Wednesday, November 22, 2006

Um simples crachá...

Trabalho há nove anos nessa empresa, e até hoje não consigo me adaptar a alguns “processos”, como denominam. Desde que entrei aqui muita coisa mudou. Mudou horário, mudou endereço, mudaram pessoas. Menos o salário, esse sim poderia ter mudado. Mas tudo bem. Ruim com ele, pior sem.

Por graças nunca tivemos uniforme, embora uma vez eu tenha tentado padronizar minhas roupas de trabalho. Comprei três camisas e três calças azuis. Iria me vestir todos os dias assim: calça e camisa azul. A calça num tom mais escuro, quase azul-marinho.

Minha idéia não teve um dia sequer de êxito. Meus colegas mais próximos, assim que lhes contei sobre a compra, me fizeram entender que ninguém - senão eu e eles - saberia que eu tinha três conjuntos daquela roupa e iriam achar que eu vestia sempre a mesma. E mais: se soubessem, aí sim me achariam um louco.

Por sorte não eram de boa qualidade e em pouco tempo acabei doando tudo pra campanha do agasalho. Poderia ter ao menos tirado uma foto com meu traje personalizado enquanto era novo. Aliás, tenho pouquíssimas fotos aqui do trabalho.
Uma coisa que mudou muito pouco para os demais e muito pra mim foi um pequeno retângulo plástico com um chip dentro: o crachá. O crachá! Tão pequeno e tão problemático... Há quem diga que o telefone é mais problemático. Até já foi. Mas esse último está durando bastante.

Há uns três anos teve uma sessão de fotos para o novo crachá com a nova marca da empresa. Crachá com chip interno e foto impressa, tri tecnológico. O ponto seria registrado apenas aproximando o crachá; as portas dos andares dariam acesso apenas ao pessoal do setor, todas essas facilidades que o tal chip poderia proporcionar. Ah, e as fotos seriam armazenadas em um banco de dados para facilitar uma eventual confecção de segunda via.

Mal sabiam eles (trato eles os detentores do poder, aquelas pessoas pelas quais passam a maioria dos processos burocráticos da empresa) que seriam tantas segundas vias, no meu caso. A segunda via mesmo eu nem lembro por que pedi. Acho que o meu crachá já veio em segunda via.

Um dia eu voltava do serviço da rua e fui pegar o crachá pra passar na catraca da portaria. Nada num bolso, nada no outro, nada em lugar nenhum. Tive que entrar com a identidade. Passei uma semana procurando e nada.

Pedi outro. (perdi outro)

Aí começaram os problemas. Tive que ligar pra um tal de Mr. Bean, como é conhecido nos bastidores. Um dos responsáveis pela segurança.

- Mas tu já pediste uma segunda via.
- Sim, eu sei. Mas eu perdi.
- Perdeu onde?

A velha pergunta...

- Não sei mesmo.
- Pois bem, me mande um email explicando o caso com uma justificativa.

Uma semana depois eu estava com meu crachá. Meu terceiro crachá. Eu havia ficado quase duas semanas me identificando na portaria e me desdobrando nos andares, pois os crachás de visitante só dão acesso a um andar específico. Cansei de ficar trancado no corredor entre o elevador e a porta do andar...

- E aí, Raul, o que anda fazendo por aí?
- Ah.. tô esperando o elevador! Mas que desligado que sou, esqueci de apertar o botão.

E voltava ao meu andar. Quando era muito urgente pegava carona com o crachá de quem estivesse passando. Mas, enfim, estava com meu crachá novinho em folha. Dois meses depois fui transferido e os carros iriam pra revisão. Naquela manhã o motorista, que havia tirado algumas coisas dos carros, veio na minha direção.

- Ó! Acho que isso é teu!
- Bah, obrigado! Onde estava?
- Tava caído embaixo do tapete do carro.

Eu, que antes estava sem o crachá, agora estava com dois! Dei jeito de dar sumiço em um, já que não funcionava mais. Não lembro ao certo quanto tempo durou, mas lembro a situação. Acabava de voltar da praia do Rosa com uns amigos. Isso era março de 2005. Logo depois que me largaram em casa o Pitoko me ligou avisando que tinha sido assaltado. Levaram o carro com tudo, inclusive a minha carteira que eu tinha esquecido no porta-luvas. Meu crachá estava dentro da carteira. Juro que foi o que mais senti falta.

Agora eu não tinha culpa de ter perdido. Afinal, assalto é assalto! Tudo bem, eu não precisava ter esquecido a carteira no carro, mas também podia ter sido assaltado junto.
Aqui eu chegava no auge da problemática: quando um caso de resolução aparentemente simples toma os sentidos de maneira a ensaiar desculpas a si mesmo. Por sorte, o respaldo do assalto era forte, e me fez seguir o processo do pedido.

Dessa vez sim, o senhor Mr. Bean reclamou como um irmão mais velho que nega uma bolachinha recheada ao caçula. Como se ele tivesse que tirar do próprio bolso uma quantia significativa para a produção do meu crachá. E era tão simples: achar meu nome no banco de dados e mandar imprimir um novo. Automaticamente o antigo não funcionaria mais. Mas de simples não teve nada. Tive que registrar ocorrência na polícia e mandar uma cópia, além de – novamente – explicar o caso por email. Mais de uma semana depois veio a resposta:

“Seu quarto crachá está à disposição no departamento de segurança.”

Aquele “quarto crachá” teve um peso tão grande que prometi: não mais passaria por aquela situação. Pelo menos enquanto seu Mr. Bean estivesse no “comando” da segurança. O caso deixava seqüelas. E o inevitável aconteceu. Em fevereiro desse ano, quando fui pro Rio, usei em alguns estabelecimentos o crachá como Identidade, uma vez que tinha o RG impresso. E em algum desses lugares devo tê-lo deixado.

Só fui me dar conta quando já estava em Porto Alegre, aí já era tarde. E eu é que não ia pedir outro. Azar! Todas as vezes que tinha que entrar no prédio sede me submetia àquela identificação com o RG e foto do computador. Aliás, que troço chato esse “Senhor, olha pra câmera!”

Assim fiquei. Quando ia a alguma outra empresa já me identificava com a identidade e dizia o nome da empresa. Mas sempre ouvia: “Posso ver o se crachá?” Dava vontade de dizer que tava lá no Rio, mas não. Respondia apenas que não tinha. Atrasava um pouco a entrada, mas dava certo. Isso até a semana passada. Tive que pedir para a segurança uma liberação para o pessoal de uma terceirizada e me indicaram uma funcionária. Fiquei contente por não ser o Mr. Bean. Aproveitei e perguntei como era o procedimento para pedir o crachá.

- Ah, é comigo mesmo! (cheguei a suspirar)
- É? E como eu faço?
- Me dá teu nome completo e a gente marca um dia pra tu vir bater a foto.
- Não.. te dou o número da matrícula. Já deve ter todos os dados aí.
- Ah.. é segunda via. Aí não é comigo.. (tava bom demais)
- Hum. E com quem é?
- É com o Fábio Irineu, no ramal 389.
- Tá, obrigado!

Pelo menos não era o Mr. Bean! Liguei para o tal Fábio Irineu.

- Alô!
- Fabio?
- Sim!
- Fábio, aqui é o Raul.. blá blá blá.. crachá .. blá blá blá.. segunda via..
- Tá. Faz o seguinte: explica isso num email e manda pro Mr. Bean.

Juro que quase chorei! Mas uma hora isso teria que acabar. Não poderia viver atrás de um medo de algo que não tinha acontecido. Estava decidido a conseguir meu crachá. Ia mandar o tal email, e se o Mr. Bean resolvesse complicar iria ouvir. Afinal, um funcionário não podia ficar sem a identidade funcional, oras! Em último caso faria o pedido pelo meu coordenador, e aí queria ver ele reclamar do meu “quinto crachá”. Esperei chegar a hora de ir embora. Escrevi o email com “CRACHÁ” no assunto e saí. Queria esquecer daquilo pelo menos até o dia seguinte, e aproveitar minha noite como se nunca houvera problema algum com meu crachá.

Na manhã seguinte nem lembrava mais. Liguei o micro e, como de costume, uma lista com vários documentos não lidos. Entre eles um se destacava: “Re: CRACHÁ” E minha manhã, que começara tão boa, logo se encheu de todas aquelas preocupações de como eu responderia à altura aquele sósia do Mr. Bean. Era, sem dúvida, o auge da problemática de novo. A relação com o Mr. Bean se tornava quase pessoal. Mas eu precisava abrir o email. Enchi o peito, fechei os olhos por um instante e li:

“Ok, estamos providenciando um novo.

Abraço!”

Monday, November 13, 2006

Quando um casal apaixonado resolve passar um fim de semana na serra, não quer dizer que seu passado de trapalhadas seja abandonado...



...e quem sabe até volte a mostrar-se vivo

Os finais de semana na Capital costumam ser bastante agitados: um barzinho aqui, futebol, um aniversário ali, um almoço em família acolá.. sempre tem alguma coisa. Azar de quem espera passar a semana para poder namorar em paz.

Há quem diga que uma das virtudes do Homem, é observar aquilo que o cerca, e mudar o que precisa ser mudado. Ou pelo menos tentar. Pois bem, para contrapor todo esse agito, propus algo diferente:

- A gente tem alguma coisa marcada pro final de semana que vem?
- Acho que não. Por quê?
- Queria te convidar para viajar..

A cena era de filme: um café com chantily, mãos dadas, olhares entre si, num abandono total do mundo exterior, vozes em sussurro.

- Vamos.. Pra onde?
- Ainda não sei. Qualquer lugar.

O destino só foi definido na quinta à noite. Gramado. Uma cidadezinha muito bonita e aconchegante na serra. Ideal para o que se propunha. De quebra ainda seríamos contemplados com o início das apresentações do Natal Luz. Tudo transcorrendo muito bem.

A passagem

Na sexta escolhemos uma pousada com quesitos básicos de benefício e custo, sendo um deles a proximidade do centro e da rodoviária. A sexta acabou e eu acabei esquecendo de comprar as passagens pela internet. Ir até a rodoviária, no Centro, era muito inviável. Saí da aula e fui num cyber. Depois de meia hora tentando entender o processo de compra, vi que era preciso primeiro fazer o depósito do valor, e mais 30 minutos para ser creditado no cadastro.

Fiz o depósito e fui embora. Precisaria de alguém com acesso à internet para entrar com o meu login e efetivar a compra. Não foi nada fácil. Nem possível. Todos os contatos imagináveis não estavam em casa ou não atenderam o telefone. Seria pelo horário: 0:22h? Provável que sim. Acordaríamos mais cedo, então, para tentar alguém pela manhã. O ônibus sairia às 8:45h. E toda essa função porque a atendente da rodoviária disse que os lugares se esgotariam em breve. Um pouco antes das oito da manhã acordei o Pitoko, que fez a mão da passagem. Amigo é pra essas coisas.. pra ser acordado antes das 8 e ter que acessar a internet pros amigos viajarem. Vou comprar uma água dele depois, pra agradecer.

A camareira

Fizemos a ficha de cadastro e subimos pro quarto. Largamos as bagagens, conferimos as acomodações e deitamos pra relaxar um pouco. Um beijo entre carícias selava o início do final de semana.

Clunckkk.. - Ãhhh!!!!

Olhamos para a porta. Lá estava a camareira, estática, com o susto estampado no rosto. Desculpou-se e saiu. A primeira grande risada. A melhor, talvez. Só a do trevo pode ter sido melhor..

Houve várias outras depois, pelos mais variados motivos. A do trevo, por exemplo.. Beijávamo-nos num canteiro virtual no meio da via, entre a praça e a outra calçada. Virtual porque era apenas pintado, não era elevado nem tinha meio-fio. Mas os motoristas entendiam que ali não se podia passar, e não o faziam. Mesmo assim ela se aproximou, primeiramente parecendo que pediria alguma coisa, ou uma informação, mas não.

- Desculpa, eu sei que não é da minha conta, mas por que vocês não saem do meio da rua? Daqui a pouco vem um maluco e passa com o carro por cima, aí vão morrer os dois abraçados. Vão ali na praça junto com o Papai Noel!

Outra vez aos risos saímos. E dos vários motivos, vale aquele que, se não existisse, nenhum desses motivadores externos nos arrancaria tanta alegria: o sentir-se bem. Não importava o lugar, não importava o que acontecesse, estávamos felizes, e assim ficamos. E é assim, entre o inusitado e o esperado, que vivemos e rimos de nós mesmos, todos os dias.

Wednesday, November 01, 2006

O vizinho de cima tem uma bicama...


Todas as noites, pontualmente onze e pouco, ele abre a bicama. É um ritual sagrado. Talvez mais certo que o churrasco de domingo do meu pai. Mas esse ritual só começou a ser notado de um tempo pra cá. Teve uma noite em que chegamos um pouco mais empolgados depois de uma festa, e acredito que ele tenha se incomodado com algum barulho de copos, ou risadas, ou.. enfim... Deu três batidas firmes.

Tum Tum Tum!!!

Um breve instante de silêncio e... uma gargalhada de duas vozes ultrapassou cada fresta e ecoou no apartamento de cima que, a partir daquele dia, foram intensificados consideravelmente. A única janela que faz barulho ao abrir ou fechar é a dele. Podemos ouvir também os passos fortes e, obviamente, o abrir e fechar da bicama. A bicama emite um som muito próprio, e aliada ao horário pontual, não tem como não rir. Os dias seguintes se passaram assim: a bicama abrindo e nós rindo. Passamos a fazer especulações sobre o tal Cara da Bicama, se ele morava sozinho, se era gordo (os passos firmes indicavam uma pessoa de peso considerável), se estaria há tempo sem fazer melhor uso da bicama que não para dormir, essas coisas.

