Que sorte a minha, de ter uma relação muito bem encaminhada! Quando o diferencial é o que conta, alguns pré-requisitos parecem ser imprescindíveis. E hoje vejo que minha carga de conhecimentos gerais está muito aquém do mínimo necessário numa eventual disputa feminina. A não ser que o meu diferencial fosse esse: a falta de pré-requisitos. Meus conhecimentos gerais como argumento amoroso me colocariam num nível de grau médio incompleto. Ou “cursando” para dar uma idéia de alguém que mantém o aprendizado.
Quando ouvi pela primeira vez “petit gâteau”, imaginei tratar-se de um afrancesamento de alguma expressão afim de não explicitar o significado diante de quem não interessasse se fazer ouvir. Estava no Habib’s com uns amigos depois de uma festa. Achei que as gurias estivessem comentando sobre algum “gatinho” nas mesas alheias. Meses depois li a tal palavra no cardápio do mesmo estabelecimento, mas não fiz questão de ver do que se tratava. Em restaurante árabe, o nome da comida não faz a menor diferença para a escolha do prato.
Entre meus tropeços e dribles, como no primeiro gol do Sóbis na final da Libertadores, marquei o início da mais bela conquista. Mesmo com minha desfavorável deficiência de conhecimentos. Meu mundo, agora, estava inserido no universo feminino: o universo das bases e dos glitter, dos scarpins, dos channel e, como não podia deixar de ser, dos petit gâteau.
Numa dessas conversas, as gurias riam muito de um episódio justamente denominado “petit gâteau”, ocorrido com uma delas, dias antes. Ela tinha começado a sair com um carinha. Uma festinha aqui, um barzinho ali... até que ele a convidou para uma janta mais íntima, com vinho e tudo mais. A proposta era ótima. Tudo se encaminhava muito muito bem, a cada detalhe que incrementava a tão esperada noite, ela se enchia de pensamentos prazerosos. Tanto que ela se prontificou a providenciar a sobremesa. Certamente um prato no nível do que era preparado: o Petit Gâteau!
- Vou fazer um Petit Gâteau para sobremesa!
E todo o enlevo que fora construído a cada “Huuuummm” proferido aos sussurros desandou em segundos. Como se alguém acendesse a luz no instante que antecede o primeiro beijo...
- Quê!?
- Petit Gâteau.. vou fazer pra nós, de sobremesa...
- Quê que é isso?
- Ah.. deixa pra lá.. um docinho..
Assim desandou também a maquiagem e todo o tesão daquela noite. Houve a janta, que comeram e beberam tanto até quase não deixarem espaço para o Petit Gâteau - que até agora ele não tinha aprendido a pronunciar – houve também a sobremesa e, por conta desta, o sono.
Monday, November 27, 2006
Wednesday, November 22, 2006
Um simples crachá...
Trabalho há nove anos nessa empresa, e até hoje não consigo me adaptar a alguns “processos”, como denominam. Desde que entrei aqui muita coisa mudou. Mudou horário, mudou endereço, mudaram pessoas. Menos o salário, esse sim poderia ter mudado. Mas tudo bem. Ruim com ele, pior sem.
Por graças nunca tivemos uniforme, embora uma vez eu tenha tentado padronizar minhas roupas de trabalho. Comprei três camisas e três calças azuis. Iria me vestir todos os dias assim: calça e camisa azul. A calça num tom mais escuro, quase azul-marinho.
Minha idéia não teve um dia sequer de êxito. Meus colegas mais próximos, assim que lhes contei sobre a compra, me fizeram entender que ninguém - senão eu e eles - saberia que eu tinha três conjuntos daquela roupa e iriam achar que eu vestia sempre a mesma. E mais: se soubessem, aí sim me achariam um louco.
Por sorte não eram de boa qualidade e em pouco tempo acabei doando tudo pra campanha do agasalho. Poderia ter ao menos tirado uma foto com meu traje personalizado enquanto era novo. Aliás, tenho pouquíssimas fotos aqui do trabalho.
Uma coisa que mudou muito pouco para os demais e muito pra mim foi um pequeno retângulo plástico com um chip dentro: o crachá. O crachá! Tão pequeno e tão problemático... Há quem diga que o telefone é mais problemático. Até já foi. Mas esse último está durando bastante.
