tratava.

Logicamente as horas remanescentes da sexta, em vez de passarem mais depressa, estagnaram-se no meu relógio biológico e voltei para as oito da manhã. Meu raciocínio para a produção da matéria da aula travou. Não consegui mais pensar em nada que não naquele avassalador e determinado "quero falar contigo".

O que seria, meu Deus? Alguma crise repentina de ciúmes? Mas a troco de quê? Que eu saiba ela não teria nenhum elemento argumentativo para ciúmes. Uma difamação! Isso! Uma difamação. Com o atual engajamento político que vivemos, é natural que o brasileiro leve para a sua vida a parte suja da coisa. E passe a usar isso com as pessoas do deu dia-a-dia.

Assim, alguma amiga invejosa pode ter dito coisas a meu repeito. Sim, era isso. Só podia ser. E como eu faria pra criar uma argumentação em meu favor se sequer sabia qual era o assunto? Estava perdido. Ela, que tinha a bomba nas mãos, tinha todo o tempo pra pensar em como me aniquilar da pior maneira, caso eu não tivesse uma boa desculpa pra aquilo que ela sabia que não fiz. Mas como foi dito, eu que me defendesse. Eu estava perdido!

Tentei pensar em outra coisa. Mas nada me vinha. A matéria pra aula de telejornal! Não podia perder. Ainda faltava uma hora pra eu sair do trabalho e ir pra casa. Por sorte o chefe me pediu um favor casual que fez eu perder a atenção no tempo. Quando vi, já passava das dezessete e podia continuar me preocupando em casa e depois na aula.

Quantos meses, quanta dedicação, quanta coisa boa.. ploft! Assim! Não era justo! Pra piorar meu azar perdi o ônibus um pouquinho antes de chegar à parada. Depois, os semáforos levavam uma vida.. Ainda tinha a aula. Eu não iria agüentar! Termina a aula, professor! - eu implorava em silêncio. Agora eu já não sabia mais se queria mesmo enfrentar a situação ou protelar mais um pouco. A testa suava. Via os lábios do professor se movendo, mas não ouvia nada.

A aula terminou. E agora? Não tinha mais como fugir. Adentrei no T9 e sentei com o meu dilema. Lembrei de todos os momentos bons entre nós. Não era justo. Não era. Como ela podia acreditar em alguém que não conhecia a nossa história. Será que eu deveria apenas ligar e tentar conversar por telefone? Não. Ia ser homem e encarar de vez aquela situação.

A bateria do meu telefone acabou, pra piorar a situação. E eu não lembrava o número do apartamento. Só faltava, agora, era tocar no apartamento errado. Daí sim. E acordar algum tiozão velho, gordo e ranzinza, justamente na hora da sua janta sagrada. Era o meu dia de desgraça mesmo. Apertei o botão, cheio de medo.

- Oi..
- Oi, tô aqui embaixo..

A voz até que era a mesma voz suave de sempre. Primeiro bom sinal. Talvez não fosse tão grave assim. Ou ela estaria esperando pra me aniquilar depois, pra não fazer escarcéu ali na rua. Subi quieto. Ela me olhava. Nesse momento os olhos falavam muito mais do que qualquer palavra. Depois de alguns instantes ela lascou, mas aind suave..

- Tu estás tão quieto..
- Eu sou quieto.
- Hahahaha
- Hahahaha

Risadas.. outro bom sinal, mas podiam ser risadas sarcásticas. Então fui ao ponto:

- Tu disse que queria falar comigo..
- ..(silêncio)
- O que foi?
- Hahahahahhahahhahahahhahaha não acredito! Eu nem lembrava mais! Hahahahhahaa!!!
- Fala, por favor!
- Ah não, agora vou te deixar mais curioso..
- Tu não quer ir na formatura, amanhã, é isso?
- Hahahahahaha! Claro que é. É só isso!

Eu me odeio!

1 comment:

Anonymous said...

RDTR!!!
Copataaaas!!! Somos todos copatas!

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