Mas teve um dia que ele se enlouqueceu. Acho que novamente tínhamos voltado de uma festa. Empolgados.. Aí veio um primeiro estrondo. Muito forte. Parecia que alguém tinha batido de cabeça numa parede. Mas naquele momento nada do mundo exterior podia abalar o entusiasmo que nos acometia. Ao que o Cara da Bicama apelou:

TUM TUM TUM!!!

Muito mais forte dessa vez. Novo silêncio breve. Só que dessa vez a gargalhada teve de esperar um pouco mais...

Monday, October 30, 2006

Duas famílias, algumas etnias...

Esse negócio de família é engraçado. Entre o aniversário da avó da Alice e o da minha mãe no sábado, e o almoço lá em casa domingo, teve tudo daquilo de família. Coisas que eu não vivia há muito tempo, e que vieram num momento bom. Desde bolo, salgadinho, torta fria e refri até álbum de foto do tempo do Epa. Mãe, vó, tio, tia e cachorro completavam o ambiente familiar com todo seu requinte daqueles que se conhecem há algumas décadas. Nas mãos, cada foto do álbum amarelado fazia reviver na memória um momento distante que foi eternizado enquadrado num pedaço de papel. Tantos rostos e tão diferentes com o passar dos anos.. Rostos que ontem completavam a mesa do churrasco serão os mesmos que motivarão boas risada daqui alguns anos.

Uma nova família começa assim, a partir de duas que se formaram a partir de várias. Uma mistura de cores, de lugares, e da história de um passado bem marcado por rugas. De sonhos..

Monday, October 23, 2006

Aquela que espera...

Quando li Yves Simon, gravei este trecho. Inevitavelmente, a identifiquei nele. E assim pude ver e provar, não apenas da espera, mas da companhia, da cumplicidade, da entrega..

Tirou do bolso um objeto do tamanho de uma caixinha de fósforos. “É para você.” Rasguei o papel e descobri um minúsculo cofre de madeira fechado com um ganchinho. Abri. Sobre um papel de seda havia três minúsculas estatuetas, três mulheres nuas, de cores diferentes. Surpresa.
“Trouxe-as do México, sem ter a menor idéia do que se passava com você. Esse país conhece a arte de encontrar as portas secretas que levam ao interior dos pensamentos. Por que três mulheres? Porque uma história nunca vale por si mesma e no amor a armadilha consiste em estar obcecado por uma só. Observe a primeira. Tem os olhos abertos, os dedos apertados. É a mulher que dá. A segunda tem os dedos abertos. É a mulher que toma. Agora olhe com atenção a terceira. Tem os olhos fechados, as mãos cruzadas sobre o ventre. Que pensa dela?”
Não sabia o que responder.
Ela espera.


Ela me espera sem brincos. Ela não usa brincos. Ela se enfeita de beleza e de um perfume que tira meus pés do chão. Sigo atrás do rastro até a fonte do cheiro natural ainda não marcado pela boa química perfumada que escorre suavemente por sua pele. Besteira minha falar em fonte daquela que em fonte, toda se apresentou. Mas a concepção dos sentidos exige uma materialização daquilo que em conjunto torna pobre qualquer que fosse minha descrição. Do sentido da visão, a macroimagem segmentada dos olhos, uma fração do nariz, a textura do rosto e as pequeninas ranhuras da fina pele dos lábios.. Mas volto ao todo, pois falar da fina pele dos lábios já é lembrar do quão macio, do hálito quente, do gosto..

Meu presente é embriagar-me em toda tua fonte,e nela saciar os meus sentidos. Meu presente é ser tua fonte todos os dias. A ti meu carinho; dos meus olhos o reflexo do brilho dos teus; da minha boca o beijo que escapa da tua boca e por ti percorre.. és toda fonte e eu todo sentido.. de todo meu corpo, o calor, do meu coração, o amor..

Feliz aniversário, Alice..!

Tuesday, October 17, 2006

A vida de um atrapalhado é triste, mas pelo menos tem emoção!

O dia começava meio apreensivo: uma audiência me aguardava no início da tarde, e como nunca participei de uma audiência, isso era aceitável, ainda mais nas circunstâncias em que se apresentava.

Há umas três semanas chegou uma intimação. Já fiquei todo assustado. As poucas informações eram de que eu seria testemunha de acusação de um processo aberto pelo MP contra um figura sobre um delito de trânsito. Aí sim que fiquei mais perdido. Nunca processei ninguém, e não me lembro de ter sido testemunha de nenhum acidente.

Mas intimação é intimação. Fui até o Foro Central e retirei o mandado de notificação para a audiência – crime (medo!), a realizar-se dia 16/10. Como não tinha detalhes, perguntei ao oficial de justiça do que se tratava. Ele me encaminhou à vara de delitos de trânsito e lá pude ver o processo: era sobre o fatídico roubo das baterias do Seu Vivo. Só que com um detalhe importante: no processo consta como se eu fosse testemunha de um roubo ocorrido lá em Santa Maria.

No ano passado presenciei uma tentativa de furto numa das estações do Seu Vivo. Houve uma febre de furtos desse tipo no Estado. Na ocasião tive de registrar ocorrência e, um tempo depois, ir a Santa Maria reconhecer umas fotos de uns vagabundos que pegaram por lá. Até aí tudo bem. Reconheci a gurizada pelas fotos e prestei novo depoimento, ainda sobre o fato ocorrido aqui em porto.

Essas três semanas se passaram assim, meio intrigado. Não queria testemunhar algo que não vi. Acredito que como tenham pego esses vagabundos lá em Santa Maria, querem que eu testemunhe esse fato para que possam prendê-los. Também não quero que minha imagem seja exposta a eles. Fiquei pensando em tudo isso.

Na manhã do dia 16 conversei com um advogado da empresa e expliquei o caso. Ele pediu que eu encaminhasse a notificação por fax. Aproveitei e escrevi tudo, e que me respondesse o quanto antes, pois a audiência seria naquela tarde, às 14h. Menos de cinco minutos depois ele me ligou: disse pra que na próxima audiência eu fique calmo, e só fale sobre aquilo que eu realmente vi, e que foi aqui em Porto, mas que eu cuidasse muito da data e da hora, pois aquela já tinha acontecido às 9:05h da manhã, como estava escrito bem grande na notificação!

Wednesday, October 11, 2006

O que dizer da saudade..?

Tão rica e tão suave, palavra doce que faz mexer toda a boca iniciando em sorriso e ecoando carinho quando proferida. Assim fui lapidando e assimilando tão sublime sentimento que um dia fora entendido como, simplesmente, sentir falta de alguém longe.

Talvez seja ela – a saudade – uma das bases onde se alimentam as mais fortes relações. Uma sensação que começa no calor que se sente aumentar ante cada milímetro em que um lábio se aproxima do outro no ínfimo instante anterior ao beijo, quando as pálpebras descem em cortinas de veludo vermelhas de um espetáculo prestes a ocorrer, onde os atores são sua própria platéia. Um show que se faz sentir falta por cada segundo que nosso relógio consome. A saudade que se manifesta no instante em que os lábios, ainda em contato, úmidos, tomam movimento em sentidos opostos. O mesmo dos braços em leve toque superficial até que apenas as pontas dos dedos se fazem unir deixando pra trás pêlos eriçados como se suplicassem um retorno. Saudade do presente..

Thursday, October 05, 2006

Sorria, tu estás sendo observado!

Quem tu observa? Quem te observa? Andamos na rua, analisamos as pessoas: roupas, modos, comportamento, cabelos, alguma extravagância, peso excessivo, tudo. Alguns olham mais do que outros, que não querem nem saber se o cara do lado tem metade do cabelo vermelho, se usa uma meia de cada cor, se é muito feio, etc.

Eu perco boa parte do tempo que passo na rua analisando esses tipos. Me divirto muito. Foi assim que conhecemos – eu e Alice - o Magua (personagem de O Último dos Moicanos), um varredor de rua que passa o dia em frente a um estacionamento da Mauá. O apelidei assim pelo seu pitoresco cabelo (ou a falta de boa parte dele). Todos os dias ali, empunhando uma vassoura e uma pá com cabinho. Nunca o vi descansando no estreito espaço para passeio da movimentada Mauá.

Começamos a especular sobre a sua vida, se tinha mulher, se ela gostava dele mesmo com aquele cabelo, se tinham momentos íntimos.. é só ingressar na Mauá que meu olho já começa a procurá-lo. Cheguei ao ponto de perguntar à Alice se ela o tinha visto nessas duas semanas que não fui ao centro! Disse-me que só o viu na segunda. Eu estava com saudades da imagem do Magua, como pode?

Então ontem entrei nesse assunto: será que ele sabe que é observado todos os dias? Será que imagina todas essas especulações que fazemos? E nós!? Quem nos observa? Todos devemos ter algum detalhe que vai se apresentar como pitoresco a alguém. E se for alguém que nos tenha no campo de visão seguidamente, sempre vai atentar para tal detalhe. Assim, somos tantos e tantos Maguas varredores por aí. Quem vai saber?

Thursday, September 28, 2006

Cabelos brancos...

Que preocupações poderiam acometer um hippie? – fiquei pensando na volta da Puc, no T9. Não me considero um bom identificador de tribos. No meu tempo existiam os hippies, os punks, os black power, os mauricinhos e patricinhas, e os nem uma coisa nem outra, como eu. O máximo de “estranho” que á vesti poderia até me identificar como uma mistura de hippie com grunge – uma outra tribo, já dos anos 90 - Cabelos compridos, um óculos escuro redondo e camisa de flanela xadrez. Imagina que graça..

Pois bem, por sorte o passar dos anos me fez desistir dessas vestes radicais. Hoje, além desse grunge, que eu acho que já deve estar até ultrapassado, tem mais um monte de tribos novas, cada um com seus detalhes estranhos, como esse tal de Emo. Podem dizer o que quiserem, mas pra mim não passa de uma evolução do punk, agora com a permissão de peças coloridas e de banho, creio eu. Ainda assim um despropósito.

Apesar da minha deficiência de identificação, acho que tratava-se de um hippie mesmo: calça jeans meio surrada com as bainhas desfeitas, arrastando no chão, All Star surrado 9tudo era meio surrado), jaqueta jeans com forro em veludo e o cabelo daquele jeito.. estilo Jim Morrison e aparentemente sujo.

Essas coisas todas não me intrigavam, afinal, era a idéia que eu tinha de um hippie. Agora aqueles cabelos brancos não podiam estar ali. Ainda mais naquela quantidade num guri daquela idade. Devia ter, no máximo, uns 22 anos. Ele e sua cabeleira infestada de fios brancos. Sei bem que cabelos brancos podem ter as mais variadas origens, mas pra mim a que mais evidencia são as preocupações.

Tenho um amigo com uma quantidade considerável de fios brancos. Não vai demorar muito a ser chamado de grisalho. Só que ele é empresário do ramo de TI. Deve ter lá suas preocupações de empresário, seus investimentos, os riscos do mercado.. Coisas essas que, imagino eu, não deveriam preocupar um hippie como aquele do T9. O olhar perdido dele analisando uma franja na jaqueta não eram de alguém que estava preocupado nem com um provável aumento da passagem, quem dirá com a alta do dólar.

De que seriam então, aqueles fiapos albinos? Quase cheguei pra ele e perguntei: “O que te preocupa?”. Mas provavelmente ele olharia devagar pra mim e diria arrastando: “ãaahn!?” Não ia entender nada. Uma coisa é certa: devo ter ganho algum fio branco com esse hippie.

Tuesday, September 19, 2006

Teresa...

Em pouco menos de um mês, Tobias teria de avaliar tudo o que tinha de indispensável em seu apartamento. Ia se mudar para Natal, no Rio Grande do Norte para acompanhar o projeto de instalação de equipamentos de sua empresa naquela cidade.
Como não tinha muito tempo, e a idéia era ficar, no máximo um mês, levou apenas roupas, o notebook, o dvd e alguns discos.
Apesar de o projeto ser no nordeste, o trabalho ocuparia o dia todo, inclusive os finais de semana, e não teria muito tempo para o lazer, tampouco para dar conta de algo que o preocupava há algumas semanas: conhecer alguém.

Na verdade, Tobias não queria apenas conhecer alguém. Depois da segunda semana despindo-se apenas para o chuveiro, a idéia de conhecer alguém especial dava espaço a ter uma mulher em sua cama, nem que fosse por algumas horas. Suas últimas experiências não tinham sido muito encantadoras, por isso a idéia de alguém especial. Uma mulher que o provocasse, que desenvolvesse um bom diálogo sobre coisas interessantes, que tivesse um bom perfume e um olhar instigante. Coisa que não provara ultimamente. Não por ele não despertar interesse nas mulheres especiais. Tobias tinha lá seus predicados, tanto que chegava a trocar algumas palavras nas festas com tipos bastante cobiçados. Porém, Tobias carregava consigo um incrível dom para o azar.

Quase que todas as conversas ao telefone que tínhamos após as festas eram iniciadas por ele com um desanimador “ai meu Deus..!” Parecia que tudo conspirava contra quando conhecia, enfim, alguém interessante. Era o pneu do carro que furava, a chave que quebrava na fechadura, uma dor de estômago repentina e avassaladora. Aliás, isso era um dos piores inimigos de Tobias. Sempre acontecia uma dessas tragédias que faziam com que as moças fossem embora indignadas, crentes que eram elas, as azaradas por darem chance a um tipo tão atrapalhado. Talvez fossem.

