Thursday, September 28, 2006

Cabelos brancos...

Que preocupações poderiam acometer um hippie? – fiquei pensando na volta da Puc, no T9. Não me considero um bom identificador de tribos. No meu tempo existiam os hippies, os punks, os black power, os mauricinhos e patricinhas, e os nem uma coisa nem outra, como eu. O máximo de “estranho” que á vesti poderia até me identificar como uma mistura de hippie com grunge – uma outra tribo, já dos anos 90 - Cabelos compridos, um óculos escuro redondo e camisa de flanela xadrez. Imagina que graça..

Pois bem, por sorte o passar dos anos me fez desistir dessas vestes radicais. Hoje, além desse grunge, que eu acho que já deve estar até ultrapassado, tem mais um monte de tribos novas, cada um com seus detalhes estranhos, como esse tal de Emo. Podem dizer o que quiserem, mas pra mim não passa de uma evolução do punk, agora com a permissão de peças coloridas e de banho, creio eu. Ainda assim um despropósito.

Apesar da minha deficiência de identificação, acho que tratava-se de um hippie mesmo: calça jeans meio surrada com as bainhas desfeitas, arrastando no chão, All Star surrado 9tudo era meio surrado), jaqueta jeans com forro em veludo e o cabelo daquele jeito.. estilo Jim Morrison e aparentemente sujo.

Essas coisas todas não me intrigavam, afinal, era a idéia que eu tinha de um hippie. Agora aqueles cabelos brancos não podiam estar ali. Ainda mais naquela quantidade num guri daquela idade. Devia ter, no máximo, uns 22 anos. Ele e sua cabeleira infestada de fios brancos. Sei bem que cabelos brancos podem ter as mais variadas origens, mas pra mim a que mais evidencia são as preocupações.

Tenho um amigo com uma quantidade considerável de fios brancos. Não vai demorar muito a ser chamado de grisalho. Só que ele é empresário do ramo de TI. Deve ter lá suas preocupações de empresário, seus investimentos, os riscos do mercado.. Coisas essas que, imagino eu, não deveriam preocupar um hippie como aquele do T9. O olhar perdido dele analisando uma franja na jaqueta não eram de alguém que estava preocupado nem com um provável aumento da passagem, quem dirá com a alta do dólar.

De que seriam então, aqueles fiapos albinos? Quase cheguei pra ele e perguntei: “O que te preocupa?”. Mas provavelmente ele olharia devagar pra mim e diria arrastando: “ãaahn!?” Não ia entender nada. Uma coisa é certa: devo ter ganho algum fio branco com esse hippie.

Tuesday, September 19, 2006

Teresa...

Em pouco menos de um mês, Tobias teria de avaliar tudo o que tinha de indispensável em seu apartamento. Ia se mudar para Natal, no Rio Grande do Norte para acompanhar o projeto de instalação de equipamentos de sua empresa naquela cidade.
Como não tinha muito tempo, e a idéia era ficar, no máximo um mês, levou apenas roupas, o notebook, o dvd e alguns discos.
Apesar de o projeto ser no nordeste, o trabalho ocuparia o dia todo, inclusive os finais de semana, e não teria muito tempo para o lazer, tampouco para dar conta de algo que o preocupava há algumas semanas: conhecer alguém.

Na verdade, Tobias não queria apenas conhecer alguém. Depois da segunda semana despindo-se apenas para o chuveiro, a idéia de conhecer alguém especial dava espaço a ter uma mulher em sua cama, nem que fosse por algumas horas. Suas últimas experiências não tinham sido muito encantadoras, por isso a idéia de alguém especial. Uma mulher que o provocasse, que desenvolvesse um bom diálogo sobre coisas interessantes, que tivesse um bom perfume e um olhar instigante. Coisa que não provara ultimamente. Não por ele não despertar interesse nas mulheres especiais. Tobias tinha lá seus predicados, tanto que chegava a trocar algumas palavras nas festas com tipos bastante cobiçados. Porém, Tobias carregava consigo um incrível dom para o azar.

Quase que todas as conversas ao telefone que tínhamos após as festas eram iniciadas por ele com um desanimador “ai meu Deus..!” Parecia que tudo conspirava contra quando conhecia, enfim, alguém interessante. Era o pneu do carro que furava, a chave que quebrava na fechadura, uma dor de estômago repentina e avassaladora. Aliás, isso era um dos piores inimigos de Tobias. Sempre acontecia uma dessas tragédias que faziam com que as moças fossem embora indignadas, crentes que eram elas, as azaradas por darem chance a um tipo tão atrapalhado. Talvez fossem.