Há uns três anos teve uma sessão de fotos para o novo crachá com a nova marca da empresa. Crachá com chip interno e foto impressa, tri tecnológico. O ponto seria registrado apenas aproximando o crachá; as portas dos andares dariam acesso apenas ao pessoal do setor, todas essas facilidades que o tal chip poderia proporcionar. Ah, e as fotos seriam armazenadas em um banco de dados para facilitar uma eventual confecção de segunda via.
Mal sabiam eles (trato eles os detentores do poder, aquelas pessoas pelas quais passam a maioria dos processos burocráticos da empresa) que seriam tantas segundas vias, no meu caso. A segunda via mesmo eu nem lembro por que pedi. Acho que o meu crachá já veio em segunda via.
Um dia eu voltava do serviço da rua e fui pegar o crachá pra passar na catraca da portaria. Nada num bolso, nada no outro, nada em lugar nenhum. Tive que entrar com a identidade. Passei uma semana procurando e nada.
Pedi outro. (perdi outro)
Aí começaram os problemas. Tive que ligar pra um tal de Mr. Bean, como é conhecido nos bastidores. Um dos responsáveis pela segurança.
- Mas tu já pediste uma segunda via.
- Sim, eu sei. Mas eu perdi.
- Perdeu onde?
A velha pergunta...
- Não sei mesmo.
- Pois bem, me mande um email explicando o caso com uma justificativa.
Uma semana depois eu estava com meu crachá. Meu terceiro crachá. Eu havia ficado quase duas semanas me identificando na portaria e me desdobrando nos andares, pois os crachás de visitante só dão acesso a um andar específico. Cansei de ficar trancado no corredor entre o elevador e a porta do andar...
- E aí, Raul, o que anda fazendo por aí?
- Ah.. tô esperando o elevador! Mas que desligado que sou, esqueci de apertar o botão.
E voltava ao meu andar. Quando era muito urgente pegava carona com o crachá de quem estivesse passando. Mas, enfim, estava com meu crachá novinho em folha. Dois meses depois fui transferido e os carros iriam pra revisão. Naquela manhã o motorista, que havia tirado algumas coisas dos carros, veio na minha direção.
- Ó! Acho que isso é teu!
- Bah, obrigado! Onde estava?
- Tava caído embaixo do tapete do carro.
Eu, que antes estava sem o crachá, agora estava com dois! Dei jeito de dar sumiço em um, já que não funcionava mais. Não lembro ao certo quanto tempo durou, mas lembro a situação. Acabava de voltar da praia do Rosa com uns amigos. Isso era março de 2005. Logo depois que me largaram em casa o Pitoko me ligou avisando que tinha sido assaltado. Levaram o carro com tudo, inclusive a minha carteira que eu tinha esquecido no porta-luvas. Meu crachá estava dentro da carteira. Juro que foi o que mais senti falta.
Agora eu não tinha culpa de ter perdido. Afinal, assalto é assalto! Tudo bem, eu não precisava ter esquecido a carteira no carro, mas também podia ter sido assaltado junto.
Aqui eu chegava no auge da problemática: quando um caso de resolução aparentemente simples toma os sentidos de maneira a ensaiar desculpas a si mesmo. Por sorte, o respaldo do assalto era forte, e me fez seguir o processo do pedido.
Dessa vez sim, o senhor Mr. Bean reclamou como um irmão mais velho que nega uma bolachinha recheada ao caçula. Como se ele tivesse que tirar do próprio bolso uma quantia significativa para a produção do meu crachá. E era tão simples: achar meu nome no banco de dados e mandar imprimir um novo. Automaticamente o antigo não funcionaria mais. Mas de simples não teve nada. Tive que registrar ocorrência na polícia e mandar uma cópia, além de – novamente – explicar o caso por email. Mais de uma semana depois veio a resposta:
“Seu quarto crachá está à disposição no departamento de segurança.”
Aquele “quarto crachá” teve um peso tão grande que prometi: não mais passaria por aquela situação. Pelo menos enquanto seu Mr. Bean estivesse no “comando” da segurança. O caso deixava seqüelas. E o inevitável aconteceu. Em fevereiro desse ano, quando fui pro Rio, usei em alguns estabelecimentos o crachá como Identidade, uma vez que tinha o RG impresso. E em algum desses lugares devo tê-lo deixado.