Essas eram suas últimas lembranças no campo “mulher”. Nada consolador para quem aumentava o jejum a cada dia. Estava decidido que não iria apelar para o sexo pago. Acreditava que podia conquistar uma mulher que não fosse uma representante comercial do amor. E essa mulher estaria em Natal.

Depois de dias e noites trabalhando no projeto, Tobias resolveu que ia encerrar mais cedo as atividades e tomar uma cerveja. Foi ao hotel, tomou um banho e saiu. No bar, percebia que algumas mulheres o olhavam. Mulheres não muito bonitas, diga-se. Tobias era um tanto paciente. Com a notícia de que ficaria mais um mês no projeto, sem direito a visitar sua casa, decidiu que, naquela noite encerraria seu jejum sexual, nem que a mulher em questão na tivesse nada de interessante ou especial.

Uma morena de cabelos e blusalaranja estava só, numa mesa na parede. Tobias a viu assim que entrou, e posicionou-se estrategicamente no balcão ficando de frente pra ela. Parecia não tê-lo visto. Após algumas cervejas e olhares perdidos, a mulher de blusa laranja lança um olhar fulminante. Antes que pensasse em levantar-se do balcão do bar, a moça veio na sua direção. Sentou-se ao seu lado. Segurava uma garrafa de cerveja pelo gargalo e tomava no bico, o que deixou Tobias inseguro.

- Teresa.
- Oi.. meu nome é Tobias.

Um brinde e um gole.

Trocaram algumas poucas palavras até que ela insinuasse irem para um motel. Ele pagou a conta, e saiu logo atrás dela. Sem mãos dadas, sem beijos. Como se ele apenas seguisse o rastro de seu perfume de maçã. Ela tinha o perfume com aroma de maçã, e ele queria morde-la. Ela o aguardava do lado de fora. O comprimento da saia revelava uma perna bem torneada. Entraram no carro e ela indicou-lhe o caminho. Apenas apontando o braço longo, quase não trocaram palavras. Tobias suava na testa, quase tremia. Por sorte não lembrou de sua sina de azar. Subiram para o quarto, ao que Teresa saltou sobre Tobias, atirando-o por sobre a colcha de cetim.

- Aaaaai..
- O que foi..? – sussurrou ela.
- Nada.. nada..

Sua cabeça tinha batido no controle remoto da tv. Era o sinal que Tobias não queria receber. Num só movimento, Teresa arrancou as roupas e foi preparar a banheira. Antes, falou-lhe ao ouvido:

- Vou te dar um banho..

Enquanto ele tirava a roupa ela abriu a torneira da banheira para aquecer. Ela o olhava nos olhos, fulminante. Enfim Tobias encerraria seu jejum num verdadeiro banquete. Teresa era toda sedução. Tobias a encara. Fica de costas para a banheira. Ela se aproxima. Ele recua. Sente que a banheira está logo atrás. Ela se aproxima mais.. ele decide cair de costas na água.

- Aaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!! Aaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!

Tobias salta por cima de Teresa e a atira no chão.

- O que foi, o que foi? – pergunta ela.

Ele apenas grita. Se retorce na cama com as mãos entre as pernas. Ela tenta ajudar, mas ele não deixa tocá-lo. Grita mais e mais. Teresa vai até a banheira e constata: havia ligado somente a água quente. No máximo. Ele recusa ajuda.

Ela vai embora.

Friday, September 15, 2006

Pessoas imprescindíveis...

De todas as pessoas que conheço, tiraria duas pra colocar a foto em quadro. De amigos tantos, e amores um, sempre presentes, esses dois passam a maior parte do tempo longe. Já tentei mudar isso, mas a vida me ensinou a compreender que os cotidianos são diferentes, e querer interferir seria como querer apreciar a beleza de um silvestre fora do habitat.

Considero o Régis e a Vi pessoas imprescindíveis por vê-los como personagens do palco da vida. Sempre fiz questão de que meus maiores amigos conhecessem-nos. Não pelas histórias malucas que protagonizaram. Mas sim pela maneira que interpretam a cada vez que nos contam sobre qualquer coisa, e assim fazem cada ato transformar-se num novo episódio.

O mais engraçado é que os dois não se conhecem.

Saudade, Régis; saudade Vi!

Inspiração...

- Tu vai querer ter uma cadeira de balanço um dia?
- Quê!?
- Uma cadeira de balanço, tu vai querer ter um dia?
- Ha ha.. como assim?
- Já tivemos uma lá em casa..
- Lá na vó tinha uma também.
- Ah sim.. mas a que tinha lá em casa era de criança, desse tamanho
- Bah!
- Mas eu te pergunto porque se um dia, quando fores bem velhinha, tu quiser ter uma, eu te embalo.

Wednesday, September 13, 2006

Extensão do domínio da luta...

Eu lia um trecho de Extensão do Domínio da Luta, do Houellebecq, quando percebi tratar-se de uma leitura típica do Rivo. Não lembrei-me dele pelo comportamento descrito, mas pelo tipo de leitura mesmo.

Assim que li, pensei: isso é a cara do Rivo, vou ligar! Quando ohei pro telefone, lá estava: 1 chamada não atendida - Rivo. Coisas desse tipo me deixam intrigado!

Eis o trecho:

Numa noite de dezembro (não trabalharia na segunda-feira, pois tinha tirado, contra sua vontade, quinze dias de férias "para as festas"), Gérard Leverrier voltou para casa e meteu uma bala na cabeça.

A notícia da morte dele não surpreendeu ninguém na Assembléia Geral, onde era, sobretudo, conhecido pelas dificuldades que tinha para comprar uma cama. Fazia alguns meses que ele se decidira a fazer a tal compra, mas a concretização do projeto se apresentava impossível. A anedota era contada, geralmente, com um leve sorriso irônico; porém, não havia motivo para riso; a compra de uma cama, na atualidade, apresenta, efetivamente, consideráveis dificuldades e pode mesmo levar alguém ao suicídio. Antes de tudo deve-se prever a entrega e, portanto, tirar uma manhã de folga, com todos os problemas ocasionados por isso. Às vezes, os entregadores não aparecem, o que nos obriga a pedir mais uma tarde de folga. Essas dificuldades se reproduzem com todos os móveis e eletrodomésticos; o acúmulo de aborrecimento resultante pode bastar para perturbar seriamente um ser sensível.

Mas a cama, entre todos os móveis, cria um problema especial, eminentemente doloroso. Se quisermos manter a consideração do vendedor, temos que comprar uma cama de casal, útil ou não, tenhamos ou não lugar para ela. Comprar uma cama de solteiro significa confessar publicamente que não se tem vida sexual e que não se pretende ter uma no futuro próximo (pois as camas duram, nos dias de hoje, muito tempo, bem além do prazo de garantia, entre cinco e dez, ou até mesmo vinte anos; é um investimento sério que o compromete praticamente para o resto da vida; as camas duram, em média, bem mais tempo que os casamentos, como se sabe bem mais). Mesmo a compra de uma cama de 140 cm de largura o faz passar por um pequeno-burguês mesquinho e limitado. Aos olhos do vendedor, a cama de 160 cm é a única que merece ser comprada; só assim você tem direito ao respeito dele, à sua consideração, quem sabe até a um leve sorriso cúmplice, exclusivo para as camas de 160.


Já tinha ouvido falar sobre o trecho, mas não tinha noção do quanto era envolvente e verdadeiro. Diariamente passamos por situações do tipo. Obviamente não culminam em suicídio, mas certamente numa morte momentânea onde a única coisa que se deseja é chegar em casa. Desistimos de negócios que empacam em burocracias ou pessoas ignorantes. Em outras situações, desistimos de fazer alguma coisa por criar mil dificuldades que, de fato, não existem.

Isso sem contar nos "parâmetros" pré-determinados aparentemente por ideais capitalistas de consumo, mas com uam boa dose de auto-afirmação por trás.

O óculos de natação tem que ser do tipo competição, anti-embaçante, senão não seremos vistos como nadadores de respeito, e sim comparados aos velhinhos da hidrginástica; os pneus do carro com sulco pra chuva e travas para terrenos acidentados nos dão a impressão de quem vai viajar no final de semana; até mesmo o mouse do computador, se não for com a luzinha embaixo (não digo infra-vermelho porque infra-vermelho é invisível), não seremos vistos como peritos da informática, que usam programas de ponta em empresas totalmente informatizadas; e a cama.. a cama, obviamente tem que ser de casal, de preferência com 160 cm de largura.

Monday, September 11, 2006

Dias de ansiedade e euforia...

Dias loucos, aqueles. A ansiedade tomava conta de cada ato e me fazia correr contra um tempo que não tinha prazo. Sabia que se mais demorasse, explicitaria o que tinha por vir. Depois de tantas voltas, a decisão que por vontade não tinha mais por que tardar.

No meio de tanta gente encontrei. Foi um momento de apreensão e ansiedade, mas que não podia ser contido. Ouvi gritos, ouvi choro, ouvi risos. E eram tão silenciosos diante daquele olhar.

A euforia da felicidade fez-me forte contra a ansiedade dos dias seguintes: os dias dos comunicados formais, marcados pela simplicidade e tomados por uma alegria geral. Toda a felicidade desejada é a que vivemos a cada dia. Assim seja..

Friday, September 08, 2006

Ainda sobre o podre amargo do doce...

"Pouco importa o julgamento dos outros.." Pois é isso. Quando fiquei entre os oito e os oito mil caí na mesmice do quase. Aos porcos da inveja nem oito nem nada; e a quem merece meu autêntico e verdadeiro amor, oito mil vezes mais amor.

**********

A decisão...

Faz umas duas semanas. Não vou dizer que fiquei dias pensando, analisando prós e contras, pesando isso e aquilo. Apenas dei um pouco mais de asas aos sentimentos e simplesmente voei, trazendo pela mão a dona do meu sorriso.

Alice...

Ali se adormecem meus boas noites
Ali se perdem meus olhos e lábios
Devolvidos em sorriso
Encantados pelo beijo

Ali se alimenta meu desejo
Na pele e no perfume
No carinho e no calor
Arrepio e suor

Ali se acordam meus bons dias
Das manhãs de todos meus amanhãs
Ali se faz ouvir ecoando

Te amo..!

Monday, September 04, 2006

O amargo do doce...

O corrompimento dos valores ultrapassa os próprios limites afim de que nele se afundem quem quer que seja. Chega mascarado em doce, mas esconde um amargo podre. E mais podre que a prostituição do corpo nas ruas é a da alma, que nem preço tem. Penso então, que não se trata mais de vaidade. Talvez uma tentativa de afirmação esnobe de uma derrotada.

A saga de uma uma alma derrotada, prostituída, é a eterna luta contra si mesma na perda contínua desses valores em atos inconseqüentes. Queria eu, que meus lábios não tivessem se movido a proferir tamanha desqualificação. Queria que o desprezo não me deixasse sentir o amargo.

Todos os gritos desesperados sucumbem no vácuo do sentimento a eles reservado. Por sorte o fervor do meu sangue noutro peito ainda guarda a ternura da criança que vi nascer. Nela deposito meu amor e recobro o bom de quem ainda não acha que o normal é a inversão do seu valor.

Friday, September 01, 2006

Aniversários...

Ontem, 31 de agosto, houve dois acontecimentos marcantes na história da civilização humana na Terra*.

Nos idos de 1963, dona Anair e seu Antônio selavam o matrimônio. Ela com dezoito e ele com trinta e quatro. Quatorze anos depois, essa união daria fruto a este que vos escreve. Então liguei pra escola onde minha mãe é merendeira pra parabenizá-la, já que ontem esqueci de fazê-lo pessoalmente. Só que o mané aqui é tão perdido pra data que o tal aniversário de casamento foi há um mês: 31 de julho. De qualquer forma ela disse que gostou. E assim, faz 43 anos e 1 mês que estão juntos.

Parabéns pai e mãe!

Mas ontem, ontem mesmo, foi o aniversário do grande amigo FM. Não liguei porque amanhã é o dia da grande festa, e pra ele não ficar se achando muito. Ele que só faz as coisas pra se aparecer. Sacanagem!

Amanhã a imperdível festa de aniversário desse figura. Vai ser ali na Asfinter, atrás do Beira-Rio com pulseirinhas e todas essas frescuras.

Site da festa

Parabéns, cara! Saúde e sorte sempre!

E hoje!!!

Hoje, é o aniversário do meu sobrinho e afilhado Douglas. Sim, aquele mesmo que dei por 2 anos seguidos o mesmo presente: uma Batalha Naval. Mas este ano prometo um presente diferente pro guri. Senão vai ser o primeiro caso de Padrinho deposto.
História da civilização humana na Terra.

(*) Quase sempre que alguém vai dar um discurso sobre qualquer coisa que envolva pessoas, enche lingüiça com essas obviedades. Só não descobri se é pra dar um tom de entendedor ou pra engordar o texto mesmo. "Pessoa humana", "civilização humana", e assim vai. Prestem atenção.

Tempo...

Tem uma hora que as projeções da vida começam a tomar forma. E ainda que sejam de surpresa, não são assustadoras. A não ser que não se entenda o porquê de ser tudo tão bom. Há quem perca a preciosidade do tempo tentando entender isso e há quem simplesmente aproveite o que há de bom, e gaste-o na medida em que surge nos relógios.