Essas eram suas últimas lembranças no campo “mulher”. Nada consolador para quem aumentava o jejum a cada dia. Estava decidido que não iria apelar para o sexo pago. Acreditava que podia conquistar uma mulher que não fosse uma representante comercial do amor. E essa mulher estaria em Natal.

Depois de dias e noites trabalhando no projeto, Tobias resolveu que ia encerrar mais cedo as atividades e tomar uma cerveja. Foi ao hotel, tomou um banho e saiu. No bar, percebia que algumas mulheres o olhavam. Mulheres não muito bonitas, diga-se. Tobias era um tanto paciente. Com a notícia de que ficaria mais um mês no projeto, sem direito a visitar sua casa, decidiu que, naquela noite encerraria seu jejum sexual, nem que a mulher em questão na tivesse nada de interessante ou especial.

Uma morena de cabelos e blusalaranja estava só, numa mesa na parede. Tobias a viu assim que entrou, e posicionou-se estrategicamente no balcão ficando de frente pra ela. Parecia não tê-lo visto. Após algumas cervejas e olhares perdidos, a mulher de blusa laranja lança um olhar fulminante. Antes que pensasse em levantar-se do balcão do bar, a moça veio na sua direção. Sentou-se ao seu lado. Segurava uma garrafa de cerveja pelo gargalo e tomava no bico, o que deixou Tobias inseguro.

- Teresa.
- Oi.. meu nome é Tobias.

Um brinde e um gole.

Trocaram algumas poucas palavras até que ela insinuasse irem para um motel. Ele pagou a conta, e saiu logo atrás dela. Sem mãos dadas, sem beijos. Como se ele apenas seguisse o rastro de seu perfume de maçã. Ela tinha o perfume com aroma de maçã, e ele queria morde-la. Ela o aguardava do lado de fora. O comprimento da saia revelava uma perna bem torneada. Entraram no carro e ela indicou-lhe o caminho. Apenas apontando o braço longo, quase não trocaram palavras. Tobias suava na testa, quase tremia. Por sorte não lembrou de sua sina de azar. Subiram para o quarto, ao que Teresa saltou sobre Tobias, atirando-o por sobre a colcha de cetim.

- Aaaaai..
- O que foi..? – sussurrou ela.
- Nada.. nada..

Sua cabeça tinha batido no controle remoto da tv. Era o sinal que Tobias não queria receber. Num só movimento, Teresa arrancou as roupas e foi preparar a banheira. Antes, falou-lhe ao ouvido:

- Vou te dar um banho..

Enquanto ele tirava a roupa ela abriu a torneira da banheira para aquecer. Ela o olhava nos olhos, fulminante. Enfim Tobias encerraria seu jejum num verdadeiro banquete. Teresa era toda sedução. Tobias a encara. Fica de costas para a banheira. Ela se aproxima. Ele recua. Sente que a banheira está logo atrás. Ela se aproxima mais.. ele decide cair de costas na água.

- Aaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!! Aaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!

Tobias salta por cima de Teresa e a atira no chão.

- O que foi, o que foi? – pergunta ela.

Ele apenas grita. Se retorce na cama com as mãos entre as pernas. Ela tenta ajudar, mas ele não deixa tocá-lo. Grita mais e mais. Teresa vai até a banheira e constata: havia ligado somente a água quente. No máximo. Ele recusa ajuda.

Ela vai embora.

Friday, September 15, 2006

Pessoas imprescindíveis...

De todas as pessoas que conheço, tiraria duas pra colocar a foto em quadro. De amigos tantos, e amores um, sempre presentes, esses dois passam a maior parte do tempo longe. Já tentei mudar isso, mas a vida me ensinou a compreender que os cotidianos são diferentes, e querer interferir seria como querer apreciar a beleza de um silvestre fora do habitat.

Considero o Régis e a Vi pessoas imprescindíveis por vê-los como personagens do palco da vida. Sempre fiz questão de que meus maiores amigos conhecessem-nos. Não pelas histórias malucas que protagonizaram. Mas sim pela maneira que interpretam a cada vez que nos contam sobre qualquer coisa, e assim fazem cada ato transformar-se num novo episódio.

O mais engraçado é que os dois não se conhecem.

Saudade, Régis; saudade Vi!

Inspiração...

- Tu vai querer ter uma cadeira de balanço um dia?
- Quê!?
- Uma cadeira de balanço, tu vai querer ter um dia?
- Ha ha.. como assim?
- Já tivemos uma lá em casa..
- Lá na vó tinha uma também.
- Ah sim.. mas a que tinha lá em casa era de criança, desse tamanho
- Bah!
- Mas eu te pergunto porque se um dia, quando fores bem velhinha, tu quiser ter uma, eu te embalo.