Só fui me dar conta quando já estava em Porto Alegre, aí já era tarde. E eu é que não ia pedir outro. Azar! Todas as vezes que tinha que entrar no prédio sede me submetia àquela identificação com o RG e foto do computador. Aliás, que troço chato esse “Senhor, olha pra câmera!”
Assim fiquei. Quando ia a alguma outra empresa já me identificava com a identidade e dizia o nome da empresa. Mas sempre ouvia: “Posso ver o se crachá?” Dava vontade de dizer que tava lá no Rio, mas não. Respondia apenas que não tinha. Atrasava um pouco a entrada, mas dava certo. Isso até a semana passada. Tive que pedir para a segurança uma liberação para o pessoal de uma terceirizada e me indicaram uma funcionária. Fiquei contente por não ser o Mr. Bean. Aproveitei e perguntei como era o procedimento para pedir o crachá.
- Ah, é comigo mesmo! (cheguei a suspirar)
- É? E como eu faço?
- Me dá teu nome completo e a gente marca um dia pra tu vir bater a foto.
- Não.. te dou o número da matrícula. Já deve ter todos os dados aí.
- Ah.. é segunda via. Aí não é comigo.. (tava bom demais)
- Hum. E com quem é?
- É com o Fábio Irineu, no ramal 389.
- Tá, obrigado!
Pelo menos não era o Mr. Bean! Liguei para o tal Fábio Irineu.
- Alô!
- Fabio?
- Sim!
- Fábio, aqui é o Raul.. blá blá blá.. crachá .. blá blá blá.. segunda via..
- Tá. Faz o seguinte: explica isso num email e manda pro Mr. Bean.
Juro que quase chorei! Mas uma hora isso teria que acabar. Não poderia viver atrás de um medo de algo que não tinha acontecido. Estava decidido a conseguir meu crachá. Ia mandar o tal email, e se o Mr. Bean resolvesse complicar iria ouvir. Afinal, um funcionário não podia ficar sem a identidade funcional, oras! Em último caso faria o pedido pelo meu coordenador, e aí queria ver ele reclamar do meu “quinto crachá”. Esperei chegar a hora de ir embora. Escrevi o email com “CRACHÁ” no assunto e saí. Queria esquecer daquilo pelo menos até o dia seguinte, e aproveitar minha noite como se nunca houvera problema algum com meu crachá.
Na manhã seguinte nem lembrava mais. Liguei o micro e, como de costume, uma lista com vários documentos não lidos. Entre eles um se destacava: “Re: CRACHÁ” E minha manhã, que começara tão boa, logo se encheu de todas aquelas preocupações de como eu responderia à altura aquele sósia do Mr. Bean. Era, sem dúvida, o auge da problemática de novo. A relação com o Mr. Bean se tornava quase pessoal. Mas eu precisava abrir o email. Enchi o peito, fechei os olhos por um instante e li:
“Ok, estamos providenciando um novo.
Abraço!”
Por graças nunca tivemos uniforme, embora uma vez eu tenha tentado padronizar minhas roupas de trabalho. Comprei três camisas e três calças azuis. Iria me vestir todos os dias assim: calça e camisa azul. A calça num tom mais escuro, quase azul-marinho.
Minha idéia não teve um dia sequer de êxito. Meus colegas mais próximos, assim que lhes contei sobre a compra, me fizeram entender que ninguém - senão eu e eles - saberia que eu tinha três conjuntos daquela roupa e iriam achar que eu vestia sempre a mesma. E mais: se soubessem, aí sim me achariam um louco.
Por sorte não eram de boa qualidade e em pouco tempo acabei doando tudo pra campanha do agasalho. Poderia ter ao menos tirado uma foto com meu traje personalizado enquanto era novo. Aliás, tenho pouquíssimas fotos aqui do trabalho.
Uma coisa que mudou muito pouco para os demais e muito pra mim foi um pequeno retângulo plástico com um chip dentro: o crachá. O crachá! Tão pequeno e tão problemático... Há quem diga que o telefone é mais problemático. Até já foi. Mas esse último está durando bastante.