Assim cada momento se torna especial, por mais numerosos que sejam, e não há como não querer mais. Tudo o que a vida adiou passa a ter uma razão tão forte que os olhos de guri jamais permitiriam ver. Todo o tempo que passou, se não teve a mesma riqueza de alegria, foi a base para poder olhar pra trás e confirmar que o hoje é o presente maior, e que o futuro, a cada novo instante, novo presente se faz.

Thursday, August 24, 2006

A fila do buffet...

Uma vez por semana, ao menos, almoço com uns amigos aqui perto. E tem um deles que sempre reclama tão logo entra no restaurante.

- Bah, vamos embora daqui, vamos comer em outro lugar. Detesto fila pra comer.

Até que ele tem certa razão. Mas a comida dali é boa, e levando em conta o tempo de deslocamento até outro estabelecimento, e o risco de também estar cheio, acabamos ficando. E ouvindo os reclames desse amigo.

- Detesto esperar pra comer.. – fica ele resmungando.

Fosse só a espera por uma mesa, pelo tal restaurante ser muito procurado, tudo bem. Mas existe também a fila no buffet. Essa sim é triste. Tem gente que simplesmente não pensa no conjunto. É a minha vez de servir e danem-se os outros.

A pessoa analisa os pratos, escolhe um sem nenhum defeitinho de fabricação. Depois o garfo, de preferência com nenhum dente torto ou amassado e, por fim, a faca, com o fio devidamente em dia. Isso são só os instrumentos. Aí então passa-se a escolher o arroz. Primeiro o figura dá uma amassada no arroz, pra soltar a parte a ser servida. Mas não toda a parte. Dentre os grãos soltos escolhe-se uma porção. E a pessoa de trás esperando. E a fila aumentando.

O alface! Tem gente que escolhe o alface! Eu imagino o trabalho da cozinheira soltando as folhas do pé e as lavando. Qualquer uma é uma. Estão todas devidamente selecionadas. Mas não, as pessoas precisam avaliar a área da folha de alface e a textura do verde.

E aqueles que tentam se enganar no buffet e se matam na sobremesa? Bah! Mulher então... Chegam a catar dois ou três grãozinhos de feijão, e duas bolinhas de ervilha. Se cai uma a mais no prato é retirada. Controle de qualidade extremo. E a fila aumentando. Depois comem dois pratinhos de pudim de leite condensado. Pra compensar – argumentam.

E assim os restaurantes ganham essa fama, de que são cheios e têm fila até pra servir o buffet. Certas pessoas deviam encarar um bandejão de RU pra ter mais modos.

Wednesday, August 23, 2006

Gelo...

Era pra ser um simples alô de boa tarde. A semana terminava, e sempre é bom demarcar que "hoje é sexta-feira!". Parece que as horas seguintes passam mais depressa depois de ouvir um "Hoje é sexta-feira!". Pois eu iria fazer meu anúncio de que era sexta e tentar tornar as horas seguintes mais doces na vida de alguém.

Mas ela não atendeu. E antes que pensasse qualquer besteira de que não quisesse falar comigo, me cortei: é muito atarefada! Em seguida o telefone tocou. Era ela. A mesma voz doce de sempre. Anunciei a sexta e deixei a palavra com ela. Falou, falou, falou. Disse que tudo corria bem. Até que hesitou..

- ...aqui vai tudo bem, daqui a pouco vou embora e... tsc, depois eu falo contigo.
- O que foi?
- Não, nada. Quero falar contigo, mas é melhor deixar pra depois.
- Pode falar..
- Não, depois eu converso contigo. Se bem te conheço tu não vai gostar.
- Tudo bem..

Se ela soubesse o frio na espinha que dá um "quero falar contigo", não o faria assim, como quem diz que vai ao supermercado comprar pão e leite. E era uma sexta, ainda teria a aula de Telejornal pra produzir. Certamente eu não agüentaria até às 23h para saber do que se tratava.

Logicamente as horas remanescentes da sexta, em vez de passarem mais depressa, estagnaram-se no meu relógio biológico e voltei para as oito da manhã. Meu raciocínio para a produção da matéria da aula travou. Não consegui mais pensar em nada que não naquele avassalador e determinado "quero falar contigo".

O que seria, meu Deus? Alguma crise repentina de ciúmes? Mas a troco de quê? Que eu saiba ela não teria nenhum elemento argumentativo para ciúmes. Uma difamação! Isso! Uma difamação. Com o atual engajamento político que vivemos, é natural que o brasileiro leve para a sua vida a parte suja da coisa. E passe a usar isso com as pessoas do deu dia-a-dia.

Assim, alguma amiga invejosa pode ter dito coisas a meu repeito. Sim, era isso. Só podia ser. E como eu faria pra criar uma argumentação em meu favor se sequer sabia qual era o assunto? Estava perdido. Ela, que tinha a bomba nas mãos, tinha todo o tempo pra pensar em como me aniquilar da pior maneira, caso eu não tivesse uma boa desculpa pra aquilo que ela sabia que não fiz. Mas como foi dito, eu que me defendesse. Eu estava perdido!

Tentei pensar em outra coisa. Mas nada me vinha. A matéria pra aula de telejornal! Não podia perder. Ainda faltava uma hora pra eu sair do trabalho e ir pra casa. Por sorte o chefe me pediu um favor casual que fez eu perder a atenção no tempo. Quando vi, já passava das dezessete e podia continuar me preocupando em casa e depois na aula.

Quantos meses, quanta dedicação, quanta coisa boa.. ploft! Assim! Não era justo! Pra piorar meu azar perdi o ônibus um pouquinho antes de chegar à parada. Depois, os semáforos levavam uma vida.. Ainda tinha a aula. Eu não iria agüentar! Termina a aula, professor! - eu implorava em silêncio. Agora eu já não sabia mais se queria mesmo enfrentar a situação ou protelar mais um pouco. A testa suava. Via os lábios do professor se movendo, mas não ouvia nada.

A aula terminou. E agora? Não tinha mais como fugir. Adentrei no T9 e sentei com o meu dilema. Lembrei de todos os momentos bons entre nós. Não era justo. Não era. Como ela podia acreditar em alguém que não conhecia a nossa história. Será que eu deveria apenas ligar e tentar conversar por telefone? Não. Ia ser homem e encarar de vez aquela situação.

A bateria do meu telefone acabou, pra piorar a situação. E eu não lembrava o número do apartamento. Só faltava, agora, era tocar no apartamento errado. Daí sim. E acordar algum tiozão velho, gordo e ranzinza, justamente na hora da sua janta sagrada. Era o meu dia de desgraça mesmo. Apertei o botão, cheio de medo.

- Oi..
- Oi, tô aqui embaixo..

A voz até que era a mesma voz suave de sempre. Primeiro bom sinal. Talvez não fosse tão grave assim. Ou ela estaria esperando pra me aniquilar depois, pra não fazer escarcéu ali na rua. Subi quieto. Ela me olhava. Nesse momento os olhos falavam muito mais do que qualquer palavra. Depois de alguns instantes ela lascou, mas aind suave..

- Tu estás tão quieto..
- Eu sou quieto.
- Hahahaha
- Hahahaha

Risadas.. outro bom sinal, mas podiam ser risadas sarcásticas. Então fui ao ponto:

- Tu disse que queria falar comigo..
- ..(silêncio)
- O que foi?
- Hahahahahhahahhahahahhahaha não acredito! Eu nem lembrava mais! Hahahahhahaa!!!
- Fala, por favor!
- Ah não, agora vou te deixar mais curioso..
- Tu não quer ir na formatura, amanhã, é isso?
- Hahahahahaha! Claro que é. É só isso!

Eu me odeio!

Friday, August 18, 2006

O rumo do sol nascente...

Num repente, o enigmático gerenciador de todos os relógios do mundo os fazia parar. Assim foi desde a tarde de quarta-feira. Parecia que aquela noite não chegaria nunca. Fiquei num estado que cheguei a temer pela saúde.

Até que, enfim, segurei aquela mão suave e dela não mais soltei. A frieza que me congelava os nervos se acabava com o calor daquele abraço, ligado por aquelas mãozinhas. E esse calor fez com que os relógios de todo o mundo voltassem a funcionar normalmente.

A tão temida tempestade chegou. Inevitavelmente chegou com ondas gigantes. Mas gigante também era a nossa bravura. A certeza do meu porto no espelho daqueles olhos e no calor daquelas mãos me seguraram em pé. E as onze velas inflaram como se 50 mil soprassem juntos, e o velho casco de carvalho foi como escudo durante todo o tempo.

Ao final, molhados e exaustos, sorrimos entre lágrimas. Vibramos, choramos, sorrimos. A tempestade passara. Tomamos o oceano, agora calmo. Naquele abraço adormeci. O tão sonhado amanhecer estava tão perto. O olhos no horizonte e o rumo do sol nascente. Sempre junto do meu porto seguro, com os dedos entrelaçados naquela mão suave, o calor daquele abraço e o brilho provocante dos olhos onde me perdi.

Tuesday, August 15, 2006

Porto seguro...

Quando diziam que as pessoas devem (ou deveriam) ter um porto seguro, sempre fiz pouco caso. Sempre me imaginei auto-suficiente, e resolvia as turbulências sofridas a minha maneira: na rua. Quase sempre deu certo. Porém, minha falta de medida na rua era proporcional ao que me afligia, embora sempre negasse passar por qualquer temeridade. Assim protagonizei histórias que serviriam de prato farto pra um personagem de desgraças.

Não vou dizer que me arrependo. Mas se eu fui alegre nos momentos de Tom Sem Freio, Exagerado, Nau à deriva, posso dizer que, ora bem ancorado, ora com um rumo bem definido com velas e leme na mesma direção, agora sou realmente feliz.

Ao oceano em meio a enormes ondas. Desta vez nenhuma delas foi capaz de nos levar de volta à terra firme. Talvez não tenhamos respeitado os perigos dos mares em outras investidas. E desta vez, com repeito e cautela, fomos onde nunca ninguém foi. E eis que me deparo com uma tempestade iminente. Não há tempo de voltar, senão enfrentá-la. É sabido que todas as forças, toda a perspicácia e toda audácia será necessária. E assim, com o devido respeito destemido, seremos recompensados com um imenso oceano, por hora calmo, apenas espelhando um sol forte. E um horizonte...

De minha parte, sei que só cheguei até aqui pela certeza das águas cristalinas e calmas do porto que vejo naqueles olhos. É neles que adormeço e revigoro para uma nova manhã. Não exatamente a certeza de uma volta, porque quem está sempre presente não precisa voltar. A dona desses olhos levo comigo. É a mão suave que vou segurar firme na hora da batalha final. Naqueles braços é que vou adormecer à espera do tão sonhado amanhecer.

Thursday, August 10, 2006

Um sonho vivo...

É de muito que criamos os sonhos. Os guris, logo que ganham os primeiros carrinhos de brinquedo, já começam a nutrir, nas suas cacholinhas de guri, a idéia de ter um carro quando adultos. Montam em pensamento carros dos mais incrementados, com aerofólios e instrumentos de ponteiro, turbo e insulfilm. O pior é que depois de adultos, uns esquecem e transformam os automóveis em carros alegóricos.

Mais tarde, nas aulas de geografia, são apresentados a mundos incríveis muito além das fronteiras do muro de casa. E desses mundos se formarão os sonhos das viagens, mas estes não serão restritos aos guris. As meninas receberão as mesmas aulas e terão também suas viagens dos sonhos.

Assim como os guris criam seus sonhos de carros, as gurias têm um sonho muito mais bonito, muito mais rico do que o materialismo de ter um carrão. Elas sonham com uma família e um lar. Talvez por brincarem de casinha e boneca, sei lá. Talvez por isso também, amadureçam mais cedo. Enquanto os porra-loucas dos guris se imaginam dentro de uma máquina a duzentos por hora, as gurias estão lá.. com um maridão, numa casa aconchegante embalando o doce sono de uma criança. Um sonho que chega a ser quase sagrado, esse das gurias.

Ainda hoje ouvi do amigão Régis a seguinte frase: "A família é a menor igreja do mundo!" Falou isso porque eu contei pra ele que ontem, quando fui sair pra ver o jogo do Inter, fui até o quarto e dei um abraço apertado no meu pai. "Sorte, pai!" – falei baixinho, mas com muita vontade. E isso é uma coisa muito rara. Lá em casa o carinho todo fica por conta da minha mãe. Mas foi bom aquele abraço forte. Um abraço esperado há anos. Certo que ele lembrou do calor daquele abraço e do "sorte" quando foi dormir.

E é esse sonho que vejo se realizar. Aquela guriazinha pequena de apelido tão miudinho vem me dizer que vai ter um Piolhinho. Ora mas que coisa mais linda! Num mesmo momento vejo uma mistura de sonho, festejo e realização. Quando percebo estar vivendo o melhor, quando percebo que não é o sonho que é real, mas sim que o real, de tão bom, parece sonho, percebo também que não é um presente único. E o que posso desejar é que seja uma criança de muitos sonhos. Sonhos de carrinhos, de bonecas, de um lar e, principalmente, de uma família.

Wednesday, August 02, 2006

Real encanto...

Tudo começou com um email. Um simples email, de poucas e simples palavras. Porém, de uma simplicidade pura e objetiva que naquele final de tarde despertavam algumas lembranças merecedoras de serem revividas. Não que outras lembranças boas sejam menos merecedoras, mas aquelas lembranças tinham um quê de promessa de que se revividas teriam muito mais a oferecer.