Wednesday, September 13, 2006

Extensão do domínio da luta...

Eu lia um trecho de Extensão do Domínio da Luta, do Houellebecq, quando percebi tratar-se de uma leitura típica do Rivo. Não lembrei-me dele pelo comportamento descrito, mas pelo tipo de leitura mesmo.

Assim que li, pensei: isso é a cara do Rivo, vou ligar! Quando ohei pro telefone, lá estava: 1 chamada não atendida - Rivo. Coisas desse tipo me deixam intrigado!

Eis o trecho:

Numa noite de dezembro (não trabalharia na segunda-feira, pois tinha tirado, contra sua vontade, quinze dias de férias "para as festas"), Gérard Leverrier voltou para casa e meteu uma bala na cabeça.

A notícia da morte dele não surpreendeu ninguém na Assembléia Geral, onde era, sobretudo, conhecido pelas dificuldades que tinha para comprar uma cama. Fazia alguns meses que ele se decidira a fazer a tal compra, mas a concretização do projeto se apresentava impossível. A anedota era contada, geralmente, com um leve sorriso irônico; porém, não havia motivo para riso; a compra de uma cama, na atualidade, apresenta, efetivamente, consideráveis dificuldades e pode mesmo levar alguém ao suicídio. Antes de tudo deve-se prever a entrega e, portanto, tirar uma manhã de folga, com todos os problemas ocasionados por isso. Às vezes, os entregadores não aparecem, o que nos obriga a pedir mais uma tarde de folga. Essas dificuldades se reproduzem com todos os móveis e eletrodomésticos; o acúmulo de aborrecimento resultante pode bastar para perturbar seriamente um ser sensível.

Mas a cama, entre todos os móveis, cria um problema especial, eminentemente doloroso. Se quisermos manter a consideração do vendedor, temos que comprar uma cama de casal, útil ou não, tenhamos ou não lugar para ela. Comprar uma cama de solteiro significa confessar publicamente que não se tem vida sexual e que não se pretende ter uma no futuro próximo (pois as camas duram, nos dias de hoje, muito tempo, bem além do prazo de garantia, entre cinco e dez, ou até mesmo vinte anos; é um investimento sério que o compromete praticamente para o resto da vida; as camas duram, em média, bem mais tempo que os casamentos, como se sabe bem mais). Mesmo a compra de uma cama de 140 cm de largura o faz passar por um pequeno-burguês mesquinho e limitado. Aos olhos do vendedor, a cama de 160 cm é a única que merece ser comprada; só assim você tem direito ao respeito dele, à sua consideração, quem sabe até a um leve sorriso cúmplice, exclusivo para as camas de 160.


Já tinha ouvido falar sobre o trecho, mas não tinha noção do quanto era envolvente e verdadeiro. Diariamente passamos por situações do tipo. Obviamente não culminam em suicídio, mas certamente numa morte momentânea onde a única coisa que se deseja é chegar em casa. Desistimos de negócios que empacam em burocracias ou pessoas ignorantes. Em outras situações, desistimos de fazer alguma coisa por criar mil dificuldades que, de fato, não existem.

Isso sem contar nos "parâmetros" pré-determinados aparentemente por ideais capitalistas de consumo, mas com uam boa dose de auto-afirmação por trás.

O óculos de natação tem que ser do tipo competição, anti-embaçante, senão não seremos vistos como nadadores de respeito, e sim comparados aos velhinhos da hidrginástica; os pneus do carro com sulco pra chuva e travas para terrenos acidentados nos dão a impressão de quem vai viajar no final de semana; até mesmo o mouse do computador, se não for com a luzinha embaixo (não digo infra-vermelho porque infra-vermelho é invisível), não seremos vistos como peritos da informática, que usam programas de ponta em empresas totalmente informatizadas; e a cama.. a cama, obviamente tem que ser de casal, de preferência com 160 cm de largura.

Monday, September 11, 2006

Dias de ansiedade e euforia...

Dias loucos, aqueles. A ansiedade tomava conta de cada ato e me fazia correr contra um tempo que não tinha prazo. Sabia que se mais demorasse, explicitaria o que tinha por vir. Depois de tantas voltas, a decisão que por vontade não tinha mais por que tardar.

No meio de tanta gente encontrei. Foi um momento de apreensão e ansiedade, mas que não podia ser contido. Ouvi gritos, ouvi choro, ouvi risos. E eram tão silenciosos diante daquele olhar.

A euforia da felicidade fez-me forte contra a ansiedade dos dias seguintes: os dias dos comunicados formais, marcados pela simplicidade e tomados por uma alegria geral. Toda a felicidade desejada é a que vivemos a cada dia. Assim seja..