Há uns três anos teve uma sessão de fotos para o novo crachá com a nova marca da empresa. Crachá com chip interno e foto impressa, tri tecnológico. O ponto seria registrado apenas aproximando o crachá; as portas dos andares dariam acesso apenas ao pessoal do setor, todas essas facilidades que o tal chip poderia proporcionar. Ah, e as fotos seriam armazenadas em um banco de dados para facilitar uma eventual confecção de segunda via.
Mal sabiam eles (trato eles os detentores do poder, aquelas pessoas pelas quais passam a maioria dos processos burocráticos da empresa) que seriam tantas segundas vias, no meu caso. A segunda via mesmo eu nem lembro por que pedi. Acho que o meu crachá já veio em segunda via.
Um dia eu voltava do serviço da rua e fui pegar o crachá pra passar na catraca da portaria. Nada num bolso, nada no outro, nada em lugar nenhum. Tive que entrar com a identidade. Passei uma semana procurando e nada.
Pedi outro. (perdi outro)
Aí começaram os problemas. Tive que ligar pra um tal de Mr. Bean, como é conhecido nos bastidores. Um dos responsáveis pela segurança.
- Mas tu já pediste uma segunda via.
- Sim, eu sei. Mas eu perdi.
- Perdeu onde?
A velha pergunta...
- Não sei mesmo.
- Pois bem, me mande um email explicando o caso com uma justificativa.
Uma semana depois eu estava com meu crachá. Meu terceiro crachá. Eu havia ficado quase duas semanas me identificando na portaria e me desdobrando nos andares, pois os crachás de visitante só dão acesso a um andar específico. Cansei de ficar trancado no corredor entre o elevador e a porta do andar...
- E aí, Raul, o que anda fazendo por aí?
- Ah.. tô esperando o elevador! Mas que desligado que sou, esqueci de apertar o botão.
E voltava ao meu andar. Quando era muito urgente pegava carona com o crachá de quem estivesse passando. Mas, enfim, estava com meu crachá novinho em folha. Dois meses depois fui transferido e os carros iriam pra revisão. Naquela manhã o motorista, que havia tirado algumas coisas dos carros, veio na minha direção.
- Ó! Acho que isso é teu!
- Bah, obrigado! Onde estava?
- Tava caído embaixo do tapete do carro.
Eu, que antes estava sem o crachá, agora estava com dois! Dei jeito de dar sumiço em um, já que não funcionava mais. Não lembro ao certo quanto tempo durou, mas lembro a situação. Acabava de voltar da praia do Rosa com uns amigos. Isso era março de 2005. Logo depois que me largaram em casa o Pitoko me ligou avisando que tinha sido assaltado. Levaram o carro com tudo, inclusive a minha carteira que eu tinha esquecido no porta-luvas. Meu crachá estava dentro da carteira. Juro que foi o que mais senti falta.
Agora eu não tinha culpa de ter perdido. Afinal, assalto é assalto! Tudo bem, eu não precisava ter esquecido a carteira no carro, mas também podia ter sido assaltado junto.
Aqui eu chegava no auge da problemática: quando um caso de resolução aparentemente simples toma os sentidos de maneira a ensaiar desculpas a si mesmo. Por sorte, o respaldo do assalto era forte, e me fez seguir o processo do pedido.
Dessa vez sim, o senhor Mr. Bean reclamou como um irmão mais velho que nega uma bolachinha recheada ao caçula. Como se ele tivesse que tirar do próprio bolso uma quantia significativa para a produção do meu crachá. E era tão simples: achar meu nome no banco de dados e mandar imprimir um novo. Automaticamente o antigo não funcionaria mais. Mas de simples não teve nada. Tive que registrar ocorrência na polícia e mandar uma cópia, além de – novamente – explicar o caso por email. Mais de uma semana depois veio a resposta:
“Seu quarto crachá está à disposição no departamento de segurança.”
Aquele “quarto crachá” teve um peso tão grande que prometi: não mais passaria por aquela situação. Pelo menos enquanto seu Mr. Bean estivesse no “comando” da segurança. O caso deixava seqüelas. E o inevitável aconteceu. Em fevereiro desse ano, quando fui pro Rio, usei em alguns estabelecimentos o crachá como Identidade, uma vez que tinha o RG impresso. E em algum desses lugares devo tê-lo deixado.
Só fui me dar conta quando já estava em Porto Alegre, aí já era tarde. E eu é que não ia pedir outro. Azar! Todas as vezes que tinha que entrar no prédio sede me submetia àquela identificação com o RG e foto do computador. Aliás, que troço chato esse “Senhor, olha pra câmera!”