Mas depois de tanto tempo.. Poderia soar estranho. Se bem que todas as vezes, por mais que demorasse, tinham sido como um dia após o outro, apenas com um toque a mais de inspiração cativante. Talvez aquela coisa do sabor residual.

Assim, aquela saudação a quem a criatividade cativava, devolvida com um elogio, saudade, um beijo e reticências duplas, criativou a catividade em um nó que os passos seguintes foram empurrados em êxtase por instinto, lembrança e desejo. Uma certa serenidade ao telefone não ocultava que aquela mesma voz suave e doce tinha, pessoalmente, um gosto bem melhor.

O suficiente para que as pálpebras se fizessem cortinas de veludo às retinas num sonho acordado. Aos ouvidos uma resistência inicial destoava, e só serviu para alimentar a criatividade persistente. Ouvia por trás daquele não um sim. Um sorrateiro sim subliminar no leve tchau fazendo-me recorrer a um último apelo. Não podia deixar escorrer todo aquele enlevo solitário por entre os dedos. E antes que pendesse em frustração, uma rápida resposta de vontades ansiosas era trazida pelos ares e fazia rebrotar nos cantos dos lábios um sorriso. Alguém mais no mundo achava que aqueles sonhos eram merecedores de serem revividos.

E só mais uma pessoa no mundo era suficiente para que tais lembranças viessem à tona mutuamente, e era justamente dela que provinha a tal resposta radiante. Foi então selado, sem que percebessem, algo tão bom e sem carência de explicação que seria preservado em zelo mútuo pelo tão almejado tempo sem medida.

As horas seguintes foram de intensa expectativa. Minuto a minuto. Até que, enfim, chegou o momento da aproximação. Apesar da proximidade natural do abraço, apesar do calor e da certeza de um toque tenro e macio, os lábios hesitaram em tocar-se. Aguardaram até o primeiro brinde. Depois de alguns goles, risadas soltas e olhares que insistiam em se alinhar por mais movimentos que o corpo fizesse.. um beijo. O residual do sabor já dava sinais de que não se podia mais adiar.

Quando o desejo do corpo e a saudade dos olhos e do sorriso são cúmplices, não há força que seja contrária. Depois de alguns dias de assimilação, a comprovação de havia sim, muito mais a ser oferecido por reviver aquelas lembranças. Um exemplo, talvez um dos melhores, é a certeza de, a cada dia, acordar e ver que não se trata de um sonho. Ou melhor.. um real momento de tamanho encanto que se faz parecer sonho. A cada dia, a cada noite, a cada beijo..

Thursday, July 27, 2006

Pessoas complicadas...

Cortava um pedaço da fatia da pizza quatro queijos quando a conversa quebrou dos amenos “passa a mostarda.. passa o azeite.. obrigado!” para uma pergunta de opinião pessoal.

- O que tu acha das pessoas que passam uma imagem superficial?

O silêncio congelou a cena travando até mesmo o movimento do corte na fina fatia, enquanto na mente milhares de cenas carentes de opinião própria não deixavam opinar alheiamente.

- Se eu dissesse que são pessoas complicadas não estaria olhando pra mim.
- Hum.. eu não diria que tu és uma pessoa complicada. Aliás.. isso nunca seria uma coisa que eu diria sobre ti.
- Hum.. talvez seja por isso que estamos aqui. Pois bem.. sobre as pessoas que passam uma imagem de superficialidade.. eu diria que ninguém voltaria pra casa pensando: “Que pessoa interessante..!”

Terminei de cortar o pedaço e o levei à boca.

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Equilíbrio...

O grande problema é quando alguém se acha superior na relação. (ou inferior) Aí se pode cair na armadilha de achar que domina o sentimento da pessoa, e que manter a relação só depende de si. Aos poucos uma pequena brecha no sentimento vai se abrindo a novos interesses - não necessariamente a outra pessoa - mas se fica muito vulnerável. Podemos até não querer acreditar, mas a outra pessoa sente o afastamento. Conscientemente ou não, subestimamos os sentimentos apaixonados e acabamos subestimados pela sorte do amor.

Quando se vê a pessoa como uma igual, como segura de si e dos seus sentimentos, se sente uma vontade de conquistar novamente a cada minuto. Tudo o que se faz é em função de satisfazer a pessoa, de certa forma. E fazemos as coisas empolgados, não como obrigação. É preciso sentir um certo mistério. É preciso, em todos os beijos, o mesmo tesão do primeiro. Limpar as cinzas e dar espaço à brasa nova. O equilíbrio está na cumplicidade em querer manter o mesmo fogo, às vezes mais intenso, outras menos, sempre numa intensidade em que nenhum dos dois se queime, mas que se sinta calor. Equilíbrio a quem recai a sorte do amor.

Monday, July 24, 2006

A saga do telefone... (continuação)

Na terça-feira passada me ligaram pra dizer que “infelizmente não vai ser possível entregar seu telefone...”

Gelei! Tremi! Eu já tava chegando em casa... de noitezinha.. aquele frio.. Mas comecei a suar a testa na hora! Mas mantive a calma e deixei a moça continuar...

“...fora do endereço de correspondência! Só lá no prédio sede mesmo.”

Uuuuuffa!!! Disse que não tinha problema. Então ela deu o prazo de 5 dias úteis.

- Mas moça, 5 dias era a partir de ontem, quando fiz o pedido pela terceira vez!
- Não, senhor.. 5 dias conta a partir de hoje.
- (suspiro) tudo bem!

Aí ontem a nossa secretária lá do prédio sede ligou, dizendo que tava lá, o meu telefone. Bah.. inacreditavel!

Tá aqui agora, o bicho.. falando e tudo! Vamos ver quanto tempo dura!

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Do mar, teu rumo...

Dos olhos, o espelho de águas profundas por onde navego sem norte, guiado pela sorte do meu coração.
Dos cabelos, o vento em brisa, que sopra minha vela e traz pra perto o rumo incerto do horizonte.
Da pele, o calor das noites e madrugadas frias. Das enluaradas e quentes, o suor.
Das mãos, o carinho de quem não veleja mais sozinho. Abandonei a solidão.
Dos braços, o abraço que me conforta o peito onde teu rosto descansa.
Da boca os lábios, e destes, o beijo. De bom dia, de boa noite, de desejo.

Monday, July 17, 2006

A saga do telefone...

Nunca tive muita sorte com telefones celulares. Na verdade, nunca é muito tempo. Já pude sim, receber e fazer chamadas normalmente, olhar para o visor e ver ali as funções básicas prontas para serem usadas, terminar uma ligação e o telefone continuar ligado.. essas coisas que qualquer telefone celular faz.

Uma coisa que nunca fui mesmo, é exigente quanto aos extras. Capacidade de memória, câmera fotográfica, não sei quantos torpedos ao mesmo tempo.. essas frescuras. Telefone pra fazer e receber chamadas e pronto.

Ia tudo muito bem até meados de 2003. O bom e velho 5125 resistia a todas as provas às quais era submetido. Tombos sucessivos, o coitado sofria. E sempre manteve-se inteiro. A não ser a antena.. Ai ai! Será que nunca tive nenhum telefone que ficou intacto mesmo? Pois esse a antena vivia quebrada! Eu a colava com Super Bonder, mas não durava muito. Mas pelo menos funcionava!

Eis que ganhei um novo. Um 8260.. a vedete dos TDMA. Não durou 2 dias. Eu tava ali no posto da Silva Só esperando um amigo. Eu num carro e ele noutro. Eu tinha parado o carro ao lado da lojinha de conveniência: telefone novo no ombro esquerdo, cabeça torta pra esse ombro, copo de cerveja na mão esquerda e mão direita segurando o volante. Meu amigo pára o carro ao lado do meu e diz ao telefone: “olha pro lado!” Não tive dúvidas, virei a cabeça pro lado esquerdo. Blubpt! No mesmo instante senti que faltava um pesinho sobre o ombro esquerdo. Olhei pra dentro do copo e vi o telefone que ganhara havia dois dias submerso na cerveja.

Com umas sucatas de telefone consegui trocar o display. Funcionou até.. A tecla do número 2 ficou com um mau contato. Volta e meia eu o abria pra dar uns ajustes. Na festa de final de ano da vivo resolvi me atirar na piscina. Cheguei num colega de confiança e deixei com ele as chaves do carro, carteira e máquina fotográfica. Pulei na piscina! Com o telefone no bolso!!! EEEEEEEEEEEEEEE!!!! Apelidaram o telefone de Aquaplay! E o pior é que funcionou depois, por mais uns dias. No final de 2004, com o advento do CDMA, ganhamos aparelhos novos. Eu digo ganhamos pois trabalho na vivo e não precisamos comprar telefone. Eu tava passando a virada do ano em Imbé com uma turma de amigos, então, nova. Já estávamos no último dia do final de semana e fomos dar um pulo na praia. Eu tava ali, bem tranqüilo.. brincando na areia e tomando uma ceva. Até que veio uma onda invasora, daquelas que fazem todo mundo sair correndo e levantei-me correndo. A bolsa com as minhas coisas (máquina fotográfica, celular, carteira,...) tava um pouco longe de mim e alguém a levantou a tempo de não molhar. Molhou só a alça. Era uma bolsa dessas novas, com compartimento pra telefone onde? Exatamente! Na alça! Esse não teve nem choro, a água do mar fez o bichinho morrer na hora.

Fui fazer a solicitação na intranet. Nome completo, matrícula, Rg, tipo sangüíneo.. e passar pela aprovação de uns 5 gestores. Ao que passava uns 5 dias eu consultava no sistema. Pedido cancelado! Isso aconteceu umas 4 ou 5 vezes. Uma hora era porque não tinha o tal modelo no depósito, outra era porque um gestor esquecia de aprovar.. e a cada cancelamento desses eu tinha que contar toda a história por telefone antes de fazer um novo pedido.

Abre um parêntese

Nesse meio tempo eu fiquei usando emprestado um telefone do meu chefe. Durou as três semanas de novela do novo pedido. Fui carregar a bateria pra entregar a ele com um carregador de outra marca... Tééééc! Um cheirinho de queimado e nunca mais ligou. Tá aqui na gaveta até hoje.

Fecha.

Passadas as três semanas recebi o telefone. Bem bonitinho! Meio gay até! Branco com azul-claro, parecia uma saboneteira. Mas funcionava que era uma maravilha até o primeiro tombo. “Searching for network...” era a mensagem que aparecia no display. Aí tu dava uma torcida nele e ele voltava a funcionar. Fiquei nessa função de torcer o telefone até o final do ano passado, quando não adiantava mais torcida, porrada nem nada. Antes de fazer o novo pedido tive que pegar um laudo com a assistência técnica. Resultado do diagnóstico: “sem conserto”. Mais três semanas de novela de pedido na intranet e, enfim, um telefone novo!

Nunca entendi por que este telefone não funcionou direito. Não me lembro de tê-lo derrubado, nem de ter derramado nada nele. Mas logo que o recebi já começou a dar umas rateadas. Muito raramente, é bem verdade, mas rateava. Se desligava sozinho, aparecia aquela mensagem de “searching for network...”

Pra quê aquelas reticências??? Pra eu ficar esperando? Nunca achou a network, se quiserem saber. Tinha que desligar, tirar a bateria e ligar de novo. Só que o problema foi aumentando, até que não funcionou mais mesmo. Fiz uma intervenção cirúrgica com um papelzinho dobrado e o dito funcionou por uns 2 meses, rateando bem lá de vez em quando.

Hoje meu telefone tem a duração de uma chamada. Se ele não desliga durante a conversa, desliga no fim. Simplesmente apaga! Em todas, literalmente! Por conta disso me vi obrigado a pedir um novo telefone; conseqüentemente, a concordar com todos aqueles que dizem que o call center da vivo é o pior que existe.

Hoje foi a nona vez que liguei..

- Você está ligando do número tal tal tal... (como se eu não soubesse..) se quiser alguma informação de outra linha, digite o número da linha com o código de área.
- ...(digito o número)
- Após falar com um de nossos atendentes, não desligue! A vivo precisa da sua opinião. Carolina Queiroz, no que posso estar ajudando?
- Meu telefone.. blá blá blá..
- Senhor, qual o número do aparelho pra que eu possa estar olhando no sistema?
- Por que vocês pedem pra eu digitar o número se eu vou ter que dizer depois?
- Senhor, faz parte do procedimento. O senhor pode estar falando o número da linha?
- 51.. 99...
- Senhor, seu pedido foi cancelado porque o modelo pedido saiu de circulação. Estava dando muita reclamação.
- :| E vocês não iam me avisar? Por que pediram um outro número de contato?
- Sengundo consxta no sistema, foi tentado contato com o senhor e não foi conseguido.
- Ninguém tentou contato.
- Senhor, então eu não saberia estar lhe dizendo. O senhor terá que estar fazendo um novo pedido... blá blá blá...

E assim foi. Fiz um novo pedido que deve demorar uns 5 dias pra que chegue o aparelho. Isso, claro, se não ocorrer nenhum contratempo. Mantenho-vos informados.

Friday, July 14, 2006

Uma mesinha de três pernas...

Uma vez escrevi assim: que afinidades, química e querer estar com alguém, e só com este alguém eram as três premissas fundamentais para a manutenção de um relacionamento. Não apenas no sentido de duração, mas em intensidade, desejo constante, saudade nova renovada a cada instante.