Friday, September 08, 2006

Ainda sobre o podre amargo do doce...

"Pouco importa o julgamento dos outros.." Pois é isso. Quando fiquei entre os oito e os oito mil caí na mesmice do quase. Aos porcos da inveja nem oito nem nada; e a quem merece meu autêntico e verdadeiro amor, oito mil vezes mais amor.

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A decisão...

Faz umas duas semanas. Não vou dizer que fiquei dias pensando, analisando prós e contras, pesando isso e aquilo. Apenas dei um pouco mais de asas aos sentimentos e simplesmente voei, trazendo pela mão a dona do meu sorriso.

Alice...

Ali se adormecem meus boas noites
Ali se perdem meus olhos e lábios
Devolvidos em sorriso
Encantados pelo beijo

Ali se alimenta meu desejo
Na pele e no perfume
No carinho e no calor
Arrepio e suor

Ali se acordam meus bons dias
Das manhãs de todos meus amanhãs
Ali se faz ouvir ecoando

Te amo..!

Monday, September 04, 2006

O amargo do doce...

O corrompimento dos valores ultrapassa os próprios limites afim de que nele se afundem quem quer que seja. Chega mascarado em doce, mas esconde um amargo podre. E mais podre que a prostituição do corpo nas ruas é a da alma, que nem preço tem. Penso então, que não se trata mais de vaidade. Talvez uma tentativa de afirmação esnobe de uma derrotada.

A saga de uma uma alma derrotada, prostituída, é a eterna luta contra si mesma na perda contínua desses valores em atos inconseqüentes. Queria eu, que meus lábios não tivessem se movido a proferir tamanha desqualificação. Queria que o desprezo não me deixasse sentir o amargo.

Todos os gritos desesperados sucumbem no vácuo do sentimento a eles reservado. Por sorte o fervor do meu sangue noutro peito ainda guarda a ternura da criança que vi nascer. Nela deposito meu amor e recobro o bom de quem ainda não acha que o normal é a inversão do seu valor.

Friday, September 01, 2006

Aniversários...

Ontem, 31 de agosto, houve dois acontecimentos marcantes na história da civilização humana na Terra*.

Nos idos de 1963, dona Anair e seu Antônio selavam o matrimônio. Ela com dezoito e ele com trinta e quatro. Quatorze anos depois, essa união daria fruto a este que vos escreve. Então liguei pra escola onde minha mãe é merendeira pra parabenizá-la, já que ontem esqueci de fazê-lo pessoalmente. Só que o mané aqui é tão perdido pra data que o tal aniversário de casamento foi há um mês: 31 de julho. De qualquer forma ela disse que gostou. E assim, faz 43 anos e 1 mês que estão juntos.

Parabéns pai e mãe!

Mas ontem, ontem mesmo, foi o aniversário do grande amigo FM. Não liguei porque amanhã é o dia da grande festa, e pra ele não ficar se achando muito. Ele que só faz as coisas pra se aparecer. Sacanagem!

Amanhã a imperdível festa de aniversário desse figura. Vai ser ali na Asfinter, atrás do Beira-Rio com pulseirinhas e todas essas frescuras.

Site da festa

Parabéns, cara! Saúde e sorte sempre!

E hoje!!!

Hoje, é o aniversário do meu sobrinho e afilhado Douglas. Sim, aquele mesmo que dei por 2 anos seguidos o mesmo presente: uma Batalha Naval. Mas este ano prometo um presente diferente pro guri. Senão vai ser o primeiro caso de Padrinho deposto.
História da civilização humana na Terra.

(*) Quase sempre que alguém vai dar um discurso sobre qualquer coisa que envolva pessoas, enche lingüiça com essas obviedades. Só não descobri se é pra dar um tom de entendedor ou pra engordar o texto mesmo. "Pessoa humana", "civilização humana", e assim vai. Prestem atenção.

Tempo...

Tem uma hora que as projeções da vida começam a tomar forma. E ainda que sejam de surpresa, não são assustadoras. A não ser que não se entenda o porquê de ser tudo tão bom. Há quem perca a preciosidade do tempo tentando entender isso e há quem simplesmente aproveite o que há de bom, e gaste-o na medida em que surge nos relógios.

Assim cada momento se torna especial, por mais numerosos que sejam, e não há como não querer mais. Tudo o que a vida adiou passa a ter uma razão tão forte que os olhos de guri jamais permitiriam ver. Todo o tempo que passou, se não teve a mesma riqueza de alegria, foi a base para poder olhar pra trás e confirmar que o hoje é o presente maior, e que o futuro, a cada novo instante, novo presente se faz.

Minhas fotos no