Assim fiquei. Quando ia a alguma outra empresa já me identificava com a identidade e dizia o nome da empresa. Mas sempre ouvia: “Posso ver o se crachá?” Dava vontade de dizer que tava lá no Rio, mas não. Respondia apenas que não tinha. Atrasava um pouco a entrada, mas dava certo. Isso até a semana passada. Tive que pedir para a segurança uma liberação para o pessoal de uma terceirizada e me indicaram uma funcionária. Fiquei contente por não ser o Mr. Bean. Aproveitei e perguntei como era o procedimento para pedir o crachá.
- Ah, é comigo mesmo! (cheguei a suspirar)
- É? E como eu faço?
- Me dá teu nome completo e a gente marca um dia pra tu vir bater a foto.
- Não.. te dou o número da matrícula. Já deve ter todos os dados aí.
- Ah.. é segunda via. Aí não é comigo.. (tava bom demais)
- Hum. E com quem é?
- É com o Fábio Irineu, no ramal 389.
- Tá, obrigado!
Pelo menos não era o Mr. Bean! Liguei para o tal Fábio Irineu.
- Alô!
- Fabio?
- Sim!
- Fábio, aqui é o Raul.. blá blá blá.. crachá .. blá blá blá.. segunda via..
- Tá. Faz o seguinte: explica isso num email e manda pro Mr. Bean.
Juro que quase chorei! Mas uma hora isso teria que acabar. Não poderia viver atrás de um medo de algo que não tinha acontecido. Estava decidido a conseguir meu crachá. Ia mandar o tal email, e se o Mr. Bean resolvesse complicar iria ouvir. Afinal, um funcionário não podia ficar sem a identidade funcional, oras! Em último caso faria o pedido pelo meu coordenador, e aí queria ver ele reclamar do meu “quinto crachá”. Esperei chegar a hora de ir embora. Escrevi o email com “CRACHÁ” no assunto e saí. Queria esquecer daquilo pelo menos até o dia seguinte, e aproveitar minha noite como se nunca houvera problema algum com meu crachá.
Na manhã seguinte nem lembrava mais. Liguei o micro e, como de costume, uma lista com vários documentos não lidos. Entre eles um se destacava: “Re: CRACHÁ” E minha manhã, que começara tão boa, logo se encheu de todas aquelas preocupações de como eu responderia à altura aquele sósia do Mr. Bean. Era, sem dúvida, o auge da problemática de novo. A relação com o Mr. Bean se tornava quase pessoal. Mas eu precisava abrir o email. Enchi o peito, fechei os olhos por um instante e li:
“Ok, estamos providenciando um novo.
Abraço!”
Monday, November 13, 2006
Quando um casal apaixonado resolve passar um fim de semana na serra, não quer dizer que seu passado de trapalhadas seja abandonado...
...e quem sabe até volte a mostrar-se vivo
Os finais de semana na Capital costumam ser bastante agitados: um barzinho aqui, futebol, um aniversário ali, um almoço em família acolá.. sempre tem alguma coisa. Azar de quem espera passar a semana para poder namorar em paz.
Há quem diga que uma das virtudes do Homem, é observar aquilo que o cerca, e mudar o que precisa ser mudado. Ou pelo menos tentar. Pois bem, para contrapor todo esse agito, propus algo diferente:
- A gente tem alguma coisa marcada pro final de semana que vem?
- Acho que não. Por quê?
- Queria te convidar para viajar..
A cena era de filme: um café com chantily, mãos dadas, olhares entre si, num abandono total do mundo exterior, vozes em sussurro.
- Vamos.. Pra onde?
- Ainda não sei. Qualquer lugar.
O destino só foi definido na quinta à noite. Gramado. Uma cidadezinha muito bonita e aconchegante na serra. Ideal para o que se propunha. De quebra ainda seríamos contemplados com o início das apresentações do Natal Luz. Tudo transcorrendo muito bem.
A passagem
Na sexta escolhemos uma pousada com quesitos básicos de benefício e custo, sendo um deles a proximidade do centro e da rodoviária. A sexta acabou e eu acabei esquecendo de comprar as passagens pela internet. Ir até a rodoviária, no Centro, era muito inviável. Saí da aula e fui num cyber. Depois de meia hora tentando entender o processo de compra, vi que era preciso primeiro fazer o depósito do valor, e mais 30 minutos para ser creditado no cadastro.