Esses elementos seriam como uma mesa de três pernas, o número mínimo necessário para que se mantenha em pé. Se uma delas quebra, a mesa desaba. E sobre essa mesa se constrói aos poucos tudo o que vai sendo vivido, como um equilibrista que com habilidade coloca as taças de cristal, uma sobre a outra. É a fragilidade de toda a relação que investiu nos três pontos fundamentais.

Será que existiria algum quarto ou quinto ponto necessário para a mesinha se manter em pé? Ouvi falar de um banquinho de piano que vivia caindo, justamente por ter só três pernas. Onde entraria, por exemplo, uma situação em que se espera companhia, mas as duas partes não têm a mesma disposição?

Diferenças existem, e também são muito importantes. Acho que ninguém suportaria conviver com alguém completamente igual a si.. as mesmas manias, os mesmos defeitos, a mesma mecha no cabelo.. ia ser muito chato. Voltando à química, uma das bases fundamentais.. dois elementos distintos, com características diferentes, podem produzir uma mistura homogênea.

E quando existe a certeza de estar vivendo mutuamente o melhor momento, nenhuma diferença se contrapõe com vantagem a quaisquer daqueles três elementos. Apenas tempera a mistura, sem nunca deixar de ser homogênea..

E como um dia já escrevi..

Por todo um corpo, um sangue faz ferver, quando na retina de olhos brilhantes reflete a luz de uma união de formas, de forma que se perceba e sinta que nada disso se sente sozinho.

Monday, July 10, 2006

Quero viajar...

Acho que chega um momento na rotina das pessoas que faz com que elas precisem renovar os ares por uns dias. Pois bem, o meu chegou. E por graças, sorte e mais qualquer outra variante, não exclusivamente.

A primeira idéia de destino foi, obviamente, Bombinhas. Um lugar reservado a poucos felizardos. Sempre gostei de definir esse lugar em poucas palavras.. uma só, talvez: mágico!

Se for esse mesmo, o destino, será como reconhecer um lugar que tenho como uma peça extra da casa, reviver a brisa, o pisar descalço na areia, apreciar de ângulos diferentes as curvas que formam aquela maravilha.

Mas o rumo tomado for outro, da mesma forma será vivido intensamente por quem carece absorver o mais belo que há para se oferecer. Tanto as belas formas reservadas pela geografia, com seus verdes e demais coloridos, quanto a mística guardada nas entranhas arquitetônicas herdada de todos os povos que por ali tenham passado.

Um momento não apenas de apreciar beleza, mas viver e absorver a beleza. Algo como uma obra-prima única criada por artistas renomados, e que a cada ato vai tomando forma, sendo esculpida por quatro mãos de habilidade ímpar inspiradas mutuamente em si mesmas.

Friday, July 07, 2006

Esse cara..

Fazia horas que eu torcia pela presença do Régis nos nossos churras. Ele até compareceu em alguns na Associação, mas não é a mesma coisa. Quando tem muita gente fica todo mundo disperso, e uma das coisas mais legais no Régis são as histórias que ele conta. Na verdade, pode-se dizer que a vida desse cara é uma história, onde a cada dia surge um episódio inédito.

Aí fizemos um churras de menor impacto e o dito apareceu. Ele e suas histórias incríveis. Todas elas na manga, prontas para deter a nossa atenção e encher o ambiente de riso. Não demorou e ele desatou a contar da vez em que foi dar uma banda de bicicleta com uma namorada do Parcão até a zona sul, acompanhados de uma garrafa de Daikiri Bacardi. Ela tomou um trago e caiu tanto tombo na bicicleta que ele perdeu as contas. E assim foi.. a da boca na calcinha, a do balão, da gata Morgana.. uma melhor que a outra.

O mais interessante é que as histórias não são mirabolantes, são fatos do cotidiano, que para pessoas como ele – um pouco atrapalhadas – ganham requintes por vezes desatrosos. Mas o que mais prende, sem dúvida, é o jeito com que ele as conta. Ele pode contar 34 vezes a mesma história, e nas 34 prenderá o mais disperso fio de atenção e fará brotar risadas de todos os cantos ecoantes da boca. Segundo uma amiga que também estava na platéia do churras: “eu já ouvi muitas vezes essa história, e cada vez é diferente de ouvir..”

Por vezes me pergunto também.. como pode algumas coisas serem, na lógica, tão iguais, mas no momento, sempre diferentes, e nunca deixarem de ser boas. Melhores, aliás..

Aproveito o momento para registrar aqui, um texto desse cara. Um cara que quem conhece logo vê tratar-se de uma pessoa ímpar. Não apenas por essas histórias, mas por fazer dos momentos simples da vida episódios divertidos, de colocar exclamação no final de todas as frases. “Ele fala com exclamação..!” Disse Alice.

Aprendiz de Palhaço

Régis

Acendem-se os refletores !
Abrem-se as cortinas !

- Respeitável público ! ! ! !

O ambiente todo é envolvido por uma música característica, inconfundível, que identifica bem e se mescla em harmonia com todo o espaço, dando ao conjunto um toque de magia e expectativa. Passam a desfilar em frente à platéia vários artistas caracterizados conforme a sua função, a sua especialidade, ao aplauso incessante do público curioso pelo espetáculo que vai iniciar !

São eles, trapezistas, malabaristas, domadores, ilusionistas, mágicos, palhaços. Por um momento imagino o que deve estar se passando no pensamento de cada um deles, na expectativa também deles de como irão se comportar os espectadores diante do show que será apresentado. Imagino e tento me transportar para o papel de cada um, tentando imaginar como me sentiria eu se estivesse tendo que interpretar cada um dos papéis dos personagens que ali estão se apresentando. Conforme vou imaginando, passo a verificar que também eu participo de um grande espetáculo. Um espetáculo em que diariamente estamos fazendo parte, e nem notamos. Um espetáculo em que participamos com várias características diferentes umas das outras, conforme a situação apresentada, fazendo em cada situação um papel diferente.

Muitas vezes sou anfitrião da apresentação, com todas as pompas e regalias pertinentes à mesma, tendo a honra de recepcionar os meus convidados com toda a atenção que merecem. Sou o dono de um universo diminuto, mas soberano sobre as atividades executadas, sendo o responsável pela harmonia e bem estar em que estão envolvidas as pessoas que foram convidadas à participar da cerimônia. Sou o soberano de um feudo imaginário onde estão presentes ao meu redor pessoas que me são muito importantes, e por isso merecem a minha maior atenção e minha sincera admiração.

Em outras vezes sou o domador, enfrentando um leão à cada dia, tendo sempre como desafio a certeza, a desvantagem da minha fragilidade e a confiança em mim mesmo.
Sou sabedor que a batalha é diária e constante, que não poderá ser deixada para mais tarde sob pena de esse tempo demorar muito a chegar, e eu estar mais velho e conseqüentemente mais fraco fisicamente quando vir a acontecer, dando muita vantagem para o inimigo. Sou sabedor de que poderei até perder a luta, mas que só saberei isso se tiver tentado ao menos uma vez. Sou sabedor de que mesmo tentando e perdendo uma vez, só poderei vencer a luta se tentar novamente.
E inteligente o suficiente para saber que se já tentei uma vez, e fui derrotado, tenho grande chance de obter a derrota novamente se tentar da mesma maneira.
...
Em outras vezes sou o alimentador de animais, que continua perseverante e dedicado nas minhas atividades, mesmo sabendo que jamais serei valorizado pelos meus serviços. E mesmo fazendo uma atividade que muitas vezes não é valorizada, e nem mesmo notada, tenho consciência que meu papel é muito importante para alguém, mesmo sabendo que essa pessoa seja a que realmente recebe os aplausos do público, como no caso do domador, quando coloca a sua cabeça na boca do animal.

Muitas vezes me apresento como malabarista, tentando equilibrar muitos problemas ao mesmo tempo, mantendo a serenidade para que consiga manter a estrutura o mais estável possível, porém sendo sabedor de que o pilar que sustenta tudo poderá romper-se num pequeno toque colocando a baixo toda uma estrutura que apresenta-se bastante sólida. Talvez, realmente o motivo a que leva a estrutura a continuar sólida é exatamente essa magia de conseguir transmitir a sensação de robustez, embora tenha sensação de fragilidade, não deixando transparecer para os que se apóiam nela.

E em algumas outras vezes me apresento como Palhaço. Isso mesmo. Palhaço! Palhaço que soa muitas vezes como ofensa, deboche, desprezo! Em muitas vezes cheguei até a usar essa característica para xingar alguém, não imaginando que com a passar do tempo, isso soaria para mim como o maior dos elogios. O Palhaço é simplesmente um artista, talvez o maior artista. Ele tem o dom de na simplicidade do seu ofício, conseguir transformar a realidade em sonho, ou talvez, o sonho em realidade, deixando aflorar apenas o lado inocente de nossas vidas, o lado criança, o lado alegre que possuímos, e que muitas vezes são afogados por todas as outras caracterizações.

Deixa aflorar o sonho que escondemos por estarmos envolvidos em uma vida agitada, corrida, de inversão de valores, de agressões e diferenças, o sonho de uma realidade que está presente dentro de nós mesmos, uma realidade que apenas ficou de lado, renegada por valores que nem mesmo nós sabemos por que modificamos. Sou um desses artistas que, tentam resgatar um pouco da simplicidade da vida, do sorriso estampado pela simples satisfação e alegria de se poder sorrir ! Do prazer de se poder dar uma boa gargalhada, mesmo que já se conheça o motivo, a história, a piada !

Pensando bem, não posso me comparar com um Palhaço, não posso ter essa pretensão, não tenho toda a bagagem necessária para assumir essa responsabilidade, sou isso sim apenas um aprendiz de Palhaço ! Alguém que tenta descobrir em cada um esse lado afogado, reprimido, deixado de lado, que tenta obter de cada um sorriso alegre, despreocupado uma risada gostosa, debochada, uma gargalhada desenfreada!
Alguém que com a ajuda dos amigos, consegue montar o seu circo sempre que tem oportunidade, e repassa velhas e conhecidas piadas e histórias, sempre bem aceitas pelo pequeno público que se apresenta, e que mesmo já conhecedor do final que se aproxima, retribui com uma participação talvez mais importante do que a participação do projeto de artista, premiando com uma risada o todo o esforço dedicado.

Devemos todos tentar ser um pouco Palhaço, um muito Palhaço, sempre que pudermos devemos distribuir alegrias, sorrisos, felicidade. Só dessa maneira seremos recompensados com o mesmo presente ofertado.
E, quando algum dia eu tiver a certeza de que consegui fazer todo mundo feliz, quando eu conseguir arrancar de cada pessoa um sorriso de satisfação, uma risada liberada, uma gargalhada despreocupada, e principalmente quando eu tiver a certeza de não fui o motivo de uma lágrima no rosto de quem quer que seja, que eu não tenha feito mais ninguém triste, neste dia eu poderei ser promovido a Palhaço.

E aí sim, quando fecharem-se as cortinas e terminar o espetáculo, quando todos retornarem para às suas residências, podem ter a certeza que é esse aprendiz de Palhaço, a pessoa mais feliz!
...
Acendem-se os refletores !
Abrem-se as cortinas !

- Respeitável público ! ! ! !


Porto Alegre, 08/12/2004

Monday, July 03, 2006

Ah o futebol..

Acho que é de senso comum que toda atividade que envolve muito dinheiro, muita política e muita fama – fama dessas de colocar o nome na história – é passível de resultados distoantes à vontade geral, ainda que de uma nação inteira.

Ilude-se quem pensa no futebol dentro das quatro linhas, camiseta suada e bola na rede. Os uniformes não servem mais para não confundir os jogadores de um time com os do outro, estilistas desenvolvem designs exuberantes e tecidos com tecnologia avançada. Foi-se o tempo das camisas surradas de malha e algodão.

Não houve cabeleira nessa Copa que não passou por algum “instituto de beleza”. Por certo os calções dos jogadores dvem ter um compartimento para guardar o lenço umedecido para não borrar a maquiagem.

Mas assim é, e duvido que mude. E eu, como a maioria dos brasileiros, continuaremos acreditando que nossos craques entrarão em campo dispostos a dar sangue pelos nossos times.

Descobri, nessa copa, que sou mais colorado que brasileiro. Bem mais. Minha euforia, vibração, nervosismo e até mesmo desespero não são comparáveis entre a seleção e o meu colorado. Sinto falta disso.. de ter essa identificação com o time que representa o nosso país. Em outras épocas era bem diferente. Dia desses peguei um táxi com um tiozinho que descre veu com detalhes a partida da final da Copa de 50 quando o Brasil perdeu para o Uruguai com mais de 170 mil no Maraca. O tio era tão desgraçado que me narrou os 3 gols da partida não deixando faltar nenhum jogador que tenha tocado na bola, seja do Uruguai ou do Brasil (Uru 2 x 1 Bra), com nome e sobrenome – ou apelido e nome.

Após o jogo o Brasil calou. Foi um silêncio que a nação só voltou a ver na morte do Getúlio. E descambou a falar do Getúlio. Mas aí é outro papo.

O fato é que o Brasil caiu no primeiro adversário à altura. É o problema de viver na ponta, com tantos craques. Nos damos ao luxo de passar 4 anos de amistosos, onde essas “estrelas” que vimos não são convocadas. Que saudade da magia do futebol.

Quatro estações...

Aos dez anos, as matérias da quarta série eram Língua Portuguesa, Matemática, Educação física, Estudos Sociais e Ciências. Numa dessas aulas de Ciências aprendemos as estações do ano. A professora sempre começava pela primavera e ia até o inverno. Primavera, verão, outono, inverno, sempre nessa ordem. E sempre com algum símbolo característico para cada estação. Os mais legais sempre foram as folhas dos plátanos para o outono e as flores para a primavera.

À medida que íamos crescendo fomos entendendo que existem muito mais características que definem uma ou outra estação. Sorvetes e picolés, praia e bronzeado, para o verão; café colonial e serra, chuva e frio, no inverno. Histórias infantis também se contextualizavam sazonalmente, como a fábula da formiga e da cigarra.

Se pensarmos nas coisas isoladamente, ainda que muito belas, talvez não durem mais do que uma estação, como o bronze do verão, ou a paisagem de folhas secas do outono. Os ciclos – compostos de vários elementos - contemplam todas as estações. As árvores, em especial as frutíferas, têm muito disso, de ciclos. Desde os processos de seiva bruta e seiva elaborada, fotossíntese, até a renovação das folhas e o amadurecimento dos frutos. E os frutos, mesmo depois de maduros e colhidos, trazem consigo novas sementes, que possivelmente darão continuidade ao ciclo, novamente passando por todas as estações.

Nenhuma árvore nasce para dar frutos apenas uma vez, numa só estação, e morrer. Uma árvore não é capim, que pode até ter um verde muito vivo, se alastrar pelos campos indiscriminadamente, mas não vive mais de uma estação, conseqüentemente não dá frutos e tampouco embeleza quando sem folhas. Uma árvore é única. Requer muito cuidado para que sempre produza bons frutos, e seja sempre forte e vistosa, em todas as estações.

Friday, June 30, 2006

62 anos e tri atualizada...

Na verdade ela beira os 63, a minha mãe. Mas antes do festão de aniversário, dia 28 de outubro, devemos ter uma bagunça generosa lá em casa daqui a um mês. Em 31 de agosto ela e meu pai comemoram nada mais, nada menos que 43 anos de casados. Cinco filhos e oito netos, é mole?

Apesar de toda essa carga.. apesar de ter passado muitos e muitos anos como dona de casa, essa super mulher é a responsável pelas minhas gargalhadas – ainda que não exteriorizadas – mais sinceras. É com ela que tenho os diálogos mais simples e mais ricos do dia a dia.

- E a França agora hein, mãe..!!? – comentei, lendo o jornal e tomando meu café com leite.
- Allé le blé!!!
- Bah!
- Esses franceses que não venham se fresquear! – dizia ela, temperando uns filés de peixe na pia da cozinha.
- Pois é.. quero só ver!
- Ainda bem que sábado vai ser light, não precisa voltar pro trabalho.

...

Sério.. fiquei pasmo! Minha mãe fala “light”.

Obs.. daqui apouco tem mais, voltem!

Wednesday, June 28, 2006

Saudade nova..

Já tive saudade de fugir, e uma vontade de ficar. Talvez fosse um fugir da saudade e ficar na vontade. Quando as confusões internas coincidem com as do mundo que nos cerca, tudo conspira para que até o ar que se respira nos fazer engasgar.

Há que se ter serenidade em meio à insanidade de querer viver e fazer tudo ao mesmo tempo para que se tenha certas percepções. Que por mais turbulentas que as coisas pareçam, a simplicidade de um parar e respirar recobra a consciência e devolve em forma de presente, o presente de tudo do melhor que já se quis.

Eu quis viver intensamente e me viciei
Um vício bom, disperso em horas, se esvai no tempo
O que eram apenas boas recordações
Passam a dar sinais de abstinência

Inicia-se logo uma busca incessante
Todo e qualquer vestígio faz valer um sacrifício
Até que se recorre ao poder de transformar
Imaginação em sensação

A lembrança de um simples beijo faz molhar a boca
Posso sentir na pele, a pele macia que me encosta quente
O perfume no pescoço, que ao suspirar arrepia
E o brilho nos olhos de cada bom dia

Os olhos correm ao relógio e meio dia já se foi, para onde não sei.
Minha saudade é nova que meu peito não dói, apenas constrói,
Entre risos e beijos, ofegantes desejos, uma vida que jamais sonhei.

Monday, June 26, 2006

Um veado quase completo..


Analisando os elementos que compunham o caféda manhã, concluí:

- Comida de veado!
- Como assim?
- Quem mais compra essas coisas, senão um veado? Peito de peru defumado light, requeijão light, leite desnatado.. Pão de centeio light!!! Pão de centeio já é coisa de bicha, imagina pão de centeio light...! Esse pão é de veado!
- Besteira tua..

Passadas algumas semanas, lá estava eu no Bourbon, comprando peito de peru defumado light e requeijão light. Se minha mãe perguntasse alguma coisa diria que nem tinha visto. Minha distração seria meu álibi. Mas o pão eu não compraria nem por decreto. Além do mais, meu pai sempre compra cacetinho. Passei então a tratar o outro pão por “Pão de veado”.. “Alcança o pão de veado..”, “Acabou o pão de veado..”, assim.

Cada comentário era rebatido com.. “Não é pão de veaaaaado..”, “Mas bem que tu come, o pão de veado..” Ou então tinha algumas atitudes associadas de forma maliciosa.. “Hum.. camisa rosa e comendo pão de veado.. não sei não..”. Agora tudo recaía sobre o pão de veado.

Um teste viria, para confirmar a condição masculina convictamente.

Fui buscar um copo d’água na cozinha. Acendi a luz e voltei ao quarto. Abaixei-me para pegar o delicado chinelo que estava ao lado da cama.

- O que houve?
- Ossos do ofício.. Kafka
- Iiiihhh..

...

- (pááááá!!!) – um golpe seco com resultado nem tanto.
- Uuuuhhhi – ecoou do quarto

...

- Já trago a água.
- Houve um assassinato na cozinha, foi isso?
- Mais ou menos..
- Muito grande?
- Não. Pequena.
- Pode falar..
- É sério,. era pequena.
- Não devia estar sozinha..
- Tava sim!
- Elas nunca andam sozinhas..
- Pois estava.

Voltei à cozinha para limpar o local do crime e para a cerimônia fúnebre e avistei um familiar. Porém não foi possível dar o mesmo destino.

- Ponto pra ti..
- Quê..?
- Não estava sozinha.
- Eu te falei..
Bebi a água e me deitei. Mas ainda tinha sede.

- O que foi?
- Vou no banheiro..
- Hum..
- Que isso? Quer mais água?
- É..

...

- Ó!
- Obrigado!
- Na verdade fiquei com medo de voltar à cozinha..
- Hahahahahahaha! Da próxima vez me chama que eu mato!
- Hahahahahahaha, daí sim: um veado completo!!! Hahahahahahahha
- Hahahahahhahahahhahaha
- Hahahahhahahahahahha..
- Hahahahahhahaha

Friday, June 23, 2006

A melhor.. ou a limpa..?

Descobri um dos segredos da humanidade! O do porquê das pessoas relaxarem na aparência. Tem gente que é vaidoso por natureza. Se veste bem em qualquer ocasião, tá sempre reparando no próprio visual. Mas acredito que a grande maioria capriche na produção apenas quando está sozinha. Para um simples encontro com os amigos num bar, escolhe-se uma camisa impecável, uma calça que combine, o melhor sapato e aquele perfume infalível. Num final de semana na praia leva-se chinelo apenas por necessidade. É capaz de recorrer às compras na sexta à noite, em busca de uma bermuda ou um biqíni novo. Já vi gente levando gel para acampamento no meio do mato, pode?

Pode! Quando se está sozinho é preciso estar bonito até pra buscar o pão pro café da manhã. Nada de pantufas e pijama. Descobri isso numa fila de banheiro. Lembro das histórias inusitadas na fila do extinto Elo ou do Cabaret Voltaire. Daria pra escrever um livro.. Filosofias de uma fila de banheiro. Pois numa dessas estava eu - devidamente apertado – aguardando, quieto, a minha vez. Observei o primeiro da fila – um gordinho.

Certo que ele.. ou estava acompanhado ou não estava nem aí para as gurias. Uma camisa xadrez vermelha tipo toalha de cantina, uma calça social cinza-escuro e um relógio de pulseira amarela. Ele não podia ter se vestido assim pensando em despertar interesse em alguma mulher. Ou ele já tinha a dele ou ia ficar sozinho. De repente ele até tivesse tomado banho, só a roupa que era feia.

Aí é que está..! Será que não agimos assim quando estamos já há algum tempo com alguém? Não digo de colocar uma roupa feia, porque embora não se faça mais aquela produção de impacto, pelo menos o bom senso adverte no caso de camisa xadrez vermelha com calça chumbo e relógio amarelo. O que pode ocorrer é preocuparmo-nos mais em colocar uma roupa limpa e confortável do que vestir-se bem.

Desenvolvi essa teoria toda no intervalo de uma ida ao banheiro. Mesmo apertado falei isso pra guria que estava na minha frente, analisando o gordinho. Ao final ela concordou comigo, disse que era bem por aí mesmo, dando uma olhadela naquela camisa xadrez. Depois, virou-se pro meu lado, olhou as minhas roupas e lascou:

- E tu, vestiu a melhor roupa.. ou a limpa?

Após um rápido exercício mental, tive que responder..

- Pior que só passei em casa e passei a mão no que estava limpo.

O banheiro desocupou e ela entrou, levantantando as sobrancelhas e mostrando as palmas das mãos. Fiquei ali, apertado, pensando na minha teoria e estudando uma forma de rever meu vestuário. Hoje vou pra noite com minha camisa nova..

Wednesday, June 21, 2006

Brincando na chuva..

Meu pai fica louco se saio de casa sem guarda-chuva quando está chovendo. “Olha o guarda-chuva!” – alerta ele enquanto tomo café. Sempre foi assim. E eu sempre tento dar um jeito de sair de fininho quando ele se distrai. Parece coisa de criança até.

Aliás, devo ter um que de criança que não me abandona. Por um lado dá um medo de, de repente, ter crescido e a mente não ter acompanhado. Mas por outro uma imensa alegria de ver graça em tudo. Mesmo quando me mantenho sério muitas vezes estou gargalhando por dentro. Digo isso por uma frase que ouvi dia desses: “Às vezes te vejo como uma criança.”

Na hora aquilo me soou estranho, quis saber o que, em mim, fazia passar essa imagem. Depois de um pouco de conversa, e de ver que não era uma crítica de uma imagem ruim, eu mesmo percebi muitos momentos dessa parcela criança.

Um deles, que me foi lembrado, foi o de apertar o botãozinho da sinaleira pra atravessar a rua. Um dia me disseram que dava choque, aquele botãozinho. E até hoje dá um friozinho cada vez que me aproximo da caixinha preta que o envolve. E talvez isso tudo se manifeste em trejeitos que fazem eu ter essa imagem.

E o que é ser criança? Não mais é que a faixa de idade em que temos um pouco mais de liberdade de expressão. Podemos brincar ajoelhados ou mesmo debruçados com carrinhos réplicas de Ferraris; encher o tanque de água simulando uma lagoa, podemos criar diálogos falando sozinhos, enfim, uma série de coisas que, se fizéssemos hoje, seríamos chamados de loucos.

À criança se dá essa liberdade, e até se criam escudos que defendem esses atos. Aquelas rodelas de couro costuradas nos joelhos das calças de abrigo pra poder se ajoelhar à vontade sem rasgar a roupa. Lembram? Parece ridículo hoje, não? Mais ridículo é imaginar um adulto brincando ajoelhado e criando diálogos imaginários com bonequinhos no meio da sala.

Então, já que minhas calças não podem ter as rodelas de couro nos joelhos, tampouco posso brincar ajoelhado ou criar diálogos com meus bonequinhos, recheio minha vida e, conseqüentemente, a de quem está ao meu redor com elementos que remetem à infância. Algum gesto, palavras, uma pronúncia errada propositalmente, lembrança dos brinquedos e das brincadeiras da época.. tudo para buscar e provocar o riso na sua forma mais pura e limpa.

Um riso puro e limpo. Feliz de quem não tem vergonha de mostrar sua parcela criança e assim o conserva. Muito melhor do que ter saudade de bons momentos é ter a consciência desses momentos e vivê-los intensamente, ainda que com jeito de criança. É o que torna cada instante eterno. Um durante sem gosto de acabar. Um agora com perfume de ontem e desejo de amanhã.. um enquanto um tanto quanto sem fim.

Monday, June 19, 2006

Ainda sobre vulcões...

Fragmentos do texto que escrevi no dia 17 de janeiro, sobre vulcões..

Que amantes incondicionais são como vulcões: podem passar um bom tempo na calmaria, totalmente pacíficos. Porém, por baixo de uma espessa crosta, extremamente dura de rocha que é, escondem uma paixão que, quando em erupção, nada mede sua temperatura. Derretem as mais sólidas camadas magmáticas que os encrostam.

O fogo é que atrai homens e mulheres, é comum e fundamental aos amantes.

Não precisava mais de pedras, e sim de abalos sísmicos.


Hoje, cinco meses depois, digo que, há muito, um forte tremor fez me descobrir vulcão. Depois, abalos menores não foram capazes de causar impacto sequer parecido. Assim, por anos e anos sem registros sísmicos relevantes como o de outrora, a camada de crosta tornou-se cada vez maior e mais difícil de ser quebrada.

Cheguei a acreditar que jamais sentiria o sangue como lava quente percorrendo as veias sedentas de calor. Passaria o resto dos dias como montanha que tinha sim um calor incontrolável guardado, e que assim ficaria. Contentaria-me com lembranças saudosas e intempéries efêmeras que não provariam desse calor.