Fiz o depósito e fui embora. Precisaria de alguém com acesso à internet para entrar com o meu login e efetivar a compra. Não foi nada fácil. Nem possível. Todos os contatos imagináveis não estavam em casa ou não atenderam o telefone. Seria pelo horário: 0:22h? Provável que sim. Acordaríamos mais cedo, então, para tentar alguém pela manhã. O ônibus sairia às 8:45h. E toda essa função porque a atendente da rodoviária disse que os lugares se esgotariam em breve. Um pouco antes das oito da manhã acordei o Pitoko, que fez a mão da passagem. Amigo é pra essas coisas.. pra ser acordado antes das 8 e ter que acessar a internet pros amigos viajarem. Vou comprar uma água dele depois, pra agradecer.
A camareira
Fizemos a ficha de cadastro e subimos pro quarto. Largamos as bagagens, conferimos as acomodações e deitamos pra relaxar um pouco. Um beijo entre carícias selava o início do final de semana.
Clunckkk.. - Ãhhh!!!!
Olhamos para a porta. Lá estava a camareira, estática, com o susto estampado no rosto. Desculpou-se e saiu. A primeira grande risada. A melhor, talvez. Só a do trevo pode ter sido melhor..
Houve várias outras depois, pelos mais variados motivos. A do trevo, por exemplo.. Beijávamo-nos num canteiro virtual no meio da via, entre a praça e a outra calçada. Virtual porque era apenas pintado, não era elevado nem tinha meio-fio. Mas os motoristas entendiam que ali não se podia passar, e não o faziam. Mesmo assim ela se aproximou, primeiramente parecendo que pediria alguma coisa, ou uma informação, mas não.
- Desculpa, eu sei que não é da minha conta, mas por que vocês não saem do meio da rua? Daqui a pouco vem um maluco e passa com o carro por cima, aí vão morrer os dois abraçados. Vão ali na praça junto com o Papai Noel!
Outra vez aos risos saímos. E dos vários motivos, vale aquele que, se não existisse, nenhum desses motivadores externos nos arrancaria tanta alegria: o sentir-se bem. Não importava o lugar, não importava o que acontecesse, estávamos felizes, e assim ficamos. E é assim, entre o inusitado e o esperado, que vivemos e rimos de nós mesmos, todos os dias.
Wednesday, November 01, 2006
O vizinho de cima tem uma bicama...
Todas as noites, pontualmente onze e pouco, ele abre a bicama. É um ritual sagrado. Talvez mais certo que o churrasco de domingo do meu pai. Mas esse ritual só começou a ser notado de um tempo pra cá. Teve uma noite em que chegamos um pouco mais empolgados depois de uma festa, e acredito que ele tenha se incomodado com algum barulho de copos, ou risadas, ou.. enfim... Deu três batidas firmes.
Tum Tum Tum!!!
Um breve instante de silêncio e... uma gargalhada de duas vozes ultrapassou cada fresta e ecoou no apartamento de cima que, a partir daquele dia, foram intensificados consideravelmente. A única janela que faz barulho ao abrir ou fechar é a dele. Podemos ouvir também os passos fortes e, obviamente, o abrir e fechar da bicama. A bicama emite um som muito próprio, e aliada ao horário pontual, não tem como não rir. Os dias seguintes se passaram assim: a bicama abrindo e nós rindo. Passamos a fazer especulações sobre o tal Cara da Bicama, se ele morava sozinho, se era gordo (os passos firmes indicavam uma pessoa de peso considerável), se estaria há tempo sem fazer melhor uso da bicama que não para dormir, essas coisas.
Mas teve um dia que ele se enlouqueceu. Acho que novamente tínhamos voltado de uma festa. Empolgados.. Aí veio um primeiro estrondo. Muito forte. Parecia que alguém tinha batido de cabeça numa parede. Mas naquele momento nada do mundo exterior podia abalar o entusiasmo que nos acometia. Ao que o Cara da Bicama apelou:
TUM TUM TUM!!!
Muito mais forte dessa vez. Novo silêncio breve. Só que dessa vez a gargalhada teve de esperar um pouco mais...
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