Como pode o homem ser tão descrente e despretensioso? Talvez medo de sofrer, de se frustrar, de sentir que se subiu tão alto que uma queda seria fatal a qualquer sentimento futuro. Mas por razões que estão acima do entendimento veio à tona o incandescente numa fusão de lavas, antes distintas, agora únicas.

O calor supera o medo, e a maior preocupação é, não a de se frustrar, mas de não frustrar. De que um eventual sofrimento não diminui nem oculta tantos momentos de felicidade sem medida. Sintonia e desejo alimentam o fogo e mantém a chama, que por dois corpos num só, se alastra, funde vontades e sonhos, faz uma cadeia de atos que culmina em êxtase mútua.

Se as noites não podem ser maiores, são infindas até que se adormeça. E que bom que não são eventuais. São todas e são plenas.

Monday, June 12, 2006

Pra quem o cara agradece?

Quando algo nos surpreende, há uma tendência natural de nos perguntarmos: por quê!? Surpresas ruins, surpresas boas, surpresas corriqueiras e surpresas de cair o queixo. Surpresas que provocam sensações extremas, que nos fazem perder o controle, apresentam-se embaladas em papel de sonho.. mas guardam no recheio um sabor residual de algo muito real, e que se renova a cada bom dia.

Por que tudo isso? Achamos que conhecemos a nós mesmos e muito daqueles que estão ao nosso redor. Chegamos a apostar e querer que um dia seremos surpreendidos por pessoas e situações desconhecidas, quando estivermos desprevenidos. E acabamos criando defesas e barreiras, tanto para o novo quanto para o que já faz parte da nossa vida.

Acontece que, inconscientemente, as barreiras para o que ou quem conhecemos tornam-se mais frágeis, vulneráveis.. funcionam mais como advertências de não ultrapassar certos limites, e não bloqueio, como para o novo. E essas surpresas avassalam como o fogo que se alastra, e chutamos essas barreiras pra longe, nos permitindo tornar o que se achava conhecido em novo.. permitindo tornar-se novo, a cada ato, para quem era conhecido.

Desprovidos das defesas sentimos um calor incontrolável tomando conta.. buscamos à volta algo que sirva para conter, sabendo que longe já está. Nos arrastamos, já deitados de costas, numa vã tentativa de fuga. Mas as pernas já não mais respondem e não há forças para gritar. Deixamo-nos levar então, à mão do embalo dessa surpresa boa, sempre tentando entender a razão, o porquê.

Por sorte entendemos que preocupações e medos em demasia podem ocultar o sabor, sem igual, do presente. A sorte do amanhã não nos pertence. É prêmio a quem não deixa passar o hoje sem brilho. E já que não há mais tanta relevância em querer saber o porquê, apenas de viver intensamente cada segundo do presente que é hoje, nos resta então agradecer àquele que, por seus motivos, resolveu nos presentear assim: para cada dia bom, uma noite melhor; para cada bom dia doce, um boa noite enlouquecedor, e para todo antes ótimo, um agora maravilhoso..

Obrigado, JC!!!

Friday, June 09, 2006

Pobre do mosquitinho...

Essa semana recebemos um email para conhecimento e providências. O conteúdo: retirar os adesivos dos bonecos da vivo dos carros. Teria que mandar numa dessas empresas de sinalização. Eu tinha ido ali na Paquetá do Parcão comprar os kits pra assistir aos jogos do Brasil no Opinião. Quando voltei fiquei olhando o carro.. os bonecos.. e pensei: vou puxar uma pontinha do decalque...

A pontinha veio vindo, veio vindo... até que tirei todo o boneco da porta. Gostei da brincadeira e fui pro próximo. Assim fui.. até que tirei todos os adesivos do carro. Ficou muito diferente. Pois bem, precisava mandar lavar, embaixo dos adesivos tava bem limpinho, mas o resto... O problema é que ficou boa parte da cola na lataria, e vi que aquilo ia logo logo atrair sujeira.

Mandei lavar. Tive o cuidado de pedir pro cara remover a cola. Pergunta se ele tirou.. Óbvio que não. Cada vez que encostava a mão na porta grudava. Quando fui, enfim, sair com o carro, notei um pontinho escuro na porta do carona. Era um mosquitinho que grudara suas asas na cola da porta e se debatia como louco pra tentar sair dali. Percebi que tinha que ajudá-lo. Peguei a pontinha da chave e fui empurrar a asinha... ploft.. saiu um pedaço do pobre do bicho e grudou mais adiante.

Ele parou de se debater, não sei por quê. Bom, já que o bicho já era, resolvi meter a mão e, pelo menos, deixar a porta limpa, sem vestígios de mosquito suicida, ou de parte dele. “Salivei” o dedo e tentei tirar o corpo dali. Que nada... os restos do bicho foram se espalhando, se espalhando e sujando mais e mais a porta.

Desisti! Tá lá, o bicho!

Eight days a week...

Algo como o chocolate, que costuma quebrar regras. Quando longe dos olhos não perturba. Mas assim, como diante do chocolate favorito, o barulhinho da embalagem se abrindo, o aroma.. aliado à forma, textura.. temperatura, aquela que se derrete ao mais leve toque. Compulsão? Desejo? Vício? Descontrole... Eu diria prazer..

Sem nenhuma moderação quer mais, pede mais.. e estar longe dos olhos não é mais garantia de controle.. as horas passam, a noite cai.. às vezes fria, de repente quente..
Por que tão ardente? Se no calor o chocolate se derrete.. e busca novamente a boca que jamais sacia.. do prazer do sabor, de uma semana de oito dias...

Perspectiva...

Há duas semanas encasquetei com essa música do Jorge Mautner. Faz tempo que a conheço, sempre gostei. Mas agora eu queria a letra inteira, com as palavras em russo e tudo! Às vezes a ouço na Ipanema ou na FM Cultura. Então fui buscar a letra na rede mundial de computadores. Como bom seguidor de Murphy, não a encontrei. Deixei passar, procuraria outro dia. Não! Eu queria a letra agora (há duas semanas) e estava disposto a vasculhar o site que fosse para encontrá-la. Procurei, procurei, procurei.. nada! Google, Altavista.. nada! Tomei uma atitude de emergência: coloquei anúncio no nick do msn: “Alô!!! Um UPA e um BEIJO pra quem me conseguir a letra de Perspectiva do Jorge Mautner” Fiz isso depois de esgotar todas as fontes onde eu poderia procurar.

O engraçado foi ver a preocupação do pessoal, não sei se com o meu desespero ou com a recompensa. Sim, porque teve gente que até perguntou se tinha como ganhar a recompensa sem ter me conseguido a letra. Hahahhahahhaa!!! E outros.. “bah, não achei nada!”, “Não consegui achar essa música..” É óbvio! Óbvio! Eu estava há duas semanas procurando. O que leva uma pessoa a pensar que em cinco minutos acharia? E olha que não foram poucos. Mas, de qualquer forma, gostei muito do empenho do pessoal.

Depois dessas duas semanas a atitude mais drástica: eu ia comprar o cd. Azar! Como o personagem sou eu.. não tinha na Banana Records e nem na Multisom. Acabei comprando na Toca do Disco e... pirata! Ou seja, sem encarte!

Só que agora.. eu!!!! Tive o trabalho de digitar a letra todinha e publico, para todo o mundo, coim exclusividade, para todos os amantes da boa música e das boas palavras..

Perspectiva – Jorge Mautner e Nelson Jacobina

Gosto de quem gosta
Das coisas sem querer prendê-las
Gosto de quem gosta, como eu
De ficar namorando, ficar se beijando, olhando
Para as estrelas

Gosto de quem gosta
Das coisas sem querer prendê-las
Gosto de quem gosta, como eu
De ficar namorando, ficar se beijando, olhando
Para as estrelas

Assim vou caminhando
Por esta vida
Assim eu vou andando
Por esta imensa avenida
Vivendo não sei bem por quê
Sempre numa grande expectativa ahh
E avenida em russo quer dizer perspectiva
E avenida em russo quer dizer perspectiva

Sendo assim eu lhe pergunto
Se você não quer ser
A minha avenida, a minha ávida vida
A minha expectativa, a minha perspectiva
A minha expectativa, a minha perspectiva

Por exemplo
Perspectiva é avenida
Avenida Nevsky: perspectiva Nevsky
Avenida Getúlio Vargas: perspectiva Getúlio Vargas
Avenida Brasil: perspectiva Brasil
Avenida Paulista: perspectiva Paulista

É.... glasnost... transparência
E abertura é perestroika
Karandash é lápis e babushka é vovó
E camarada, ah camarada é tovarish
E paz, paz é mir mir mir

Gosto de quem gosta...

Para a rua, tambores e poetas
Ainda há palavras lindas
U R S S – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Ó tu, União Soviética, Cristo entre as nações
Para o júbilo, o planeta ainda está imaturo
É preciso arrancar alegria lá do futuro

Morrer nesta vida não é difícil
O difícil é a vida e seu ofício
E os demais todo mundo sabe
O coração tem moradia certa
Bem aqui no meio do peito

Mas é que comigo
A anatomia ficou louca
E sou todo, todo, todo, mas todo...
Coração

Tuesday, June 06, 2006

Nuvens...

Há mais ou menos 4 anos fiz um curso de fotografia. Eu acabara de me dar de Natal uma câmera reflex, sonho de muitos anos. Uma Yashica, preta, robusta, novinha em folha! Saí distribuindo meus clics indiscriminadamente, ora pelas ruas da Capital, ora pela orla de Torres. Sem nenhum conhecimento técnico, apostava na sorte pra que saísse, ao menos, alguma foto bacana.

E saíram! Em março, quando mandei revelar os filmes, tive uma surpresa muito boa: muitas das fotos eram merecedoras de moldura. Me empolguei mais ainda pra fazer o tal curso. Fiz e aprendi bastante coisa interessante. Como revelar fotos, por exemplo. Mas um outro ponto do curso que me deixou de queixo caído foram os filtros. Bah, existe filtro pra tudo que se pode imaginar.. pra dar efeito de estrelinha, pra bater foto bem de pertinho, pra dar um tom de determinada cor..

Mas o filtro mais legal de todos é o polarizador! Tu encaixa ele na frente da lente e ele polariza a luz dispersa, tirando o reflexo da água e dos vidros, e dando vida aos tons de verde das árvores e realçando o azul intenso do céu, fazendo ali contrastar o branco das nuvens que ficam como algodão no anil. Uma maravilha aos olhos..

E eu, que sempre gostei de apreciar as nuvens, especialmente quando elas permitiam à minha fértil imaginação formar coisas das mais diversas, estava fascinado! Agora o cachorro, urso, dinossauro.. tinham um toque especial. Podia perder horas apreciando as formas mais diversas e fascinantes que as nuvens de algodão tomavam.

Assim, como as chamas de uma fogueira e as ondas do mar, as nuvens encantam pelo simples fato de, mesmo sendo diferentes umas das outras, em nenhum momento perderem a graça e a beleza, e a capacidade de fazer nossa imaginação viajar. Como podem..? Nenhuma igual à outra, nenhuma sem brilho, sem a graça, todas belas, especiais, mágicas..

E pensar que são água.. e que um simples estender de braços não as alcança, há que se ir aos céus para senti-las. E não são palpáveis, apenas úmidas, completamente.. e em dias de chuva, uma delas, carregada positivamente, e outra, negativamente, se aproximam.. e do seu contato, tamanha energia é produzida que seu efeito é sentido a distâncias extremas. E seu contato não cessa.. até que precipitam mutuamente.. como se não fossem parar.. e não param. Ainda que a previsão seja de sol, nunca se sabe quando vai chover, mas quando chove..

Friday, June 02, 2006

Significados de um tchau..



Um tchau, geralmente, é a última palavra de um diálogo. É o que caracteriza o desligamento, seja ele físico ou não.. um telefonema, uma conversa no msn, um email..

Quando sentimos segurança em relação a alguém, um tchau é apenas como reticências, um segue, um continua, um até mais. Quando não, assusta. Não dá a certeza de um novo oi. Dependendo das circuntâncias que antecederam o tchau, em contrapartida àquela falta de segurança, essa incerteza assusta mesmo.

Podemos pensar que cada tchau pode ser uma despedida, ainda que já venha carregado de saudade. Um tchau ouvido como adeus pode ser a despedida mais triste quando se trata de alguém que se gosta e quer muito.

E não vai ser em palavras que um tchau vai mudar de significado. Deixar de ser despedida e se tornar até breve... Pequenas atitudes e gestos, com o passar do tempo, carregarão um tchau – antes de partida, sem garantia de retorno – de elementos que cada vez mais o deixarão com cara de até logo: o tom de saudade na entonação, a linha de um olhar, que estica sem romper, um derradeiro carinho, suave.. um último toque nas pontas dos dedos, que se seguram e.. finalmente se soltam, mas não pra se desprender.. como um último gole numa taça de um bom vinho que anseia encher novamente e ser deliciosamente degustado.

E por mais que tudo isso aconteça, o gosto bom da certeza incerta de uma despedida sempre vai deixar um próximo oi.. melhor do que todos os anteriores. Quando um tchau for o selo de algo saciado, aí sim seria de assustar. Por isso um bom tchau tem que ser, na origem, assim, tênue a um adeus, mas tão carregado de saudade que um medo bom o fará soar como um até breve...

Minhas fotos no